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sábado, 25 de janeiro de 2014

Amor pelo Brasil
                           

A literatura prejudica o econômico, interfere na família, não resolve os problemas sociais e políticos. Embora incerta para o autor, a literatura  é atividade útil como conhecimento da vida. Viver sem ela é impossível. Dá vôo à razão na leitura do mundo. Consegue o milagre de  aproximar criaturas no plano afetivo, não importando a idade, cor, crença,  lugar e distância..
Graças à literatura tenho feito  bons amigos. O último deles foi há poucos anos. É um americano, erudito, sensível, atencioso, qualidades inconfundíveis de seu caráter. Professor Emérito da Universidade de Austin, Texas, Fred Ellison  tem um amor forte  pelo Brasil. O abraço rico que vem dando há anos  ao nosso País manifesta-se  no ensino de língua e literatura brasileira nos Estados Unidos, passa pelo ensaísmo lúcido  e alcança traduções admiráveis de autores importantes de nossas letras, como  Rachel de Queiroz Helena Parente Cunha, Adonias Filho e Affonso Romano de  Sant´Anna.  Meus livros “De Cacau e Água” e “Poemas da Terra e do Rio”, inédito,  levam a marca da tradução exemplar para o inglês do caro amigo. .
”Brasilianista” dos melhores,  Fred Ellison proporciona agora em “Alfonso Reyes e o Brasil” (Editora Topbooks, Rio, 2002) estudo substancioso sobre a temporada que  o embaixador-poeta mexicano passou entre nós. O assunto encontra no americano o ensaísta maior. A pesquisa criteriosa do espírito sensível, que caminha de mãos dadas com o discernimento para erguer na  escrita agradável uma vida intelectual plena de reflexões, projeções,  esperanças e realizações  em chão brasileiro.
 Desse livro emerge todo o clima intelectual e emotivo que  o embaixador-poeta mexicano teve pelo Brasil durante os sete anos em que aqui esteve. Abordam-se   como nenhum intelectual brasileiro tentou fazer até hoje, o que não deixa de ser  omissão lamentável, as múltiplas atividades e relações  culturais que o embaixador-poeta mexicano empreendeu em prol do Brasil. Foram  anos em  que ele  se dedicou de  modo afetuoso às relações diplomáticas e à cultura brasileira, em namoro intenso,  de quem escreveu contos, poemas e ensaios tendo como ponto de referência nossas coisas e gente.
 O livro de Fred Ellison é leitura obrigatória  para quem quiser saber sobre a vida cultural do Brasil nos anos 30. Reconhecer intelectuais  do circulo de relações de Alfonso Reyes, bem como suas atuações culturais em nossas artes e letras. Cecília Meireles, Oswald de Andrade, Renato Almeida, Di Cavalcanti, Portinari, Cícero Dias, Manuel Bandeira, Ribeiro Couto e Alceu Amoroso Lima, estes foram alguns de nossos homens de letras e artes que se tornaram amigos  desse embaixador e escritor  de extração renascentista. Manuel Bandeira fala do mexicano  com afeto em “Rondó dos Cavalinhos”, no almoço de despedida  oferecido por diplomatas e entidades brasileiras  no Jóquei Club do Rio, e no outro poema  “Rondó do Palace Hotel”,  no qual  os dois últimos versos  - “Por alguém que não está presente/ No hall do Palace”, dizem respeito a Reyes, observa  o ensaísta americano. 
Fico sabendo no livro “Alfonso Reyes e o Brasil” que o diplomata  teve  ânsias de entrar em contato com os intelectuais brasileiros assim que aqui chegou. No início nossos homens de letras não foram   tocados pelos acenos do  mexicano, que nunca escondeu nas intenções e atitudes  a inquieta admiração pelos brasileiros e sua paisagem.. Momentos de amizade foram se fazendo com nitidez pouco depois, e, dos encontros que continuavam, a oportunidade era dada   ao intercâmbio de idéias, informações e juízos críticos consistentes.
                 Até hoje pouco sabia da atuação e amor desse notável  embaixador-poeta- mexicano pelo meu país. Acredito que o mesmo se deu com a minha geração nos anos 60. No livro  de Fred Ellison, através de entrevista concedida a Aurélio Buarque de Holanda, posso sentir como esse  embaixador mexicano teve no Brasil uma temporada das mais felizes de sua vida, contribuindo para isso dois elementos essenciais: o homem e a natureza. “Tudo do melhor em minha existência”, ele assinalou,  em momento de puro encantamento.. E, enamorado do Brasil cada vez mais,  tanto o elogiou que todos os mexicanos quiseram vir ao Brasil como embaixador e desse modo lhe tomaram o posto.
                    Fico sabendo ainda no ensaio de Fred Ellison que, na poesia de  “Romances  del Rio  de Enero”,  o embaixador  diz versos num “caso de amor” pelo Brasil, simbolizado pela moça que há tempo tinha desejado:


                        “Brasil,  me das a la moza
que ha tiempo he dado em querer?
Mira, que si me la niegas
enloquezco, y yo no sé.... (sic)
La espada de mys mayores
descuelgo de la pared,
y entro a tajos por el mundo
como el que se va a perder.
La pido por cortesía,
cedemela tu por ley.
No se diga que desoyes
a los que te quieren bien;
no se diga que no sabes
pagar y corresponder;
no se diga que me pierdo
por culpa de uma mujer.”

                   
                                                        :
                   



terça-feira, 21 de janeiro de 2014

          Boate Id


 ( Cyro de Mattos)


A Boate Id ficava  em um desses sobrados antigos de Salvador, na cidade alta.  Uma escada estreita terminava no terceiro andar onde funcionava a boate. Lá dentro, as mesas com quatro cadeiras distribuídas por vários cantos do salão e ao redor do círculo que servia como pequena pista de dança. À direita da entrada da boate havia um barzinho onde apenas o garçom ia buscar no balcão a bebida com  o tira-gosto pedido pelo cliente. Ao lado do barzinho, a toalete masculina e a feminina.
   À música era ao vivo. A orquestra com o pianista, baterista, saxofonista e cantor tocava no pequeno tablado, armado junto a uma das paredes laterais. Às vezes aparecia por lá um cantor famoso da música popular brasileira. Cantava sem cobrar nada porque era amigo do dono da boate ou então porque gostava de cantar naquele tipo de ambiente noturno. Não chegava a ser um show ou espetáculo demorado. Era apenas uma apresentação rápida do cantor famoso. Foi assim que tive a oportunidade de assistir cantar bem  perto Miltinho e Jamelão, dois nomes famosos da música popular brasileira à época, que se apresentaram para um público hipnotizado na boate lotada.
Ninguém podia entrar no recinto acompanhado de mulher. A Boate Id tinha as suas meninas, que assim eram conhecidas, cada uma com o seu jeito sensual para atrair a atenção do homem que acabava de chegar ao recinto, interessado por goles desse vinho vertido de gozo. Os pares conversavam sentados à mesa, misturando vozes com o prazer que dava a bebida e o cigarro.
Naquele tempo era comum a cidade de Salvador  propiciar encontro de amigos, que nem sempre tinha um local marcado. A cidade ainda era pequena, mesmo se tratando de uma das capitais mais importantes do Nordeste. Sua população talvez tivesse uns seiscentos mil habitantes. A capital baiana conservava muita coisa de cidade de interior. Em alguns locais como a Rua Chile  a cidade toda passava durante a semana. 
A noite oferecia a oportunidade de extrair o tédio ou a angústia, que à época se chamava de fossa, escondida atrás de uma fachada aparentemente brilhante, mas em situação crítica sob qualquer aspecto íntimo. Por tudo isso, e porque tinha gente que sobrevivia vendendo acarajé, abará,  mingau e churrasquinho de carne no espeto, na rua onde estava localizada a Boate Id, como em outros pontos semelhantes da cidade alta,  a noite da capital baiana era considerada como uma das coisas generosas da vida.  Para os que circulavam na boêmia, podia significar um desabafo no encontro fugaz do amor com uma das meninas da Boate Id. Reciclava-se dessa maneira,  no ímpeto máximo do  prazer, a energia que o corpo necessitava para no outro dia seguir nos caminhos da vida.                           
          As meninas que trabalhavam na Boate Id tinham origens pobres, sem preparo e proteção familiar. Levavam a vida nada fácil de mulheres que vendiam o corpo na cama para sobreviverem. Ainda não sabiam esse lado do mundo que de uns anos para cá passou a matar a vida com tóxicos e drogas, sem deixar rastros. Era na bebida que as meninas afogavam as mágoas, tentavam  enganar e aliviar os ferimentos causados pela dura realidade que levavam.
Trabalhavam de terça-feira a sábado, das 22 às 3 da madrugada, o domingo era para o descanso e o lazer. Reservavam a segunda-feira para fazer compras com o namorado. Quando estavam na boate, usavam saia curta, seios salientes de propósito quase saindo do decote. A maquiagem constava de cabelos brilhantes, rosto levemente de ruge, lábios pintados de preferência com batom vermelho. Pulseira no braço, anel  com a pedra de brilhante simulada, bolsa a tiracolo quando no fim da noite, o trabalho encerrado, iam jantar em algum restaurante da Ajuda. O preferido dos restaurantes era o Cacique, que ficava na vizinhança do Cine Guarani e do Tabaris, um famoso cabaré  que atraía as prostitutas em fim de noite, marginais do luxo e da ociosidade, comerciários, estudantes, jornalistas,  músicos e cantores. Camada de gente que se encontrava naquele ambiente procurado  porque achava que a vida noturna da cidade  tinha um prazer especial escorrendo por ladeiras e becos.
Na Boate Id era reprovado o gesto de algum homem que saísse do limite e ousasse chamar uma das meninas de puta. Por sua inconveniência, calcada em ressentimentos pessoais ou paixão compulsiva, era colocado para fora do recinto pelo segurança quando insistia.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Luiza Lobo Conquista o Prêmio
Para Romance do Pen Clube do Brasil


Com Terras Proibidas – A saga do café no Vale do Paraíba do Sul, da editora Rocco, a escritora e professora de Letras da UFRJ Luiza Lobo conquistou o Prêmio Pen Clube do Brasil para romances publicados em 2014. O romance é um mergulho na trajetória de ascensão, apogeu e decadência das grandes fazendas do ciclo no café no Vale do Paraíba.
O  século XIX no Brasil foi o século do café.  Foi ele que deu origem a poderosos clãs estabelecidos no interior fluminense, na região conhecida como Vale do Paraíba do Sul. Mas, em meio ao poderio cafeeiro, fortemente dependente da mão de obra escrava, sopravam os ventos da modernidade, da onda abolicionista, da morte do Império e do nascimento da República.
O romance conta a saga da família de Francisco José Teixeira Leite, o barão de Vassouras. Empreendedor nato, ele construiu um império cafeeiro e um clã poderoso e influente, auxiliando no crescimento das cidades do Vale do Paraíba, particularmente Vassouras, e adquirindo grande importância política.  No entanto, sua família estava fadada a sofrer com tragédias e mortes.  Ele testemunha todas elas.  Seria a maldição lançada por Manoel Congo, escravo que lidera uma rebelião nas fazendas de café da região, mas é capturado e condenado à morte? - perguntam-se os moradores da Fazenda Cachoeira Grande, onde viveu o poderoso barão.
Ancorada em extensa pesquisa histórica, Luiza Lobo usa a família do Vale do Paraíba do Sul – também conhecido como Terras Proibidas, região a qual ninguém podia ter acesso para que fosse impedido o contrabando de ouro encontrado em Minas Gerais – para ilustrar as intensas mudanças pelas quais o Brasil passou na segunda metade do século XIX. Não apenas mudanças políticas e econômicas, mas também, e talvez impulsionadas por elas, mudanças de comportamento, como o namoro da sobrinha do barão com um então abolicionista chamado Joaquim Nabuco, motivo de alvoroço na família. 
           Paralelamente ao cenário social, político e econômico, Francisco José Teixeira Leite passa a enfrentar um longo martírio pessoal: perde a primeira mulher, a prima Maria, devido a um mal súbito; casa-se em seguida com outra prima, a jovem e voluntariosa Ana, que lhe tira a paz em todos os momentos com seus caprichos; amarga dissabores com os problemas mentais de um dos filhos; perde a outra filha, Ambrósia, em pouco tempo; e o destino de Eliza, sua neta, também só lhe trará dor.
           Terras proibidas narra a saga do impávido barão de Vassouras, um homem que atravessou o século cada vez mais só e isolado até uma época que já não teria lugar mais para ele, e retrata assim uma parte importante da história do país.

A AUTORA
Luiza Lobo é professora de literatura comparada e teoria literária na pós-graduação da Faculdade de Letras da UFRJ e pesquisadora associada da Universidade de Poitiers, na França. Tem doutorado em literatura comparada pela Universidade da Carolina do Sul (EUA) e duas pós-graduações, em Nova York e em Berlim. Escreveu livros acadêmicos e de contos. Publicou mais de 100 ensaios em revistas, livros e enciclopédias no Brasil, na Inglaterra, na Itália, em Portugal e nos EUA. Traduziu mais de 30 obras, assinadas por autores como Jane Austen, Virginia Woolf e Edgar Allan Poe. Proferiu palestras nas universidades de Londres, Oxford, Yale, Harvard e Columbia, entre tantas outras. Em 2000,  a Rocco publicou seu quinto livro de contos, Estranha aparição.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

“Um Grapiúna em Frankfurt



Meu Novo Livro: “Um  Grapiúna
em Frankfurt e Outras Crônicas”

Com capa do desenhista baiano Sante Scaldaferri, prefácio do poeta paulista Álvaro Alves de Faria, a Editora Dobra Literatura (SP) publicou em dezembro último  o meu novo livro:  “Um Grapiúna em Frankfurt e Outras Crônicas”. Este foi o oitavo livro que publiquei em 2013, dessa vez reunindo 50 crônicas, umas inéditas e outras publicadas semanalmente no “Diário Bahia”.  A edição contou com o apoio cultural da LIDI, Laboratório de Análises Clínicas de Itabuna.
No prefácio, o poeta Álvaro Alves de Faria comenta:  “o poeta deixou que passasse à sua frente esse tempo que ainda vive no que guarda da sua criação da Beleza, buscando lá atrás as cenas que ainda existem, porque fazem a história de cada dia. Por isso tudo, este livro é obra rara no vale de lágrimas destes tempos brasileiros que só invertem os  valores e isso inclui também a literatura, que deveria ser a identidade de um povo”.
Com 75 anos de idade,  continuo no destino de ser escritor, é o que gosto de fazer, bem ou mal. A estréia foi em 1966 com “Berro de Fogo”, contos, livro que risquei de minha bibliografia, espero que nunca encontrem para ler. Neste ano de 214, publicarei  mais seis livros: os infantis  “Existe  Bicho  Bobo?” (Editora  Biruta, SP),  “Poesia de Calça Curta” (Editora Solisluna, Salvador)  “Olhe  Nós Aqui” (Editora Dimensão, BH), “Minha Feira Tudo Tem Como Onda Vai Vem” (Ler Editora, Brasília), o romance juvenil “Nada Era Melhor” (Biruta) e o romance para adultos “Os Ventos Gemedores” (Editora Letra Selvagem, SP). Além disso, a Editora da Universidade do Estado da Bahia  publicará a segunda edição de “Cancioneiro do Cacau”, na Coleção Nordestina, livro que me rendeu quatro expressivos prêmios literários, três no Brasil e um no exterior.
Crônica do Circo

                                (Cyro de Mattos)



Desde que conheceu o circo pela primeira vez,  ficou  encantada com os números divertidos e arrojados. Além de  Margarida,  uma chimpanzé dócil, inteligente  e brincalhona, as atrações que mais lhe chamaram a atenção foram os trapezistas, o globo da morte, palhaços (que as crianças adoraram) e os dois times de cão Paulistinha, Corintians e Palmeiras. À noite,  antes de pegar no sono, conferiu na imaginação todas as atrações e prometeu que um dia ia ser trapezista.
O circo ficou na cidade seis semanas. A casa sempre cheia. Quando o circo foi embora, ela fugiu com um dos trapezistas. Tinha pouco mais de 15 anos de idade, ele aparentava 25. Estava comprando pipoca com o irmão mais velho na entrada do circo, antes de retornar para a casa.  O trapezista aproximou-se do carro de pipoca e perguntou se ela e o irmão tinham gostado do circo. Ficou confusa quando viu o trapezista. Gaguejou, dizendo que tinha gostado muito. O que mais lhe impressionou foi o número dos trapezistas. Olhou com interesse para ele, aquele rapaz louro, olhos azuis e rosto sanguíneo.  Eles se apaixonaram ali mesmo quando seus olhos se cruzaram. 
A mãe dela desmaiou quando encontrou a cama da filha vazia no mesmo dia em que o circo foi embora.  O trapezista casou com ela, como havia prometido. De início, começou a trabalhar no circo como contorcionista. Só depois de um ano, três meses treinando com  exaustão, todos os dias, é que ela passou para o trapézio. Com o tempo tornou-se uma trapezista sensacional, que arrancava  suspiros da platéia. Quando terminava seu número com o marido e o cunhado, o circo quase vinha abaixo com os assovios, gritos e aplausos  demorados.
         Depois de casada passou a ser chamada de Baiana  pelo pessoal do circo. De mês a mês,   ficava sabendo como era a vida no circo. Tinha o lado bom e o ruim. Com certeza, o lado bom era bem melhor do que o ruim. Para o artista,  o bom era a expectativa da estreia, o povo aplaudindo. Ver uma criança aplaudindo não tinha preço.
        O lado ruim era viver na estrada sempre como nômade, sem ter tempo de criar vínculos de amizade. Ainda assim reconhecia que deixava muita gente saudosa por onde passava com o marido e os outros artistas. Outro ponto positivo daquela vida nômade era conhecer o Brasil com suas diferenças  e encantos. Em algumas regiões o frio era intenso, em outras o sol brilhava o ano inteiro. Havia gente de todos os tipos.     
       Outro fator negativo, nessa vida nômade, era a educação das crianças. “Toda criança tem como base a escola. Hoje tem uma lei que ampara a criança de circo para matrícula em colégios do ensino público”, disse para o repórter que a estava entrevistando. “Mas, infelizmente, existe deficiência no ensino público, por isso nós procuramos matricular em colégios particulares.  Há uma dificuldade muito grande para o filho de artista circense se adaptar ao ritmo do colégio”, observou.   
         Ela tentou viver na cidade, teve dificuldade no relacionamento com outras pessoas que não fossem do ambiente circense. Também não conseguiu viver  na cidade porque se acostumou a morar em trailer. A rotina na cidade era  bem diferente. O trailer tinha  tudo que uma casa normal possui, geladeira, tevê, fogão, mas  num espaço super-reduzido.
            Sentira  a dificuldade  em alfabetizar o filho.  Quem  a ajudou a solucionar esse problema da alfabetização do filho foi sua mãe,  que morava no interior de São Paulo. O filho voltaria depois  para o circo,  para ser artista como ela tinha sido, se assim ele quisesse.   Além de artista, esforçava-se para manter a ordem na agenda de dona casa. Tinha que  se virar. Cuidar do marido, do filho quando vinha passar as férias com os pais, do almoço e estar pronta na hora do espetáculo.
         - Tudo aqui é muito compacto, mas não troco o circo  pela cidade de jeito nenhum, pois não me acostumaria – ela disse ao repórter no final da entrevista.