Os
Apelidos Entram em Campo
Cyro de Mattos
O humor acontecia no Campo da
Desportiva e entrava para o anedotário com os apelidos dos jogadores. Balaco,
Galeão, Puruca, Tuta, Zé Prego, Sapateiro, Tenente Cotó, Ruído, Pipio, Jeguinho, Lubião, Bacamarte e Mil e
Quinhentos. No tempo da Associação, São
Cristóvão, Grêmio, Itabuna e Janízaros,
primeiros anos do Campo da Desportiva, os apelidos soavam como fantasia
ou um sinal de identificação de inteira verdade.
Apareceram tempos depois jogadores com o apelido de Camamu, Mão-de-Tripa, Porroló, Galalau, Pantaleão,
Nonô Piquete, Carrapeta, Chicletes,
Gajé, Mundeco, Bita, Pintado Alfaiate, Ferrugem
e Diaço. Dois jogadores tiveram o apelido de Jeguinho em épocas diferentes. Eram parentes, tio e sobrinho, jogaram no
Janízaros como zagueiro central. Bacamarte também foi o apelido de dois
zagueiros. Um jogou na Associação, o
outro no Flamengo de Paulo Ribeiro. Eram defensores vigorosos. O chute violento de cada um deles explodia como um tiro de bacamarte.
O apelido era tirado do sobrenome
do jogador. Carpóforo, Mangabeira,
Barros, Marinho e Wense, que de vez em quando aparecia no jornal escrito como
Vence. Fazia alusão a um bicho. Caxinguelê, Peba e Macaquinho. Bacurau,
ponta-direita, gostava de marcar gol no fim do segundo tempo, as sombras do
entardecer começando a dificultar a visão da bola.
Às vezes, a expressão composta de
nome e apelido formava o chamamento inusitado.
Eliezer Melgaço, Orlando Anabizu, Ronaldo Chiranha, Edson Gasolina,
Alberto Pastor, Valdemir Chicão. Alguns apelidos revelavam que o seu dono era
um jogador de recursos técnicos e possuía um futebol de alto nível. Doutor
Clóvis, Professor Juca, Mestre Delicado.
Havia Tombinho e Tombinha. O primeiro jogou na Associação,
ponta-direita, de estatura pequena, o corpo redondo tombava a todo instante, era
só o marcador disputar a jogada com o ombro ou encostar nele, mesmo de
leve. Tombinha jogava para o time, não
aparecia durante o decorrer da partida. Poucas eram as pessoas que o conheciam
quando se falava em Manoel Marques.
Quando se falava em Tombinha, as façanhas do jogador mais catimbeiro que atuou no Campo da Desportiva eram lembradas por
jogadores e desportistas.
Corria no jogo apelidos com o
nome de mulher. Odete e Vanda. Do último se sabe que a alcunha veio da
infância. O menino tinha os cabelos grandes e usava trança, a mãe achava-o
parecido com uma menina, daí ter dado ao
filho o apelido de Vanda. De tanto os irmãos chamá-lo pelo apelido, pegou feito visgo. Também o craque Santinho trouxe o apelido da
infância. Os familiares que viam o
menino dormindo diziam que “ele parece
um santinho.”
Uns aludiam a peixe. Piaba, Peixe-Louro. Outros lembravam um bicho.
Caxinguelê. Gato Preto, Aranha, Macaquinho, Ratinho. E ainda outros davam a
entender que o jogador tinha outra nacionalidade. Sírio, Sueco, China, Gringo,
Americano, Paraguaio. Para não se falar
do apelido indicando que ali no dono
estava um jogador igual a um
corredor nato. Velocidade, Carlito Agonia. Chegavam a ser reverenciados pelos
seus admiradores como os filhos do vento, tanto eles corriam.
Zeferino, Colatino. Madeira,
Manchinha. Caticuri, Vivi,
Marão, Jonga,
Beca. Tindola. Zoinho,
Mudo. Noca, David Pintado. Nocha. Macarrão. Daú.
Nenzinho, Neném. Pinga, Zé Neguinha. Nininho. Abissínia,
Bié. Mamão, Justo,
Bel. Wilson Longo, Zequinha Carmo,
Zé Moleque, Patuca, Mágoa, Pelé-Cotó. Mateirinho, Brezegue, Dinho do Roque. Zezé, Zezeco, Zelinho. Balancê da Mata,
Mateirinho, Tico-Tico. Boca-Rica, Charuto. Barril, Tertu, Leto. Pedrinha, Roliço.
Cada um com a sua classe, seu
esforço, sua graça. Levava o torcedor ao pequeno e prazeroso Campo da Desportiva
para aplaudir, vaiar ou sorrir,
do primeiro ao último minuto do jogo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário