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quinta-feira, 29 de setembro de 2016

O FANATISMO POLÍTICO
OFENDE HONRA E VERDADE
                       
                                          João Carlos Teixeira Gomes
      
       Sergio Moro cumpriu com seu dever: aceitou a denúncia contra Lula apresentada pelo procurador Dallagnol, com veemência que incomodou o petismo. Mas o professor de Direito Ivar Hartmann, da Fundação Getúlio Vargas, falando à imprensa internacional, lembrou que o Ministério Público pode ser veemente ao acusar. A obrigação de imparcialidade é da Justiça, não dos meios acusatórios.
       O fanatismo é a pior miséria política da humanidade. Ele pode nascer da ideologia, caso do fascismo, do nazismo, do stalinismo. Também pode resultar da intolerância religiosa: a Igreja queimando hereges, o Estado Islâmico decapitando padres. Por fim, o fanatismo pode surgir apenas da cegueira política: é o caso da militância petista, quando se obstina em defender Lula e Dilma no processo de corrupção que avassalou o Brasil. O objetivo do PT com a ladroagem na Petrobras, usando empreiteiros e banqueiros oportunistas e corruptores, era “a perpetuação criminosa no poder”, para repetirmos a frase de Dallagnol. Em meu último artigo, eu já havia elogiado a deposição de Dilma como um fato positivo para a rotatividade partidária no Brasil.
       O objetivo essencial do PT era a permanência através da dobradinha Lula-Dilma. Oito anos para Lula, mais oito anos para Dilma, e já iriámos para 16 anos, depois 24 e, possivelmente, 32. Não sendo uma ação ideológica, pois o PT é um partido sem ideologias, as vitórias eleitorais viriam pela soma de práticas assistencialistas poderosas: em primeiro lugar, o Bolsa Família, que gerou um rebanho de pobres cativos e encabrestados. O Bolsa Família passou a ser o cabresto eleitoral do PT. Foi uma arma assustadora de dominação política, com tintas de benemerência social, mas, fundamentalmente, antidemocrática, pois o seu uso ameaçava a rotatividade partidária. Ao Bolsa Família, o PT acrescentou mais assistencialismo: o “Mais Casa Minha Vida”, o sistema de cotas, os empréstimos consignados. Fingindo beneficiar os assalariados, o PT, levando os bancos a emprestar sem riscos, o que estava fazendo era fortalecer os banqueiros que financiavam Genoíno na compra de votos dos aliados corrompidos pelo mensalão. Essas práticas, em seu conjunto, instauraram no Brasil a “democracia petista”, ou seja, a utilização prolongada do poder com o emprego das armadilhas assistencialistas de dominação.
       Como o partido é fraco de líderes, Lula ficou sem alternativa e foi obrigado a escolher a inexperiente Dilma para a dobradinha funesta. As principais lideranças já tinham abandonado o partido (Arruda Sampaio, Hélio Bicudo, Heloisa Helena, Chico Alencar, Carlos Nelson Coutinho etc.) depois que a traição começou, fato que ocorreu logo que Lula assumiu seu primeiro mandato, impondo a aposentadoria que ele tinha combatido em Fernando Henrique Cardoso.
      Para reforçar o processo de dominação, Dirceu tomou a iniciativa, a fim de ganhar eleições, antes sempre perdidas, de colocar a serviço do PT dois marqueteiros astuciosos. Veio primeiro Duda Mendonça, formado na escola de Maluf, depois João Santana Patinhas, o gênio das artimanhas.  De ambos nasceram ideias como o “Lula lá”, “Lulinha Paz e Amor” e a transformação de Lula, o “pobrinho” do Nordeste, no grande líder da pobreza nacional. Não fossem os marqueteiros políticos os mestres dos ardis,  arquitetos da enganação, artífices da propaganda mentirosa. Pagos a peso de ouro.
      Muitos dos expedientes para subjugar a sociedade com métodos escusos são comuns a toda atividade política. A questão é que o PT exagerou, ao conceber meios capazes, enfim, de lhe possibilitar “a perpetuação criminosa no poder”, queiram ou não os fanáticos que negam a culpa clamorosa das suas lideranças, negando também a verdade e a honra partidária.


·       *                                                                                                               **************
         


     João Carlos Teixeira Gomes é escritor, poeta e jornalista..  Doutor na área de Letras. Membro da Academia de Letras da Bahia. Autor de “O Telefone dos Mortos”, contos, “O Labirinto de Orfeu”, poesia, e “Memórias das Trevas”, entre outros. Por seus artigos corajosos em defesa da liberdade de imprensa, ganhou o apelido de “Pena de Aço”. 

terça-feira, 20 de setembro de 2016

primeiro Doutor Honoris Causa pela Uesc
cyro-e-adeliaMomento da outorga: Cyro de Mattos e a reitora Adélia Pinheiro, ladeados pelos professores Reniglei Rehem e Aurélio Macedo

Por Celina Santos

O vasto repertório com mais de 50 livros publicados – e traduzidos em diversos países do mundo –, assim como a defesa veemente de valores típicos da cultura sul-baiana. Estes e muitos outros elementos justificam a outorga do primeiro título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc). A honraria, aprovada pelo CONSU (Conselho Superior Universitário), foi concedida ao escritor itabunense Cyro de Mattos, em solenidade na noite de quinta-feira (15), no auditório daquela instituição.
O evento reuniu professores e estudantes da Uesc; a presidente da Academia de Letras de Itabuna (Alita), Sônia Maron; o presidente da Academia de Letras de Ilhéus, Josevandro Nascimento, imortais das duas instituições, conselheiros da Uesc, devidamente paramentados, entre outras autoridades e demais representantes da sociedade organizada no eixo Itabuna-Ilhéus.
A madrinha do escritor na entrega do título, professora-doutora Reniglei Rehem, fez um relato emocionado que exaltou a importância de Cyro de Mattos para a literatura regional. Ela lembrou ter todos os livros por ele publicados e, mais do que leitora e admiradora da obra do autor, demonstrou orgulho da amizade que construíram ao longo dos anos.
Cyro de Mattos, por sua vez, recordou o tempo em que precisou sair de Itabuna para estudar em Salvador, porque à época a região não dispunha de faculdades nem colégios que preparassem para o nível superior. O preâmbulo serviu para evidenciar a importância da Uesc no contexto regional. Para ele, a universidade é um “tesouro que brilha nos olhos de todos por ela atendidos”.
A reitora Adélia Pinheiro destacou o valor do homenageado que inaugura a outorga de títulos de “Doutor Honoris Causa” e adiantou que os próximos doutores também deverão ter um perfil de defesa da educação e da cultura regionais.



sexta-feira, 9 de setembro de 2016




QUANDO O MENINO DESCOBRIU O MAR

               

Primeiro, copio o que a poeta e professora Mônica Menezes acaba de postar:
Os escritores baianos Carlos Barbosa e Ruy Espinheira Filho lançam novos livros no dia 15 de setembro, próxima quinta-feira, no Ceasinha do Rio Vermelho, em Salvador, entre 17 e 21 horas, no restaurante do Edinho. O romancista Carlos Barbosa publica seu primeiro livro de contos, "O chão que em mim se move", pela editora Penalux/SP. De Ruy Espinheira Filho saem pela editora Descaminhos/SP o romance "O príncipe das nuvens – uma história de amor" e um volume de poemas pela editora Patuá/SP, intitulado "Milênios e outros poemas".
"O príncipe das nuvens", romance de Ruy Espinheira Filho, aborda parte da vida boêmia de Salvador nos anos 1960-70. Segundo o autor: “É inspirado num grande boêmio e poeta, Carlos Anísio Melhor. Há vários personagens também boêmios e artistas, como Ângelo Roberto, cujo nome real surge num personagem ficcional, pintor (como o Ângelo real) e necessariamente doido e brilhante”. A apresentação do romance é de autoria de Carlos Barbosa.
"Milênios" é composto de poemas escritos por Ruy em 2015, dando continuidade a uma obra que surgiu em volume individual – editado em Feira de Santana pelo poeta Antonio Brasileiro – no ano de 1974. A apresentação do livro é de autoria do poeta e crítico literário carioca Alexei Bueno. Este é o lançamento triplo que nos aguarda, como o marco litero-cultural, semana próxima.
Que tenho a ver com isso, além da admiração, da amizade e da saudação pela novidade de um lançamento de livros na Ceasinha do Rio Vermelho, que, de tão alvissareiro, pode até virar moda nesta cidade, em que, quando se vai lançar livro, só se pensa em livrarias de shoppings centers, que solapam do autor, abruptamente, 50% do valor de capa da obra lançada, só pelo fato de disponibilizar o espaço a tal, em princípio, auspicioso evento? Mas, agora, podem passar a enfrentar a concorrência de endereços como este, a Ceasinha, de faustosa e saudável circulação popular, sem que o autor dispenda um centavo pela oportunidade que recebe. E isso poderá virar moda; ora se pode!
Eu, como disse, nada tenho a ver com isso, lógico. Mas esse cometa literário, antes mesmo de acontecer, tem a ver comigo. Explico. É que, durante em que o meu computador teve de recorrer a uma clínica de assistência técnica em busca de cura para súbito mal, resolvi dedicar todo meu tempo a leituras e releituras. E não foi que, depois de ler o livro de Ruy Espinheira Filho “Milênios e outros poemas”, dele saí tocado não apenas pela vastidão de seu vendaval lírico, tocou-me um poema de sua consagrada vertente memorialística, intitulado “De uma entrevista jamais realizada”, cujo tema é a sua recordação de não ter ido à praia, nem visto o mar, quando criança. Então, lembrei-me de meus tempos de criança, no interior das matas cacaueiras de Itacaré, só sabendo que o mar existia porque o rádio Philips vez por outra me anuncia, com música e ritmo.
Comecei a pensar e, então, peguei a caneta e escrevi uns versos, em sétimas rimadas de redondilhas, em que conto essa minha primeira aventura de encanto visual, com a descoberta do mar. Divido agora tal sensação com os amigos, transcrevendo abaixo este meu novo inédito, que traz, merecidamente, versos do poema de Ruy, como epígrafe. Espero que aprovem o devaneio.


A DESCOBERTA DO MAR
"Não, não íamos à praia.
(...)
Pois é, também não víamos o mar
E as lagoas não compensavam."
(Ruy Espinheira Filho)

Eu também não via o mar.
Via o ribeirão e o brejo.
Vi depois um manso rio,
Onde aprendi a nadar.
Sonhava noites a fio.
No fundo havia o desejo
De sair e ver o mar.
Foi graças ao trem-de-ferro,
Que um dia parou na praça,
Com intenção de me lançar
Por um caminho sem erro,
E me levou para o mar.
Até me dava de graça
O contrário de um desterro.
Falam mais alto o meu sonho
E toda a minha alegria,
Com gosto de navegar.
Levei um susto medonho,
Tamanho mesmo do mar;
Com cores de epifania,
Era maior que o meu sonho.
Meu pai levou-me a um bar,
Que não comporta miçanga
(Ardente nome: Vesúvio!),
Um éden diante do mar.
Corre pelo ar um eflúvio,
Traço um sorvete de manga,
Satisfaz-me o bom-mirar.
Vastidão de azul e verde,
A se perder no horizonte,
No rastro de branca espuma!
Quanta alegria em se ver
De longe o quanto se esfuma,
Qual doce correr de fonte!
Na vida quanto se perde...
Um dia escrevi louronda,
Palavra de amor concreto,
Em folha depois sumida,
Na esteira de doida onda.
Uma lição para a vida:
Hoje sei em que dialeto
Um dia escrevi louronda.
Água, terra, fogo e ar,
Trouxe ao menino a ciência,
E muito mais. Quando busco
Uma rima para mar,
Seja aurora ou lusco-fusco,
Cá me diz a experiência:
Não há melhor do que bar.
Florisvaldo Mattos.
SSA/BA, 04/09/2016

domingo, 4 de setembro de 2016




Atualidade do Brasileiro Rui Barbosa

              Cyro de Mattos

Rui Barbosa era um homem de estatura baixa, franzino, a cabeça grande sustentada por um pescoço fino. Tímido e feio, mas  tinha uma voz poderosa quando  ocupava a tribuna. Os olhos faiscavam, de cada centelha a oratória incendiava com a argumentação firme, baseada na verdade. Uma dialética convincente e fascinante surpreendia os adversários. As imagens impressionavam a quem escutasse a palavra eloqüente, que da garganta  irrompia  cheia de energia,  a desfilar  pontos de vista inabaláveis.
Era um orador prodigioso, seduzia pelo domínio do idioma, vocabulário ilimitado, citações expressivas,  raciocínios perfeitos. O político  liberal  batia-se   pela  mudança das instituições  políticas para melhor. Indignava-se com a escravidão, clamava pela adoção das eleições diretas, pela reforma do ensino com métodos humanos,  investia contra o poder papal,  sendo um defensor ferrenho  da  ideia da separação dos poderes entre o Estado e a Igreja. 
         Lia os liberais ingleses e franceses, Shakespeare no inglês clássico.   Quando discursava ou escrevia, revestia as ideias de princípios morais. Esse liberal convicto,  qual um Quixote brasileiro  viveu de pregar constantemente a paz, defender os direitos alheios, combater a violência, lutar pela liberdade em várias frentes. Construíra a República, dando-lhe o arcabouço jurídico..
       Fora incapaz de conceber a vida sem um ideal. Advogado, jornalista, jurista, gramático, orador, poliglota, político, financista, escritor.   Difícil dizer em que atividade era o melhor. Cada uma delas soube exercer com invulgar competência. O paladino da liberdade viveu  à frente dos contemporâneos. Portador de  uma inteligência privilegiada, associada à  erudição adquirida das leituras armazenadas,  ao longo  do tempo, soube aplicá-las com brilho nas relações sociais, as quais só queriam fazer o bem na construção da vida.  Gostava de repetir o versículo, “todo o bem que fizeres, receberás do Senhor.”
A oração que pronunciou em elogio a José Bonifácio, falecido no fim de 1886, constituiu-se em mais que um discurso, era mais um desabafo contra aquele mundo político mesquinho  em que várias vezes havia sido derrotado. Na oportunidade, disse: Supõe-se ser a política a contradição do belo, como o  tem sido, neste país, da verdade e do bem:  uma espécie de divindade gaga, semilouca e míope, protetora do daltonismo e da surdez, inimiga da harmonia do colorido e do bulício da vida,   afeiçoada às almas sem capacidade estética, sem instintos desinteressado,  sem ondulações sonoras; uma combinação da esterilidade das estepes com a taciturnidade das paisagens de Java, onde as aves não cantam. 
Suas palavras visionárias contra a luta suja pelo poder  permanecem atuais até hoje, considerando-se a leitura que pode ser feita delas com relação às  atitudes ambiciosas de políticos miseráveis,  que acionam sem parar, em proveito próprio,  a máquina da corrupção voltada para o  econômico.
 Rui Barbosa nasceu em Salvador, aos  5 de novembro de 1849. Faleceu em 1 de março de 1923, em Petrópolis, quando então  se despediu deste velho mundo e ingressou na eternidade.


*Cyro de Mattos é escritor e poeta.  No dia 15 de setembro próximo irá  receber o título de Doutor Honoris  Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz  e, no dia 10  de novembro deste ano,  ocupará a cadeira 22 da Academia de Letras da Bahia, que tem como fundador Rui Barbosa e o seu último ocupante foi Clovis Lima. É um dos fundadores da Academia de Letras de Itabuna (ALITA).