O Voo de Telmo Padilha
Cyro de Mattos
Telmo Padilha nasceu em Ferradas, em 5 de maio de 1930, quando a vila era um distrito do município de
Itabuna, no sul da Bahia. Faleceu em 17 de julho de 1977, em acidente
automobilístico. Iniciou-se no jornalismo em Itabuna, teve passagem na imprensa do Rio de Janeiro, na
década de 50, e de retorno à terra natal ingressou na CEPLAC, órgão de assistência e
defesa da lavoura cacaueira. Estreou com
Girassol de Espanto (1956) e
deixou inúmeros livros de poesia, com
destaque para Onde tombam os pássaros (1974), Canto
rouco (1977), Voo absoluto”
(1977), Prêmio Nacional de Poesia do Instituto Nacional do Livro, Travessia (1979), O Punhal no escuro (1980) e Noite
contra noite (1980).
Está presente em antologias no Brasil e exterior. Tem
livros de poesia publicados na Inglaterra, Japão, Itália, Suíça e Uruguai. De
sua poesia, disse Manuel Bandeira que “é rica de símbolos e metáforas”,
enquanto Carlos Drummond de Andrade observou que “ se faz sentir e amar pela concentração e o
poder de síntese.” Adonias Filho destaca
que “os valores constantes são humanos e, em conseqüência, universais e
eternos: a morte, o medo, o tempo, o nada, a memória. Circunscrita a esses
valores, invulnerável a qualquer exterioridade, a poesia de Telmo Padilha pode
converter-se em um marco que
congregue toda a sua geração.”
Encontra-se na poesia de Telmo Padilha a constituição
de um discurso reflexivo, que informa
proposições doloridas na clave das indagações existenciais. Perguntas sem resposta que se manifestam
sobre essa difícil e enigmática travessia, exposta aos olhos como difícil de
aceitar, com sua problemática impregnada da vida, morte, solidão, incomunicabilidade, infância sem retorno, enfim, a criatura humana cercada de angústia
em função de circunstâncias matizadas pela
fugacidade do tempo. Nessa
travessia que aloja nos ouvidos cantos roucos, nessa temática ritmada de
absurdos, o poeta procura sempre se
mover dentro de atitudes críticas. Dessa atmosfera vertiginosa, na aventura que comporta de abismos e
enigmas, pobreza, sofrimento, insônia, o autor de Onde tombam os pássaros consegue, numa expressão límpida,
aparentemente fácil de ser compreendida, um dos momentos mais significativos da
poesia contemporânea brasileira. É esse poder de tocar nos seres e coisas, retirar sensibilidades e reflexões, densidade na compulsão e riqueza na profundidade da metáfora, que faz de Telmo
Padilha um poeta com todas as essencialidades de que são
dotados os bons poetas
Em Agudo mundo, livro de poemas, inédito, digo de poetas que ressoam suas
leituras da vida dentro de mim, com as
marcas da solidão. Drummond, Eliot, Rafael Alberti, Garcia Lorca, o peruano Alfredo
Pérez Alencart, Camões, o espanhol Fray Luís de León e o português Antonio
Salvado são alguns desses poetas que homenageio
no meu livro. Como poeta de minha
admiração, Telmo Padilha está entre eles. Transcrevo agora o poema que dediquei a esse
poeta que ultrapassou as fronteiras regionais.
“Momento de Telmo Padilha” - Ah, Telmo
Padilha/ Fale-me que sem a poesia/ o sol não pinta os desertos/ Com as cores da
manhã./ O dia não entardece/ Nos braços do ocaso./ Com a razão e a emoção/ Não
se estende a palavra/ Pelo vazio do vasto mundo./ A vida é mais pobre/ Sem esse
canto agudo/ que em ti é feito exausto/ Como vamos perceber/ Teus passos de
agonia, / que ao vento estremecem/ e te escutas nos desvãos?/ Ah, Telmo Padilha/
Fale-me de tua cidade, / A nossa querida Itabuna,/ De todos nós em teu grito,/ De
Hélio, Valdelice,/ Firmino, Florisvaldo, / Cada um no seu canto/ Remoendo o seu
tanto/ Fale-me dessas ruas,/ De fato não
são ruas, /É uma mesma rua /Que começa solitária/ E termina solitária / Nas vestes de teu ódio,/ Medos e incertezas/ Conquanto seja abrigo,/ Música cortante da paixão./ No teu dia cor de sombras/ Só
podemos amar com dor,/ na forma autêntica da dor/ Onde há setembros/ Que vêm e
somem/ Sem saber para onde vão./ Fale-me de teu voo/ Nessa viagem duvidosa/ Que
nos oprime de aflição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário