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domingo, 5 de março de 2017





Antologia Poética da Não Resignação da Mulher

                                                        
                                                  Cyro de Mattos



Sob a coordenação de Alfredo Perez Alencart, enorme poeta que é também professor universitário, promotor cultural de larga extensão,  foi publicada no ano passado em Salamanca, Espanha, a antologia No Resignación, obra que reúne  136 poetas. 72 mulheres e  64 homens, de  35 países representando cinco continentes. A antologia é um depoimento contundente ante o ultraje vergonhoso que vem sendo praticado contra a mulher, ao longo dos séculos,  e, entre os poetas,   estão  presentes os  brasileiros  Álvaro Alves de  Faria,  Helena Parente Cunha, Alice Spíndola, Marcia Barroca e Rizolete Fernandes.
       Obra de flexões poéticas diversas, de nobre alcance em sua problemática existencial, testemunha a vergonhosa atitude machista contra quem, sendo a outra parte do homem,   alimenta a criação, afasta o sal da terra, a tristeza e a agonia. Acende os risos. Traz na forma do sol o fruto sazonado. De onde vem o leite para  causar o espanto e adoçar as cores do mundo. Sem teus fluidos, sabemos, que o mundo seria luto, a  natureza sem matriz perdida de sentido.  Ninguém saberia da alegria  na casa onde se ouvirá : “Morre, noite!” 
       Essa antologia, com ilustração do pintor espanhol Miguel Elias, o selo editorial do Ajuntamento de Salamanca, merece divulgação sob vários aspectos. Contra uma situação lamentável, vitimando a mulher sob a violência, o preconceito, a desigualdade de oportunidades, o desempenho inferior  e a exploração sexual, Álvaro Alves de Faria diz “Sueño, mujer, tu espacio, tus alas”, Yolanda Izard versifica “Las voces de las mujeres se escriben en el silencio de la cocina”, Hiroshi Tomita “Que no se desangre el amor/en la sombra,/en la niebla”, Gioconda Belli escribe: “El hombre que me ame/no dudará de mi sonrisa”,  Gloria Sánchez: “¡Esclava del horror!”.  Horror é o que oferece os telejornais diários, notícias nas quais o telespectador acostumou-se  recebê-las sem  pensar na dor, na desgraça de quem supõe ser uma vida de todos e para todos.          

         Sinto-me enriquecido em participar, como brasileiro,  dessa antologia com inúmeras vozes poéticas expressivas. Em  meu   “.Poema da Mulher Não Resignada”,  observo: “ Para onde vá sem voz/ Deixa que seja levada./Maneira de ser conduzida/Expressa o espaço inútil. /Golpeada na afronta,/Indisponível de si mesma. /Pousa vazia de sentidos /No rito de cama e mesa./Rolam anos de vergonha, /O que podemos achar nela?/Amanhecer é preciso/ Apesar das opressões...  “

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