Notícia de
João Eurico Matta
Cyro de Mattos
Conheci João Eurico Matta na Faculdade de Direito da Universidade Federal
da Bahia, nos idos de 1957. O ingresso
como calouro naquela faculdade não me
dava condição para me aproximar daquele
acadêmico veterano com feição de professor. Era admirado pelos alunos antigos e
novos por suas maneiras elegantes, seu saber de bases humanistas. Fazia o
quarto ano do curso. A distância entre o
acadèmico calouro e o veterano propiciava-me apenas que se admirasse o mito,
cuja inteligência e cultura
passavam firmeza nas ideias aos
outros colegas de sua geração. Fazia
circular uma energia de seu espírito comprometido com a cultura, apreendida através de procedimentos investigativos e
interpretativos dos livros na leitura da vida.
Na Faculdade de Direito foi diretor
da revista Ângulos, do Centro Acadêmico Rui Barbosa, com eficiente atuação. A
revista fora fundada por Adalmir da Cunha Miranda, em 1950. Veículo de
teor jurídico-cultural tornara-se em pouco tempo muito comentada por sua importância
nos meios intelectuais de Salvador. O órgão acadêmico contemplou em suas
páginas textos dos professores Antonio
Luís Machado Neto, Marcelo Duarte,
Edivaldo Boaventura, poeta Florisvaldo
Mattos, cineasta Glauber Rocha, acadêmicos de direito Joaci Goes, Davi
Sales, Nemésio Sales, Noenio Spínola, João Ubaldo Ribeiro e outros alunos com destaque nos meios
intelectuais daquela gloriosa Faculdade
de Direito.
Graduado em Direito, com sólida
formação cultural, a legítima vocação para o ensino universitário iria aprofundar-se adiante nas estradas do
educador, através de conhecimentos
adquridos de filosofia, sociologia, literatura e outros ramos das ciências
humanas para que, na sua estrada comprida, pra lá de seus oitenta anos, as veredas da vida se tornassem amplas. A estrada larga, nas conquistas de uma paisagem feita de saber
para saber, saber para ser, saber para poder ser. Uma paisagem fecunda em sua
praxis e repercussão nos meios
universitários e intelectuais da Bahia.
Chega-se aos cumes quando o seu viajante é reconhecido como Professor Emérito de
Administração da Universidade Federal da
Bahia.
O currículo é invejável, intocável,
na área do ensino universitário. Não
cabe aqui com espaço pequeno da crônica relatar os pontos elevados do percurso,
levaria tempo. Cabe dizer, sim, que aqui
estou como o jovem recém-ingresso na Faculdade de Direito, que passou logo a admirá-lo, naqueles tempos universitários de saudosa memória, à qual a pasagem dos anos se encarregou de esfumar, como faz em
tudo no mistério da vida. O tempo, senhor soberano, que une e dispersa,
tudo dá e tudo toma.
Tornei-me com a passagem dos
anos ainda mais admirador desse
intelectual de acumuladas juventudes, ao correr da vida. Associo-me a esse
momento de afetividade, por meio de homenagem justa quando o Insttuto
Geográfico e Histórico da Bahia cria a
Comenda João Eurico Matta para celebrar o professor emérito. Palmas de pé são
dadas pelos admiradores do homenageado por essa iniciativa, que chega em boa
hora. De minha parte agradeço tudo que
ele operou de saudável pelo ensino universitário e cultura de nossa querida Bahia. Autêntico
agente formador de gerações e liderança de qualidade.
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