Dois Momentos do Ladrão
Cyro
de Mattos
O movimento de carros era intenso
na avenida do comércio. Desses que se o motorista não dirigir com cuidado
ultrapassa o sinal vermelho e certamente será flagrado na infração pelo guarda
ou, infalivelmente, pelo censor instalado no poste próximo da sinaleira.
A moto parou
no sinal vermelho.
Apareceu como um raio, arma em punho, apontando para a cabeça.
- Passe a
carteira, se tem amor à vida.
Branco de
medo. Na garupa da moto a mulher chorava. - --
- Entregue
logo, o que está esperando?
Adiante, o ladrão abriu a carteira,
contou as cédulas com o dinheiro gordo. Todo risonho. Começava bem o dia.
De repente foi lançado ao ar. Caiu
estatelado. A moto pegou a dele em
cheio. Era aquele mesmo motoqueiro, que tinha sido antes a
vítima daquele mesmo cara de cabelos grandes e olhos sanguíneos, pilotando uma
moto veloz. A vítima, que de repente virou o agressor, melhor dizendo,
agente, pegou a sua carteira que caiu no chão com o dinheiro gordo.
Saiu
disparado na moto, a mulher na garupa cantando.
O ladrão
entrou na delegacia, zangado.
O rosto
inchado, o corpo doendo.
Contou o
ocorrido ao delegado.
Várias costelas quebradas, o corte no rosto.
Perdeu quatro dentes, a boca
ferida, a língua machucada.
Gosto de sangue pisado.
Escapou por sorte.
No final declarou:
- Quero ser indenizado.
Indenização gorda. Direito líquido,
certo, inquestionável, pensou com a
careta feia que fez no rosto.
Providências cabíveis deviam ser
tomadas. Urgentes. O caso exigia rapidez em razão da estupidez daquele motoqueiro imprudente. Imprudência,
negligência ou imperícia. Fosse o que fosse.
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