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domingo, 4 de setembro de 2016




Atualidade do Brasileiro Rui Barbosa

              Cyro de Mattos

Rui Barbosa era um homem de estatura baixa, franzino, a cabeça grande sustentada por um pescoço fino. Tímido e feio, mas  tinha uma voz poderosa quando  ocupava a tribuna. Os olhos faiscavam, de cada centelha a oratória incendiava com a argumentação firme, baseada na verdade. Uma dialética convincente e fascinante surpreendia os adversários. As imagens impressionavam a quem escutasse a palavra eloqüente, que da garganta  irrompia  cheia de energia,  a desfilar  pontos de vista inabaláveis.
Era um orador prodigioso, seduzia pelo domínio do idioma, vocabulário ilimitado, citações expressivas,  raciocínios perfeitos. O político  liberal  batia-se   pela  mudança das instituições  políticas para melhor. Indignava-se com a escravidão, clamava pela adoção das eleições diretas, pela reforma do ensino com métodos humanos,  investia contra o poder papal,  sendo um defensor ferrenho  da  ideia da separação dos poderes entre o Estado e a Igreja. 
         Lia os liberais ingleses e franceses, Shakespeare no inglês clássico.   Quando discursava ou escrevia, revestia as ideias de princípios morais. Esse liberal convicto,  qual um Quixote brasileiro  viveu de pregar constantemente a paz, defender os direitos alheios, combater a violência, lutar pela liberdade em várias frentes. Construíra a República, dando-lhe o arcabouço jurídico..
       Fora incapaz de conceber a vida sem um ideal. Advogado, jornalista, jurista, gramático, orador, poliglota, político, financista, escritor.   Difícil dizer em que atividade era o melhor. Cada uma delas soube exercer com invulgar competência. O paladino da liberdade viveu  à frente dos contemporâneos. Portador de  uma inteligência privilegiada, associada à  erudição adquirida das leituras armazenadas,  ao longo  do tempo, soube aplicá-las com brilho nas relações sociais, as quais só queriam fazer o bem na construção da vida.  Gostava de repetir o versículo, “todo o bem que fizeres, receberás do Senhor.”
A oração que pronunciou em elogio a José Bonifácio, falecido no fim de 1886, constituiu-se em mais que um discurso, era mais um desabafo contra aquele mundo político mesquinho  em que várias vezes havia sido derrotado. Na oportunidade, disse: Supõe-se ser a política a contradição do belo, como o  tem sido, neste país, da verdade e do bem:  uma espécie de divindade gaga, semilouca e míope, protetora do daltonismo e da surdez, inimiga da harmonia do colorido e do bulício da vida,   afeiçoada às almas sem capacidade estética, sem instintos desinteressado,  sem ondulações sonoras; uma combinação da esterilidade das estepes com a taciturnidade das paisagens de Java, onde as aves não cantam. 
Suas palavras visionárias contra a luta suja pelo poder  permanecem atuais até hoje, considerando-se a leitura que pode ser feita delas com relação às  atitudes ambiciosas de políticos miseráveis,  que acionam sem parar, em proveito próprio,  a máquina da corrupção voltada para o  econômico.
 Rui Barbosa nasceu em Salvador, aos  5 de novembro de 1849. Faleceu em 1 de março de 1923, em Petrópolis, quando então  se despediu deste velho mundo e ingressou na eternidade.


*Cyro de Mattos é escritor e poeta.  No dia 15 de setembro próximo irá  receber o título de Doutor Honoris  Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz  e, no dia 10  de novembro deste ano,  ocupará a cadeira 22 da Academia de Letras da Bahia, que tem como fundador Rui Barbosa e o seu último ocupante foi Clovis Lima. É um dos fundadores da Academia de Letras de Itabuna (ALITA).

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