OS BONS TEMPOS DO CINEMA EM ITABUNA
A Sétima Arte
teve seus dias de glória em
Itabuna. Além das casas de espetáculos – cinemas -, alguns
itabunenses tentaram entrar para o seleto grupo de consagrados diretores, mas
não alcançaram o sucesso esperado. O cinema em Itabuna foi objeto de monografia
de especialização em história regional, escrita pela professora Iolanda Brito
Costa, que pesquisou esse tipo de lazer havido na cidade durante quase 80 anos.
Informa a professora Iolanda Costa que nessa época
Itabuna pode contar com aproximadamente
15 cinemas, alguns espaços para projeções cinematográficas e outros dois
clubes de cinema. “ Como uma das principais formas de lazer e entretenimento de uma cidade que se fez à
sombra dos cacauais e da riqueza de suas safras, o cinema seduziu,
mostrou o mundo, disseminou idéias, ditou comportamentos”, revelou a professora.
Tratava-se de uma novidade. Em 1908, um cinema
ambulante já conseguia desviar a atenção do público que participava da Santa
Missão pregada pelos padres capuchinhos. Porém,
foi somente em 1915 que o fotógrafo Omar Cana Brasil instalou um Pathé e
o filme: “Os Últimos Dias de Pompéia” fez sua estréia em um armazém situado na
Travessa Oswaldo Cruz, 29. Como ainda
eram projeções mudas, aconteciam acompanhadas
de músicas tocadas pelos músicos
locais.
Em 1918,
Antônio da Silveira inaugurou o Ideal Cinema com o filme “Madame
Bovary”, estrelado por Póla Negri. Ainda
não havia casas apropriadas para os espetáculos. No Ideal Cinema também eram
apresentados atores locais. Nessa época também foi instalado, pelos padres
vicentinos, o Cinema Recreio, com o objetivo de angariar recursos para a
construção de um asilo.
Uma das curiosidades pesquisadas em livros e na
imprensa local, citadas na monografia da
professora Iolanda Costa, foi o sonho de fazer a sétima arte em Itabuna por
amadores. Arlindo Silveira e Brasilino Nery projetavam filmes de atualidades,
notícias e reportagens, como também faziam filmagens, que passavam em reuniões
sociais. Uma dessas filmagens foi uma batalha entre o Tiro de Guerra e os
bandidos Cauaçus, que certa vez tinham
invadido a cidade.
O Cine Ita
surgiu nos idos de 1925, na rua Quartel Velho, hoje Rui Barbosa, próximo à
Padaria Modelo. Por ficar situada em local próximo à zona do meretrício, ficou
conhecido como “Cinema Cai Nágua” e “Poeira”. Seus freqüentadores eram, em sua
maioria, vadios, bêbados, arruaceiros e analfabetos. Os assentos eram do tipo
“galinheiro”, como os de circo, e muitos filmes eram legendados. Devido a isso,
pessoas letradas como Otoni Silva faziam a leitura e recebiam a entrada como
pagamento.
Os filmes eram alugados em Salvador e vinham para
serem projetados em vários cinemas ao mesmo tempo. Primeiro eles passavam no
Ideal ou Elite, e logo depois um
portador corria para entregar a fita para ser exibida no Ita. Quando havia qualquer contratempo, a
platéia ameaçava com um “quebra-quebra”. Localizado na atual Avenida do
Cinqüentenário, onde funcionou a loja Os Gonçalves, o Elite Cinema ficou
conhecido pelo fato costumeiro de o seu
gerente anunciar os próximos filmes: “Amanhã vai passar o cowboy na sessão da
noite. Tem porrada como corno!”
Com a chegada do cinema falado, musicais com os cantores Martha Egerth e Dick Powel, românticos com
Greta Garbo e John Gilbert, o anúncio
dos filmes passou a ser divulgado em jornais da época. As sessões com
filmes de nudez eram projetadas somente para homens e em horários especiais.
Enciumadas, as mulheres perguntavam umas às outras, bo círculo das amigas
íntimas, se os maridos tinham ido realmente ao cinema naquela
oportunidade para assistirem cenas imorais.
No final da década de 30 foi construído o Cine-Teatro
Itabuna, inaugurado em 1* de janeiro
de 1940, pelo empresário Arlindo Valverde,
considerado como o grande empreendimento da época. O Cine Odeon nessa época apresentou filmes de renome como
“Gavião do Mar” e “ E o Vento Levou”.
Nas décadas de 50 e 60, existiu o Cine Portugal, que
funcionava no Bairro de Fátima, junto à atual Igreja de Nossa Senhora de
Fátima. Era de propriedade dos portugueses. Suas instalações eram precárias, a
platéia se acomodava em bancos, cadeiras e latas de biscoito, que existia em
abundância, como um dos produtos comercializados pelos portugueses. Apesar da
falta de comodidade, eram exibidos filmes de sucesso.
De todos os cinemas de Itabuna, o que funcionou por
mais tempo foi o Cine-Teatro Itabuna, vendido para a Igreja Universal do Reino
de Deus. Era um dos mais modernos e possuía dois pavimentos, com capacidade
para 840 lugares. Como foi adaptado para teatro, possuía palco, cortinas e
camarim, e nele se apresentaram artistas famosos como Ângela Maria, Nelson Gonçalves, Emilinha
Borba, Francisco Carlos, Mayza, Orlando Silva, Rodolfo Maia, Procópio Ferreira,
Pedro Bloch, dentre outros.
Nas décadas de 60 e 70, as portas dos cinemas serviam
como ponto de encontro de namorados e
amigos. A garotada ali comparecia para
trocar no passeio gibi e guri. Nem
sempre os filmes trazidos para Itabuna rendiam o lucro esperado, principalmente
os considerados com um enredo culto. Os
filmes de mocinho e de aventura eram os que mais agradavam o público e
os donos de cinema.
Insatisfeitos com grande parte dos filmes apresentados
como de baixo nível artístico, um grupo
de jovens integrado por Adelino Kfoury, Roberto Midlej e José Penedo
Cavalcante, entre outros, fundaram o “Clube de Cinema de Itabuna”. Tinha como
finalidade o estudo, a defesa e a divulgação da arte cinematográfica. Os sócios
se reuniam no Cine Itabuna, em sessões fechadas, para assistir e discutir
filmes franceses, italianos, americanos como “Casablanca”, “Farrapo
Humano” e “ Marcados pela Sarjeta”.
Apesar de não ter vida longa, devido a motivos de
ordem econômica, pois as despesas eram rateadas entre os sócios, o Clube do Cinema tentou realizar uma produção de longa-metragem sobre
a região, denominada “Os Jagunços”. A produção, que homenagearia o
cinqüentenário da cidade, tinha argumento de Pedro Baracat e refletiria a sociedade cacaueira no início do
século.
De acordo com a monografia elaborada pela professora
Iolanda Costa, o cinema era tão importante em Itabuna por ser a distração de
todos, que, em 1956, estudantes
revoltados com a empresa Cavalcante depredaram o Cine Itabuna, tentando fazer o
mesmo com o Cine Plaza, o que foi evitado
graças à intervenção da polícia. Reivindicavam melhores acomodações e filmes de
boa qualidade. .
Havia insatisfação também com relação ao Cine Glória,
depois transformado em Cine Plaza. Em
1959, uma notícia publicada no
Diário de Itabuna informava que os alunos da Escola Técnica de Comércio
deixavam de freqüentar as aulas para ir ao cinema namorar. Revoltados, um grupo de estudantes depredou o cinema e
ainda levaram todo o dinheiro do caixa.
Naquela época já havia
interesse e preocupação em fazer com que o cinema tivesse uma função
educativa. Colunistas como Roberto Midlej, Pedro Baracat, Milton Rosário,
Nicolau Midlej, Hermes Magalhães e Carlos Henrique reivindicavam melhores
filmes, assentos condignos e fitas sem
cortes. Acusavam a entrada de menores em sessões impróprias e ainda a insensibilidade com algazarra da
platéia diante de um bom filme.
Em 1959, o empresário Teodoro Ribeiro Guimarães
anunciou a construção de um luxuoso cinema com capacidade para mais de mil
lugares; Era o Cine Marabá. Nesse mesmo ano, no Bairro do Cajueiro, hoje
Fátima, foi inaugurado o Cine Oásis, com o filme “Demetrius, o Gladiador”. Como
ficava próximo à zona do meretrício, tinha como costume a projeção de filmes de
sexo não explícito, embora às quartas-feiras fossem exibidos filmes de qualidade.
Na década de 60 surgiu o Cine Catalunha, inaugurado com o filme “Bem-Hur”, uma
superprodução épico-religiosa. Pertenceu ao empresário e político Paulo Nunes,
também proprietário da Radio Difusora. Aos domingos o seu palco era ocupado com
programas de auditório, animados por Titio Brandão e Germano da Silva. Esses
programas revelaram cantores regionais e
trouxeram para Itabuna artistas de expressão nacional.
Durante boa parte da década de 60, a cidade possuiu cinco
cinemas: Cine-Teatro Itabuna, Plaza, Oásis, Catalunha e Marabá. Nessa época, os
empresários Paulo Nunes e Washington Setenta
eram os donos dos melhores cinemas da cidade. Cada um deles queria que o
seu cinema apresentasse o melhor filme. Eram trazidos para Itabuna os filmes de
sucesso mundial, que formavam filas quilométricas para a compra de ingresso na
estréia.
Com a enchente de 1967, os cinemas Marabá e o Catalunha foram danificados pelas
águas. Apenas o Marabá foi reformado, mas não teve vida longa,
foi transformado em prédio comercial. Restaram apenas o Cine Itabuna e o
Oásis, que começaram a passar filmes de
bangue-bangue, Kung-Fu e pornô. A ausência de bons filmes, a crescente
sedução das televisões e do vídeo
cassete afastaram as famílias dos cinemas, que, aos poucos, foram fechando suas portas.
Nos anos 80 restava aos amantes do cinema uma última
opção: o Teatro Estudantil Itabunense (TEI), que funcionou como um cine clube.
Atualmente o prédio do Cine Itabuna abriga a Igreja Universal do Reino de Deus,
e o do Cine Catalunha, o Colégio Galileu. No prédio onde funcionou o Cine
Oásis há uma revenda de automóveis
usados. No do Marabá funciona uma galeria de lojas e onde foi o Plaza uma
academia de ginástica.
Duas modernas salas de cinema foram montadas em
2001, no Jequitibá Plaza
Shopping, pela empresa Starplex. A iniciativa chegava para desmistificar a
concorrência sofrida pelos cinemas
através da televisão e o vídeo cassete. Esses cinemas vêm exibindo
filmes de qualidade, com lançamento recente em todo o Brasil. Os que gostam da
sétima arte têm lotando suas salas.
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