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terça-feira, 27 de maio de 2014

Jornal UESC


Livro Premiado “Os Brabos” Ganha Segunda Edição Por Editora de Brasília

O livro Os brabos, narrativas, de Cyro de Mattos, vencedor por unanimidade  do Prêmio Nacional Afonso Arinos, da Academia Brasileira de Letras, em 1978,  foi publicado  em segunda edição pela Ler Editora de Brasília. Essa edição traz ilustrações de Calasans Neto, artigo de Jorge Amado - “Marca de Um Narrador Dramático” – nas “orelhas, prefácio da crítica baiana Gerana Damulakis e, na contracapa, breve missiva do poeta Carlos Drummond de Andrade.

Ao comentar o livro em artigo divulgado no  “Jornal de Letras”, do Rio, em 1980, Jorge Amado destaca a personalidade vigorosa e original do escritor  Cyro de Mattos, “ autor  que pisa chão verdadeiro, toca a carne e o sangue dos homens, entre sombras e abismos.”  O poeta Carlos Drummond de Andrade, em breve missiva dirigida ao escritor baiano (de Itabuna), em 1981, observa que “essas histórias ficam na lembrança da gente“, seu autor  “põe  muito sentimento dramático da vida e muita vivência brasileira... “   

A comissão julgadora que concedeu o Prêmio Afonso Arinos a Os brabos foi constituída de Alceu Amoroso Lima (relator), Afonso Arinos de Melo Franco, José Cândido de Carvalho, Adonias Filho, Bernardo Elis e Herberto Sales. Ressalte-se que “Ladainha nas Pedras”, uma das narrativas do livro, está inclusa  na antologia “Visões da América Latina”, organizada pelos professores universitários Uffe Harder e Peter Poulsen, publicada pela Editora Vindrose, de Copenhague. Nessa antologia do conto na América Latina participam, entre outros, Juan Rulfo, Mario Vargas Llosa, Alejo Carpentier, Jorge Luís Borges, Augusto Roa Bastos, Artur Uslar-Pietri, Miguel Angel Asturias, José Donoso, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade e Mário de Andrade.         




terça-feira, 20 de maio de 2014



Revista da Academia de Letras
 da Bahia Chega à 52ª. Edição




A Academia de Letras da Bahia realizou, no dia oito de maio, o lançamento do 52º número da sua Revista Anual de Literatura, Artes e Ideias.  No evento, que contou com a presença do secretário de Cultura Albino Rubim, representando o governador do estado, o presidente da Academia  de Letras da Bahia,  escritor Aramis Ribeiro Costa, destacou a longevidade dessa publicação cujo primeiro número foi editado em 1930, treze anos após a fundação da própria Academia, quando era então presidente o historiador Braz do Amaral. Hoje, lembra Aramis, o primeiro número da revista é considerado uma raridade para a própria ALB, e a coleção completa vale uma pequena fortuna.

Num estado que já contou com revistas literárias de grande importância, como Mapa, Ângulos, Revista da Bahia, Caderno da Bahia, Exu e Iararana, entre outras, a revista da ALB consegue o feito inédito de chegar à sua quinquagésima segunda edição com a perspectiva de continuidade, tornando-se o único espaço editorial impresso, na Bahia, em que ficcionistas, poetas e ensaístas ainda podem publicar seus trabalhos. Nos últimos anos o desaparecimento das publicações deste gênero e dos suplementos literários dos jornais deixou uma enorme lacuna que a Academia, pelo menos em parte, busca preencher.
Aramis destacou o apoio do governo do estado, através da Secretaria da Cultura, e a excelência do corpo editorial da revista, composto pelos acadêmicos Florisvaldo Mattos (direção), Aleilton Fonseca (produção editorial) e Luis Antonio Cajazeira Ramos (revisão e normalização), bem como do conselho editorial composto por Fernando da Rocha Peres, Myriam Fraga e Ruy Espinheira Filho.
Foi também ressaltada a excelente qualidade dos trabalhos (artigos, ensaios, contos, poemas e discursos) publicados neste número que conta com os seguintes colaboradores: Aramis Ribeiro Costa, Evelina Hoisel, Waldir Freitas Oliveira, Ordep Serra, Gloria Kaiser, Urania Tourinho Peres, Paulo Costa Lima, Paulo Ormindo de Azevedo, Carlos Ribeiro, Gerana Damulakis, Florisvaldo Mattos, Paulo Fábio Dantas Neto, João Eurico Matta, Joaci Góes, Edivaldo M. Boaventura, João Carlos Teixeira Gomes, Ruy Espinheira Filho, Clóvis Lima, Dominique Stoenesco, Jean-Albert Guénégan, Jean-Claude Tardif, Olivier Cousin, Hélio Pólvora, Rinaldo de Fernandes, Cyro de Mattos, Carlos Barbosa, Gláucia Lemos, Luiz Antonio Cajazeira Ramos, Mãe Stella de Oxossi, Consuelo Pondé de Sena, Moniz Bandeira, Ubiratan Castro, Geraldo Machado e Aleilton Fonseca.

sexta-feira, 16 de maio de 2014



Fátima

   
                                             Para Naumin Aizen

Fui a Portugal pela primeira vez em 1997 para participar como convidado  do Terceiro Encontro Internacional de Poetas organizado pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.  No saguão do aeroporto de Lisboa vi o meu nome na tabuleta erguida pelo homem. Era o motorista que ia me conduzir até Coimbra. Ele me disse que dois poetis tinham chegado meia hora antes de mim. Estavam na camionete, aguardando-me.
Soube depois com o meu inglês sofrível que o poeta americano era Próspero Saiz, aparentava uns 45 anos de idade, falava muito e ligeiro. A pele do rosto e os cabelos compridos  mostravam sinais de suas raízes indígenas. A mulher de cabelos grisalhos e com uma voz rouca era  Diana Belessi, poetisa da Argentina.
A certa altura da  viagem para Coimbra, o motorista da Kombi perguntou se não queríamos conhecer Fátima. Não  hesitamos em fazer aquela parada para conhecer o lugar onde a Virgem Maria apareceu aos três pastorinhos no dia 13 de maio. Surpreendi-me no Santuário com o tamanho grande do local para abrigar os peregrinos a céu aberto, no dia de louvor à Virgem santa.  E não foi difícil imaginar vozes que subiam ao céu naquele dia especial e entoavam o cântico que falava da aparição da Senhora santa. A procissão com velas acesas por centenas de fiéis, que vinham de países perto de Portugal e de outros pontos longínquos.
Houve uma história de luz ali na cova da Iria. Começava com o anjo que veio por virginal caminho de margaridas e anunciou aos três pastorinhos  a aparição da Virgem Maria breve. Ela vinha ensinar aos meninos Lúcia, Francisco e Jacinta orações e sacrifícios pelos pecadores. Vinha trazer o amor  de um sol sem crepúsculo para  iluminar a humanidade. Houve quem não acreditasse  na Virgem Maria Aparecida porque não acreditava em Deus, tudo aquilo não passava de maluquice dos meninos, dizia-se.
Depois de algumas aparições da Virgem Maria, os meninos Francisco, Lucia e Jacinta foram seqüestrados por um prefeito. Se não contassem o segredo confiado por Nossa Senhora, iam ser jogados num caldeirão de água quente, ele ameaçou. Não revelaram o segredo na prisão. Penduraram uma medalha de Nossa Senhora na parede e rezaram. Comoveram os presos, que também rezaram. Foram recebidos como heróis quando retornaram para suas casas.
Naquelas aparições de Nossa Senhora houve um grande dia. Uma multidão de setenta mil pessoas acompanhou os pastorinhos, rumo mais uma vez à Cova da Iria onde costumavam  brincar e rezar. A Vigem Maria apareceu e disse que era Nossa Senhora do Rosário, a  mãe de Deus. Os meninos pediram que ela fizesse um milagre. E de repente todos viram  o sol virar uma bola de fogo e dançar  no céu. Enquanto todos viam a bola de fogo, os três pastorinhos puderam ver a Sagrada Família: São José, Nossa Senhora e o Menino Jesus. E também viram aparecendo nas nuvens Nossa Senhora das Dores. E Jesus com a cruz. Abençoavam a multidão.
Certa vez achei uma imagem de Nossa Senhora de Fátima deixada na casa que eu tinha alugado a um médico. Pertencia à mulher dele, que por sinal era portuguesa. Ela estava se separando do marido, tinha poucos anos de casada com o  médico. Como ela não quis mais a imagem da santa, entreguei à minha esposa Mariza para que a colocasse no oratório.
De vez em quando rogo a  Nossa Senhora de Fátima que me ensine a escrever crônicas inspiradas no amor pela vida para que possa enriquecer os outros com uma prosa generosa. Talvez como esta que está terminando, mas sem deixar o cronista de revelar antes um fato que considera importante em sua trajetória dedicada à poesia. Poucos meses depois que levei a imagem de Nossa Senhora de Fátima para meu apartamento, chegou uma correspondência pelo correio, na qual a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra convidava-me para participar do Terceiro Encontro Internacional de Poetas. Tinha grande vontade de conhecer Portugal, mas nunca me passou pela cabeça que isso fosse acontecer um dia pelas mãos de Nossa Senhora de Fátima.

segunda-feira, 12 de maio de 2014



Mãe Otaciana
          
         Um dia  ouvi minha avó Ana dizer que uma mãe é para cem filhos e cem filhos não são para uma mãe. A avó faladeira queria dizer  que o amor de mãe é tão grande que não tem tamanho. Minha avó teve nove filhos, três homens e seis mulheres, ainda criou um neto. Gostava de falar com a sabedoria que anônima é recolhida das águas do tempo. Muita coisa que ouvia minha avó falar só passei a compreender  depois que me tornei um homem.
         Se minha avó estivesse viva, eu ia perguntar-lhe de que tamanho é o amor de uma mãe que teve mais de cem filhos, um número incalculável de netos e bisnetos. Você sabia que houve nesta vida essa mãe com tantos netos e bisnetos? Escute, vou lhe contar um pouco sobre a vida dessa criatura, que a cidade nunca vai esquecer.
         Otaciana Eráclia Ferreira Pinto pôs os pés cedo na estrada deste mundo criado por Deus. Foi em Itabuna, cidade no sul da Bahia, outrora de ricas plantações de cacau, que ela passou toda a sua vida. Vida bem vivida, como gostava de dizer aquela criatura baixinha, enrugadinha, incansável, de bons préstimos, estimada por gente rica e pobre.
         Ela chegou à cidade  no tempo em que o trem era uma coisa viva, trazia de ilhéus peixe do mar, coco,  cordas de caju e caranguejo. A cidade tinha poucas ruas calçadas, chovia muito, fazia lama em muitos trechos da rua do comércio. A iluminação era precária, a companhia desligava o motor da energia elétrica antes de meia-noite. Na cidade em que se fixou até os últimos dias, a professora nascida em Arraial do Galeão ia seguir uma vocação diferente: a de “pegar” menino, numa época em que parto na maternidade não era freqüente.
         Pelas mãos de mãe Otaciana nasceram homens e mulheres que construíram o progresso da cidade. Deus anunciou muitas vezes o milagre da vida pelas mãos pacientes daquela criatura que tinha os olhos pequenos. Mostrou essa flor que, no desenlace feliz, dava um susto esplêndido. A criança era banhada a seguir, enxugada e levada para o calor do seio.
         Um dia, com aqueles olhinhos vivos, que pareciam sorridentes quando falava, ela me contou como aconteceu o primeiro parto que fez. Fora chamada à noite, o tempo estava escuro e chuvoso. Quase uma adolescente, coração confiante, chegava à casa da parturiente, que passava mal.
         Transcorridos aqueles minutos primeiros, sempre lentos, de apreensão para os de casa, escutou-se, enfim, o choro da criança dentro da noite fechada de chuva. O pai limpou com a manga da camisa a turvação que ardia nos olhos. E observou contente: “Foi esse calanguinho aí que deixou todo mundo aflito!” O coração adolescente de mãe Oatciana surpreendeu-se com tanta felicidade de uma família humilde. A professora sertaneja soube então que não ia mais ensinar a partir daquele momento enquanto  vivesse. Suas mãos generosas iam cuidar dali para frente só de “pegar” menino.
Mãe Otaciana nunca foi política, mas se elegeu duas vezes como vereadora pelo extinto Partido Social Democrático. Nunca fez campanha, nunca compareceu a comício. Quando sabia, já estava eleita com uma grande votação. Da última vez que a encontrei, ela tinha acabado de sair de casa. Estava abrigada numa sombrinha estampada por causa do sol quente. Tomei a bênção e lhe perguntei se começaria tudo de novo em seu trabalho de parteira. Ela, sem hesitar, respondeu que sim, a voz baixinha, quase não se ouvindo. Adiantou que era muita apegada a Deus. Nunca teve problema no seu ofício de “pegar” menino. Sempre que um parto era difícil recorria a um médico, que lhe dava uma ajuda, isso a fazia feliz. Encerrou a conversa  com uma observação que, em sua verdade cristalina, muita gente conhecia: “Na  vida trabalhei muito, meu filho. Perdi a conta de quantos meninos aparei.”
         Ela era uma criatura forte, embora aparentasse fragilidade. Comovia a própria vida com seu espírito de abnegação e renúncia quando se tratava de fazer um parto. Só consigo lembrá-la nessa hora com a cabeça alva, mas lúcida, rumo à casa da parturiente. Encurvada, os olhinhos sorridentes, convivendo com luas. Bem sabiam desses passos miúdos, que lhe tinham dado na existência tantas estações carregadas de frutos.
Assim vejo mãe Otaciana,  afeiçoada ao mistério da vida na surpresa de ser, dizendo à  mãe da criança que tinha sido um menino. O pai alegre com a chegada do filho à casa que se cobriu de incerteza durante a noite quente do verão. Com a madrugada que chegava nas cores suaves, vejo também a criança, dormindo no seio da mãe o sono mais belo.

sábado, 10 de maio de 2014



IV FECIBA homenageará Olney São Paulo e exibirá dois de seus filmes

O cineasta baiano Olney São Paulo será um dos grandes homenageados pelo IV FECIBA – Festival de Cinema Baiano, que acontecerá no Cine Santa Clara, em Ilhéus, de 1º a 7 de junho. Obras cinematográficas dirigidas ou inspiradas por ele serão exibidas neste evento que é a vitrine do cinema produzido na Bahia.
Este ano, o IV FECIBA tem como tema “A revolução vem do interior”, “é impossível não lembrar este sertanejo nascido em Riachão do Jacuípe, distrito de Feira de Santana, e um cineasta latente na provocação artística de um imaginário com discursos de preservação do patrimônio cultural brasileiro”, afirmou Cristiane Santana, coordenadora geral do IV FECIBA.
Dois filmes de Olney São Paulo serão exibidos no IV FECIBA, ambos na Mostra Retrospectiva: “O Grito da Terra” (1964) será projetado às 15h30 de 6 de junho, e “Manhã Cinzenta” (1969), às 20h do dia 7, pouco antes do encerramento do evento.
“ ‘O Grito da Terra’ é um filme ‘genuinamente baiano’, um retrato do sertanejo faminto, e ‘Manhã Cinzenta’ é uma obra importantíssima e representa a resistência à ditadura militar no Brasil. Por causa dele o cineasta foi preso e torturado”, completa Cristiane, explicando a escolha desta obras por parte dos organizadores do evento.
Já “Sinais de Cinza: a peleja de Olney contra o dragão da maldade” (2013) será exibido na Mostra Atualidades, também no dia 7 de junho. O filme, dirigido por Henrique Dantas, narra a vida deste cineasta, bem como as repressões da ditadura militar em represália ao seu trabalho revolucionário.
O cineasta Olney São Paulo participou da Geração Revista da Bahia, em Salvador, nos idos de 1963 a 1970, com Orlando Sena, Ildásio Tavares, Alberto Silva, Marcos Santarrita, Adelmo Oliveira, Cyro de Mattos, Edsoleda Santos, Ricardo cruz e Fernando Batinga. Além de homenagear Olney São Paulo, o IV FECIBA homenageará o também cineasta baiano Glauber Rocha, com filmes exibidos na Mostra Homenagem.
Além destas Mostras – Retrospectiva, Atualidades e Homenagem – haverá ainda as tradicionais Mostras: Bahia Afora, Bahia Adentro, Sexualidades, Infanto-juvenil, e Competitiva de Curtas. Esta última conta com 14 curtas que serão submetidos a voto popular e a avaliação do júri técnico.
O IV Festival de Cinema Baiano conta com o apoio financeiro da Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB) por meio do edital Setorial de Audiovisual vinculado ao Fundo de Cultura da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA) e realização do NúProArt – Núcleo de Produções Artísticas e da Voo Audiovisual.