Encontro na Alemanha
Cyro de Mattos
Radicado na cidade alemã de
Heidelberg, era cônsul honorário do
Brasil. Em 2015, foi indicado ao Prêmio Nobel de Literatura pela União
Brasileira de Escritores (UBE/SP), em reconhecimento pelo seu trabalho como
intelectual, dedicado a repensar o Brasil. Em 2016, foi
homenageado na UBE com o seminário "80 anos de Moniz Bandeira",
ocasião em que sua obra foi destacada por importantes personalidades do meio
acadêmico, político e diplomático.
Além de
influente intelectual, Moniz Bandeira teve uma importante trajetória de
militância política, como filiado ao Partido Socialista Brasileiro. Conheci
essa criatura rara na Alemanha, quando fui participar da Feira
Internacional do Livro de Frankfurt em 2010, como convidado. Meu livro Vinte Poemas do Rio e Outros Poemas foi traduzido para o alemão por
Curt Meyer-Clason. A editora reservou-me espaço para em seu stand
participar de uma tarde de autógrafos. O
país que seria homenageado nessa
oportunidade da Feira do Livro era a Argentina. Confiando em meu inglês, que
dava para o gasto corriqueiro, permitindo que eu não passasse fome, tomei ânimo
e fui participar desse evento internacional do livro, considerado como o maior
encontro mundial no setor editorial.
Quando desembarquei em Frankfurt, logo
fiquei assustado com o tamanho do aeroporto e o grande movimento de pessoas,
vindas de muitos países deste planeta. Tudo ali era grande e incalculável. Não podia imaginar que fosse tão imenso e
nele uma babel sem limites ressoasse como uma colmeia humana
inacreditável.
Na casa do cônsul brasileiro Cézar Amaral, em
Frankfurt, onde autores que participavam da Feira Internacional do Livro foram
recepcionado, tive o especial prazer de conhecer Moniz Bandeira. Autor de
muitos livros, na área da política mundial, tão prestigiado na Europa. Falou-me
de sua alegria em ser membro da Academia de Letras da Bahia, dos seus
ancestrais em terras da Bahia e de outras saudades que acenderam seu coração
durante nossa conversa, temperada com casos, nomes e eventos ocorridos em
terras da sua querida Bahia. De um desses acontecimentos relatados pelo ilustre
patrício, tomei conhecimento que na sua linhagem genealógica estava presente a relação de parentesco com Diogo Álvares Correia, um
náufrago português por volta de 1510,
apelidado de Caramuru, que fora bem acolhido pelos índios
tupinambás. Casou com a índia Paraguaçu, foi o fundador do município baiano de
Cachoeira e se tornou um dos inventores do Brasil.
Dessa maneira foi que fiquei sabendo que, de
Caramuru ao cientista político Moniz Bandeira, o tempo, que sabe todos os
caminhos, atava as pontas do destino para caminhar como brasileiro em terras da
Alemanha e do mundo. (Do livro Gabriel García Márquez e Outras Crônicas, no
prelo da Editus, editora da Universidade Estadual de Santa Cruz)
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