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terça-feira, 30 de setembro de 2014

Poeta de Verdade
                                                                 
                Ao  fazer  o mapeamento da poesia brasileira no século XX, o crítico e romancista Assis Brasil solicitou-me nomes da região cacaueira  para figurar na antologia que estava organizando dedicada à Bahia. Indiquei Valdelice Soares Pinheiro, Walker Luna, Carlos Roberto Santos Araújo e Firmino Rocha. Na antologia  A Poesia Baiana no Século XX (1999),  Assis Brasil transcreveu trecho do comentário que lhe enviei sobre a poesia de Valdelice Soares Pinheiro. “Trata-se de um poeta que elabora sua poesia com uma linguagem  despojada”, eu disse, “projetando no texto contido uma visão de mundo preocupada com a condição humana. Poesia que só um poeta questionador, dotado de instrumental filosófico plasmado numa alma sensível, poderia compor”. 
Em Itabuna, chão de minhas raízes (1996), antologia por mim organizada, reuni  poetas e prosadores itabunenses e, na breve nota biobibliográfica de Valdelice Soares Pinheiro, chamei a atenção para esse poeta. Anos depois a poeta de Itabuna seria inserida como verbete no monumental Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras (Editora Escrituras, São Paulo, 2001), de Nelly Novaes Coelho, por recomendação nossa.
A poesia de Valdelice Soares Pinheiro não precisa de abonos para ser reconhecida, tem em si mesma seu valor, no qual ela se mostra com equilíbrio e expressividade. O motivo que me levou a aboná-la nas situações mencionadas é porque tive a oportunidade de fazê-lo, levando-se principalmente em conta o fato  de que a poeta publicou em vida apenas dois pequenos livros, em edição particular e limitada, e por isso  estava fadada a ser  mais um dos inúmeros poetas da província cuja tendência  poderia ser a de continuar no anonimato.
No começo da década de 1990,  em texto divulgado no jornal A Tarde, lembrei-me de reverenciar a memória de Valdelice Soares Pinheiro e de outros poetas nascidos na região cacaueira baiana, como Telmo Padilha, Florisvaldo Mattos e Firmino Rocha, apresentando-os naquela antologia de Itabuna, editada em 1996.
Filha de Vital Alves Pinheiro e Mariana Soares Pinheiro, desbravadores da região cacaueira baiana, Valdelice Soares Pinheiro nasceu em Itabuna, Bahia, no dia 24 de janeiro de 1929, e desde pequena teve educação esmerada. O curso primário  fez nos colégios  Ateneu e Saraiva, em Itabuna. Mudando-se para Ilhéus, vai cursar o ginasial e o magistério no Colégio Nossa Senhora da Piedade e Colégio Municipal, respectivamente. O licenciamento em Filosofia obtém na Universidade Católica do Rio Grande do Sul. De volta à Bahia,  começa a lecionar Estética e Ontologia na Universidade  de Santa Cruz, no sul do Estado.
Deixou um rico legado poético, e uma parte dele, constituída de  anotações e sessenta e três poemas,  teve publicação crítica pela Universidade Estadual de Santa Cruz, no livro A expressão poética de Valdelice Soares Pinheiro, em 2002, reunindo  estudos de alunos, sob a  coordenação da Professora Doutora Maria de Lourdes Netto Simões.  
         Este livro motivou  o artigo  A Expressão Poética de Valdelice Pinheiro em Resgate - Simplicidade: Liberdade de Ser, da professora universitária  Mari Guimarães Sousa, apresentado no VIII Seminário Nacional: Mulher e Literatura, Anais, Instituto de Letras e Núcleo de Estudos Interdisciplinares Sobre a Mulher, na Universidade Federal da Bahia - Salvador, BA, 2000, e a dissertação de mestrado O  Canto da Cigarra: A Poesia Cósmica e Existencialista de Valdelice Pinheiro, de Nayanara Tavares Moreira, apresentada na Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia, em 2007.
Com O Canto Contido, volume sob minha coordenação,  que reúne os dois livros De dentro de mim e Pacto, e poemas esparsos inseridos em antologias, de Valdelice Soares Pinheiro,  procuro contribuir  para a  circulação da  poesia publicada em vida por um dos poetas expressivos da Bahia. E, assim, fazer com que seja mais estudado e conhecido por um número maior de leitores, pois se trata de um  poeta de verdade. 
 Vadelice Soares Pinheiro  faleceu em Itabuna, no dia  29 de agosto de 1993.


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