Cyro de Mattos
Candomblé
Preceito e respeito.
Se for de paz, entre.
Vamos conversar
Com os orixás.
Vamos dançar.
Vamos cantar.
Também se come
A comida de lá.
E se bebe aluá.
Fique sabendo
Da África sabores,
Ritos e cores.
Quem é do axé
Não nega que é.
Abolição
Na zoeira do terreiro
Batucam que batucam
Tambores sem cambão.
Trepidam nesses
punhos
O suor, a lágrima, o
sangue
Nos rastros do negro
fujão.
Todos batem nesse
tambor,
Pode até não ser de
fato
A tão esperada
abolição.
Mas é o começo duma
hora
Que se faz tão grandiosa
Como o verde na
amplidão.
África agora é uma só voz
Na esperança das
manhãs
Sem o ferro do vilão.
Ibejis
A travessia
de Iansã
Com a
sua espada afiada
Na
floresta desconhecida.
Suas queixas aos orixás
Pelo filho que lhe
roubou
O rude vento
assassino.
As graças do Orun,
Lá no reino de Oyó,
À guerreira
destemida.
Ao invés de tristeza
O milagre da alegria
Anunciado por
borboletas.
Gente pobre bonita,
Pintura festiva da
vida,
Tanto canto, tanta música.
Nos fios sem fim da
poesia,
Com leveza na
escrita,
Feita memória e
fantasia.
A lenda de Ibejis
Da Nigéria à Bahia
É o que conta
Edsoleda.
Preto
Velho
Me ensinou,
Sim senhor,
Me ensinou,
Com sua figa,
Cachimbo e pó,
O seu patuá,
O canto manso
E fé maior.
Um abraço dado
De bom coração
É mesmo
Bom abrigo,
Uma bênção,
Uma salvação.
Vovó Maria Conga
Saia branca engomada,
Pulseiras em cada braço,
Figa de guiné. Miçangas.
Filha de Nanã Burucu.
Dos
orixás das águas
A
mais velha Nanã é.
Conhece os caminhos,
Fala com os orixás
Na língua vinda da África.
Na dança bonita de ver
Movimentos vagarosos
Como onda leve do
mar.
Rezou a menina,
baforou
Com o velho cachimbo.
Deu passes na testa.
Saiu um bicho medonho
Esgoelando-se. Pela
janela
Fugiu numa nuvem
escura.
Grande medo causou.
Nem ligou. Cuspiu.
De contente sorriu.
Quá-quá-quá
Quá-quá-quá.
Vozes doces e quentes
Das filhas cantando:
Cadê a sua pemba,
Cadê a sua guia,
Seu congado
Veio de longe,
Veio pra ficar
Aqui na Bahia.
Cabelos brancos
Parecendo de bucha.
Olhos miúdos e negros.
Sua voz aconselhando:
Vovó não quer casca
de coco no
terreiro
pra não lembrar
do cativeiro.
Suas filhas dançando
Numa ciranda branca.
Repetindo a cantiga
Que ela mais gosta.
Quá-quá-quá
Quá-quá-quá
Chega vovó,
Chega vovó
Pra dar sua bênção,
Sua cura, seu axé,
Seu passe, sua flor
Que só vovó sabe dar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário