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quarta-feira, 10 de abril de 2019










                    Poemas Cristãos

                                  Cyro de Mattos





  

Calvário

Na opressão
na perseguição
na aflição
na traição
na depressão
na escuridão
na solidão
na sensação
do cuspe
e do cravo
no coração
Senhor meu
dá-me tua mão




Este Cristo

É maior que o mundo
este andor feito na dor
dos grandes rumores.
É maior que o mundo
esta luz feita na cruz
dos grandes tremores.
É maior que o mundo
este amor feito no ardor
dos grandes clamores.
Ó peso da terra
cuspe, chicotada, crivo.
E das chagas flores.




 Canto de Amor

E todo este peso
terrestre perfurou
a flor da comunhão,
de braços abertos
clamas como cacto.
E dignos não somos
de olhar este rosto
que pende no amor
do sangue derramado.
E solitários caminhos
da ternura os desviados
na voz de tudo que é perdão.
O canto de amor prossegue
pelos que têm fome e sede
e carregam o dilema do pacto.



 Santa Cruz


Todo o peso da terra
com ofensa e lenho
aqui deste desterro.

      Pedras cor de vinho,
      setas de veneno
      dos que ladram.

      Lábios de sede,
      botão que se abre
      na flor do perdão.

      Até hoje a oferta.
      A ternura como meta
      jogada na sarjeta.


  Sexta-Feira Maior

O sol morre.
Turva onda
o mundo em aflição
molha-me de roxo.
Nada valho.
Nada sou de fato.
Prefiro Barrabás,
crucifico o amor,
sem dó e lágrima
até o último silêncio.


            Soneto da Paixão



Ao pé do Cristo todas as infâmias,
ao pé do Cristo todas as insônias,
ao pé do Cristo todas as intrigas,
ao pé do Cristo todas as refregas.

Ao pé do Cristo todos os sedentos,
ao pé do Cristo todos os famintos,
ao pé do Cristo todos os horrores,
ao pé do Cristo todos os clamores.

Ao pé do Cristo todos os insultos,
ao pé do Cristo todos os corruptos,
ao pé do Cristo todos os ladrões,

ao pé do Cristo todas as prisões.
Nessa onda que nos leva como cães,
cura-me, ó Deus de todas as paixões.


     

                       Louvemos Baixinho


                                 Para Manuel Bandeira,
                                em memória

 

Nasceu numas palhas 
o nosso reizinho,
os matos cheiravam,
o vento embalava.

A Virgem Maria
sentia como doía
o destino humano
do filho de Deus.

Quando for um homem
com o nome de Jesus
de tanto nos amar
irá morrer na cruz.

Louvemos no Natal
o nosso reizinho
enquanto ele dorme
como um cordeirinho.

   

 


                                   
                                         

*Cyro de Mattos escreve crônica, conto, poesia, ensaio e literatura infantojuvenil. Tem no prelo da Editus, editora da UESC, Nada Era Melhor, romance da infância, Pequenos Corações, contos, e O Discurso do Rio, poesia.










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