Memória de Itabuna Agredida
Cyro de Mattos
Sugeri há dias, no “zap” de
correspondência social da Academia de Letras de Itabuna, que a entidade devia
se manifestar com uma nota de repúdio contra a demolição do prédio onde morou o
comendador Firmino Alves, fundador de Itabuna. Agora fico sabendo que a dose da
danosa demolição foi dupla. Demoliram a casa onde morou o poeta Firmino
Rocha. Essas duas agressões estúpidas
foram dadas na cara da cidade, situada ali na praça Olinto Leoni, local onde se
encontra o esfacelado Centro Histórico de Itabuna. A Galeria Walter Moreira,
pintor renomado das paisagens e tipos da cidade, erguida também na praça Olinto
Leoni, foi demolida pela atual administração do município.
A
demolição dos prédios que serviram de residência ao Comendador Firmino Alves e
ao poeta Firmino Rocha vêm na mesma esteira do que aconteceu com o Castelinho,
um primor de arquitetura colonial, representativa da beleza antiga forjada no
auge da lavoura cacaueira. Ressalte-se que o Comendador mandou construir o
Castelinho para dar à sua filha Áurea como presente de casamento. Como se nada significasse, o destino desse
prédio de beleza antiga rara e importância histórica incontestável teve como
final desastroso o de ser engolido pela boca insaciável da ganância imobiliária
Quando
em 2011 fomos presidente da Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania, demos
parecer contrário à venda do prédio onde funcionou o Ginásio Divina
Providência, educandário que contribuiu para que jovens se tornassem dignos
cidadãos e profissionais valorosos. O prédio daquela instituição de ensino fora
tombado em 2008. Uma empresa se
interessou em adquirir à Sociedade de São Vicente de Paula, dona do imóvel,
comprometendo-se em construir no local um shopping que daria emprego a 600 pessoas. Edital do Executivo Municipal determinou que
fosse criada uma comissão para examinar o assunto. A Fundação Itabunense de
Cultura e Cidadania não integrou essa comissão. Consultada para que desse
parecer sobre a questão, nos manifestamos para que o Executivo Municipal
desapropriasse o imóvel e em seu lugar instalasse o Museu de Educação de
Itabuna e o Memorial Lindaura Brandão, educadora que dedicou sua vida para que
sempre estivesse em pé com dignidade o educandário de grande valor histórico no ensino e educação, locais e
regionais.
. Apesar de nosso parecer contrário à
venda do prédio onde funcionou o Ginásio Divina Providência durante décadas, o
negócio da venda do imóvel foi realizado, pasmem os céus, e um shopping que foi
construído na metade do terreno apenas deu emprego a poucas pessoas.
Conservou-se apenas a fachada do prédio construído na metade do terreno, e o seu interior foi destinado ao
comércio.
Na época em que fomos presidente da FICC
listamos uma série de prédios históricos que deveriam ser objeto de tombamento
por lei municipal, incluindo-se nesta os imóveis onde residiram o Comendador
Firmino Alves e o poeta Firmino Rocha, localizados na praça Olinto Leoni. Não
tive assistência jurídica municipal eficiente para levar adiante o projeto de
tombamento de prédios com importância histórica para Itabuna. Não sei se os
prédios listados em minha gestão foram tombados posteriormente através de processo
administrativo.
Estou de pleno acordo com os membros da
Academia de Letras de Itabuna que querem
que o caso da demolição abrupta dos prédios onde residiu o Comendador Firmino
Alves e o poeta Firmino Rocha seja motivo de uma nota de repúdio. E me associo
também aos que desejam que o fato calamitoso seja levado ao conhecimento do
representante do Ministério Público para as medidas cabíveis de lei e para que
inclusive, por extensão, seja preservado
o pouco que resta do patrimônio histórico de uma cidade com papel importante na
formação da civilização cacaueira baiana.
Já não basta o que estamos fazendo
com o rio Cachoeira? Antes de fontes
puríssimas e peixe em abundância, era chamado de pai dos pobres, agora enfermo,
afogando-se nas águas viscosas derramadas por bocas de vômito. Pobre rio, de
vida saudável outrora, habitado por gente simples, hoje não passa de esgoto a
céu aberto.