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sexta-feira, 9 de setembro de 2016




QUANDO O MENINO DESCOBRIU O MAR

               

Primeiro, copio o que a poeta e professora Mônica Menezes acaba de postar:
Os escritores baianos Carlos Barbosa e Ruy Espinheira Filho lançam novos livros no dia 15 de setembro, próxima quinta-feira, no Ceasinha do Rio Vermelho, em Salvador, entre 17 e 21 horas, no restaurante do Edinho. O romancista Carlos Barbosa publica seu primeiro livro de contos, "O chão que em mim se move", pela editora Penalux/SP. De Ruy Espinheira Filho saem pela editora Descaminhos/SP o romance "O príncipe das nuvens – uma história de amor" e um volume de poemas pela editora Patuá/SP, intitulado "Milênios e outros poemas".
"O príncipe das nuvens", romance de Ruy Espinheira Filho, aborda parte da vida boêmia de Salvador nos anos 1960-70. Segundo o autor: “É inspirado num grande boêmio e poeta, Carlos Anísio Melhor. Há vários personagens também boêmios e artistas, como Ângelo Roberto, cujo nome real surge num personagem ficcional, pintor (como o Ângelo real) e necessariamente doido e brilhante”. A apresentação do romance é de autoria de Carlos Barbosa.
"Milênios" é composto de poemas escritos por Ruy em 2015, dando continuidade a uma obra que surgiu em volume individual – editado em Feira de Santana pelo poeta Antonio Brasileiro – no ano de 1974. A apresentação do livro é de autoria do poeta e crítico literário carioca Alexei Bueno. Este é o lançamento triplo que nos aguarda, como o marco litero-cultural, semana próxima.
Que tenho a ver com isso, além da admiração, da amizade e da saudação pela novidade de um lançamento de livros na Ceasinha do Rio Vermelho, que, de tão alvissareiro, pode até virar moda nesta cidade, em que, quando se vai lançar livro, só se pensa em livrarias de shoppings centers, que solapam do autor, abruptamente, 50% do valor de capa da obra lançada, só pelo fato de disponibilizar o espaço a tal, em princípio, auspicioso evento? Mas, agora, podem passar a enfrentar a concorrência de endereços como este, a Ceasinha, de faustosa e saudável circulação popular, sem que o autor dispenda um centavo pela oportunidade que recebe. E isso poderá virar moda; ora se pode!
Eu, como disse, nada tenho a ver com isso, lógico. Mas esse cometa literário, antes mesmo de acontecer, tem a ver comigo. Explico. É que, durante em que o meu computador teve de recorrer a uma clínica de assistência técnica em busca de cura para súbito mal, resolvi dedicar todo meu tempo a leituras e releituras. E não foi que, depois de ler o livro de Ruy Espinheira Filho “Milênios e outros poemas”, dele saí tocado não apenas pela vastidão de seu vendaval lírico, tocou-me um poema de sua consagrada vertente memorialística, intitulado “De uma entrevista jamais realizada”, cujo tema é a sua recordação de não ter ido à praia, nem visto o mar, quando criança. Então, lembrei-me de meus tempos de criança, no interior das matas cacaueiras de Itacaré, só sabendo que o mar existia porque o rádio Philips vez por outra me anuncia, com música e ritmo.
Comecei a pensar e, então, peguei a caneta e escrevi uns versos, em sétimas rimadas de redondilhas, em que conto essa minha primeira aventura de encanto visual, com a descoberta do mar. Divido agora tal sensação com os amigos, transcrevendo abaixo este meu novo inédito, que traz, merecidamente, versos do poema de Ruy, como epígrafe. Espero que aprovem o devaneio.


A DESCOBERTA DO MAR
"Não, não íamos à praia.
(...)
Pois é, também não víamos o mar
E as lagoas não compensavam."
(Ruy Espinheira Filho)

Eu também não via o mar.
Via o ribeirão e o brejo.
Vi depois um manso rio,
Onde aprendi a nadar.
Sonhava noites a fio.
No fundo havia o desejo
De sair e ver o mar.
Foi graças ao trem-de-ferro,
Que um dia parou na praça,
Com intenção de me lançar
Por um caminho sem erro,
E me levou para o mar.
Até me dava de graça
O contrário de um desterro.
Falam mais alto o meu sonho
E toda a minha alegria,
Com gosto de navegar.
Levei um susto medonho,
Tamanho mesmo do mar;
Com cores de epifania,
Era maior que o meu sonho.
Meu pai levou-me a um bar,
Que não comporta miçanga
(Ardente nome: Vesúvio!),
Um éden diante do mar.
Corre pelo ar um eflúvio,
Traço um sorvete de manga,
Satisfaz-me o bom-mirar.
Vastidão de azul e verde,
A se perder no horizonte,
No rastro de branca espuma!
Quanta alegria em se ver
De longe o quanto se esfuma,
Qual doce correr de fonte!
Na vida quanto se perde...
Um dia escrevi louronda,
Palavra de amor concreto,
Em folha depois sumida,
Na esteira de doida onda.
Uma lição para a vida:
Hoje sei em que dialeto
Um dia escrevi louronda.
Água, terra, fogo e ar,
Trouxe ao menino a ciência,
E muito mais. Quando busco
Uma rima para mar,
Seja aurora ou lusco-fusco,
Cá me diz a experiência:
Não há melhor do que bar.
Florisvaldo Mattos.
SSA/BA, 04/09/2016

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