FÁBULA DE NATAL EM UM PAÍS AO SUL DO EQUADOR
Armando Avena
Naquele Natal Papai Noel resolveu sair cedo da Lapônia, na Finlândia, pois queria ele mesmo distribuir alguns presentes. Quando as renas estavam prontas para partir, aboletou-se no trenó e disse:
Não esperem por mim, vou distribuir presentes num país ao sul do equador. As renas voaram por muito tempo até aterrissarem no centro daquele enorme país, num imenso cerrado cognominado Brasília, onde a umidade era rarefeita e a ética mais rarefeita ainda.
Era ali que ele ia distribuiria os presentes e assim o fez. Mas logo descobriu que estava velho e havia misturado os pedidos e que algum gnomo irreverente, desses que não acreditam em Papai Noel, havia distribuído presentes bem diferentes do que cada um pedia nas cartas enviadas a Lapônia.
E foi assim que percebeu que aquela senhora arrogante que havia pedido uma coroa para assim tornar-se rainha do Brasil, tinha recebido apenas uma semente de impeachment, planta que, a semelhança da flor do cerrado que apenas lá floresce, teima em florescer no Congresso Nacional.
E que aquele senhor de cabelos grisalhos e palavras escassas, que mais parecia um mordomo de filme e terror, e em sua carta pedia uma Presidência da República de presente da Natal, havia recebido um daqueles brinquedos surpresa que, quando aberto, fez pular um coringa sorridente cujo suéter colorido trazia o nome de Renan.
O gnomo misturou os presentes de tal modo que aquele outro senhor de cabelos bem grisalhos e porte agressivo que, assemelhado a um Tiranossauro Rex, andava pela Câmara a derrubar regimentos e prazos, pediu de presente de Natal um salvo conduto para ter contas na Suíça e terminou ganhando uma dupla de bonecos teimosos que atendem pelos nomes de Janot e Moro.
E até o risonho curinga de cabelos implantados e nome Renan, que é presente, mas também quer presente, e que pediu apenas que apagassem seu nome das apócrifas listas de delação, recebeu de presente um aparelho, que, ao invés de apagar, realça e desvenda todos os sigilos, mesmo os bancários e telefônicos.
Já o presente daquele economista ortodoxo, que pediu um ajuste fiscal duro com cortes generalizados e aumentos de impostos, foi outro economista, este heterodoxo e desenvolvimentista, que acredita ser possível correr e parar ao mesmo tempo, mágica com a qual quer fazer com que a economia daquele sofrido país possa, ao mesmo tempo, ter crescimento e corte de gastos, crédito com juros baixos e inflação sob controle, e que, influenciado por sua chefe, crê firmemente que voluntarismo, esperança e otimismo podem fazer o PIB crescer.
Papai Noel percebeu então que estava dando presentes para as pessoas erradas, que naquele país ao Sul do Equador era o povo que merecia presentes e que aos pés de cada árvore de Natal deveria haver educação amarrada com fita vermelha, saúde embrulhada em papel prateado e pacotes de segurança pública para todos. Assim, antes de voltar para sua Lâponia, resolveu deixar para o povo daquele país o mais importante dos presentes: a consciência política.
E no dia seguinte ao Natal milhões de pessoas passaram a exigir que os políticos e os partidos deixassem de lado seus interesses pessoais e partidários e começassem a reconstruir o país devastado.
Naquele Natal Papai Noel resolveu sair cedo da Lapônia, na Finlândia, pois queria ele mesmo distribuir alguns presentes. Quando as renas estavam prontas para partir, aboletou-se no trenó e disse:
Não esperem por mim, vou distribuir presentes num país ao sul do equador. As renas voaram por muito tempo até aterrissarem no centro daquele enorme país, num imenso cerrado cognominado Brasília, onde a umidade era rarefeita e a ética mais rarefeita ainda.
Era ali que ele ia distribuiria os presentes e assim o fez. Mas logo descobriu que estava velho e havia misturado os pedidos e que algum gnomo irreverente, desses que não acreditam em Papai Noel, havia distribuído presentes bem diferentes do que cada um pedia nas cartas enviadas a Lapônia.
E foi assim que percebeu que aquela senhora arrogante que havia pedido uma coroa para assim tornar-se rainha do Brasil, tinha recebido apenas uma semente de impeachment, planta que, a semelhança da flor do cerrado que apenas lá floresce, teima em florescer no Congresso Nacional.
E que aquele senhor de cabelos grisalhos e palavras escassas, que mais parecia um mordomo de filme e terror, e em sua carta pedia uma Presidência da República de presente da Natal, havia recebido um daqueles brinquedos surpresa que, quando aberto, fez pular um coringa sorridente cujo suéter colorido trazia o nome de Renan.
O gnomo misturou os presentes de tal modo que aquele outro senhor de cabelos bem grisalhos e porte agressivo que, assemelhado a um Tiranossauro Rex, andava pela Câmara a derrubar regimentos e prazos, pediu de presente de Natal um salvo conduto para ter contas na Suíça e terminou ganhando uma dupla de bonecos teimosos que atendem pelos nomes de Janot e Moro.
E até o risonho curinga de cabelos implantados e nome Renan, que é presente, mas também quer presente, e que pediu apenas que apagassem seu nome das apócrifas listas de delação, recebeu de presente um aparelho, que, ao invés de apagar, realça e desvenda todos os sigilos, mesmo os bancários e telefônicos.
Já o presente daquele economista ortodoxo, que pediu um ajuste fiscal duro com cortes generalizados e aumentos de impostos, foi outro economista, este heterodoxo e desenvolvimentista, que acredita ser possível correr e parar ao mesmo tempo, mágica com a qual quer fazer com que a economia daquele sofrido país possa, ao mesmo tempo, ter crescimento e corte de gastos, crédito com juros baixos e inflação sob controle, e que, influenciado por sua chefe, crê firmemente que voluntarismo, esperança e otimismo podem fazer o PIB crescer.
Papai Noel percebeu então que estava dando presentes para as pessoas erradas, que naquele país ao Sul do Equador era o povo que merecia presentes e que aos pés de cada árvore de Natal deveria haver educação amarrada com fita vermelha, saúde embrulhada em papel prateado e pacotes de segurança pública para todos. Assim, antes de voltar para sua Lâponia, resolveu deixar para o povo daquele país o mais importante dos presentes: a consciência política.
E no dia seguinte ao Natal milhões de pessoas passaram a exigir que os políticos e os partidos deixassem de lado seus interesses pessoais e partidários e começassem a reconstruir o país devastado.
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Nascido em Salvador, Armando Avena é economista, jornalista e escritor. É membro da Academia de Letras da Bahia e Professor da Universidade Federal da Bahia. É colunista do jornal Correio da Bahia, onde assina coluna semanal, e editor responsável do portal Bahia Econômica.
Foi Secretário de Planejamento da Bahia, no período 2002-2006, presidente do Fórum Nacional de Secretários de Planejamento no mesmo período e fundador do Conselho Nacional de Secretários de Planejamento. Foi Presidente do Conselho Regional de Economia-Ba. Mestre em Planejamento Global e Política Econômica pela Cepal/ ONU e especialista em Macroeconomia, Economia Regional e Planejamento, atua como consultor de empresas públicas e privadas e realiza palestras em todo o Brasil, compondo o grupo dos 100 melhores palestrantes do país.
Escritor, possui oito livros publicados:
A Última Tentação de Marx (Relume-Dumará, 1998 )
O Evangelho Segundo Maria (Relume-Dumará, 2002)
O Afilhado de Gabo (Relume-Dumará, 1997)
Nordeste: Os Caminhos do Desenvolvimento (UCSAL, 1986 )
Fabricio e as Estrelas (Fundação Casa de Jorge Amado, 2006 )
A Menina que Perdeu o Nariz (Relume-Dumará, 1999)
Recôncavo (Versal, 2008)
O Manuscrito Secreto de Marx (Casarão do Verbo, 2011)
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