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sábado, 28 de julho de 2018


OS BONS TEMPOS DO CINEMA EM ITABUNA

A  Sétima Arte teve seus dias de glória em Itabuna. Além das casas de espetáculos – cinemas -, alguns itabunenses tentaram entrar para o seleto grupo de consagrados diretores, mas não alcançaram o sucesso esperado. O cinema em Itabuna foi objeto de monografia de especialização em história regional, escrita pela professora Iolanda Brito Costa, que pesquisou esse tipo de lazer havido na cidade durante  quase 80 anos.
Informa a professora Iolanda Costa que nessa época Itabuna pode contar com aproximadamente  15 cinemas, alguns espaços para projeções cinematográficas e outros dois clubes de cinema. “ Como uma das principais formas de lazer e entretenimento  de uma cidade que se fez  à  sombra dos cacauais e da riqueza de suas safras, o cinema seduziu, mostrou o mundo, disseminou idéias, ditou comportamentos”, revelou  a professora.
Tratava-se de uma novidade. Em 1908, um cinema ambulante já conseguia desviar a atenção do público que participava da Santa Missão pregada pelos padres capuchinhos. Porém,  foi somente em 1915 que o fotógrafo Omar Cana Brasil instalou um Pathé e o filme: “Os Últimos Dias de Pompéia” fez sua estréia em um armazém situado na Travessa  Oswaldo Cruz, 29. Como ainda eram projeções mudas, aconteciam acompanhadas  de músicas tocadas pelos  músicos locais.
Em 1918,  Antônio da Silveira inaugurou o Ideal Cinema com o filme “Madame Bovary”, estrelado por  Póla Negri. Ainda não havia casas apropriadas para os espetáculos. No Ideal Cinema também eram apresentados atores locais. Nessa época também foi instalado, pelos padres vicentinos, o Cinema Recreio, com o objetivo de angariar recursos para a construção de um asilo.
Uma das curiosidades pesquisadas em livros e na imprensa local,  citadas na monografia da professora Iolanda Costa, foi o sonho de fazer a sétima arte em Itabuna por amadores. Arlindo Silveira e Brasilino Nery projetavam filmes de atualidades, notícias e reportagens, como também faziam filmagens, que passavam em reuniões sociais. Uma dessas filmagens foi uma batalha entre o Tiro de Guerra e os bandidos Cauaçus, que   certa vez tinham invadido a cidade.
 O Cine Ita surgiu nos idos de 1925, na rua Quartel Velho, hoje Rui Barbosa, próximo à Padaria Modelo. Por ficar situada em local próximo à zona do meretrício, ficou conhecido como “Cinema Cai Nágua” e “Poeira”. Seus freqüentadores eram, em sua maioria, vadios, bêbados, arruaceiros e analfabetos. Os assentos eram do tipo “galinheiro”, como os de circo, e muitos filmes eram legendados. Devido a isso, pessoas letradas como Otoni Silva faziam a leitura e recebiam a entrada como pagamento.
Os filmes eram alugados em Salvador e vinham para serem projetados em vários cinemas ao mesmo tempo. Primeiro eles passavam no Ideal ou Elite,  e logo depois um portador corria para entregar a fita para ser exibida  no Ita. Quando havia qualquer contratempo, a platéia ameaçava com um “quebra-quebra”. Localizado na atual Avenida do Cinqüentenário, onde funcionou a loja Os Gonçalves, o Elite Cinema ficou conhecido  pelo fato costumeiro de o seu gerente anunciar os próximos filmes: “Amanhã vai passar o cowboy na sessão da noite. Tem porrada como  corno!”
Com a chegada do cinema falado,  musicais com os cantores  Martha Egerth e Dick Powel, românticos com Greta Garbo e John Gilbert, o anúncio  dos filmes passou a ser divulgado em jornais da época. As sessões com filmes de nudez eram projetadas somente para homens e em horários especiais. Enciumadas, as mulheres perguntavam umas às outras, bo círculo das amigas íntimas,  se os maridos  tinham ido realmente ao cinema naquela oportunidade para assistirem cenas imorais.
No final da década de 30 foi construído o Cine-Teatro Itabuna, inaugurado em    1* de janeiro de 1940, pelo empresário Arlindo Valverde,  considerado como o grande empreendimento da época. O Cine Odeon  nessa época apresentou filmes de renome como “Gavião do Mar” e “ E o Vento Levou”.
Nas décadas de 50 e 60, existiu o Cine Portugal, que funcionava no Bairro de Fátima, junto à atual Igreja de Nossa Senhora de Fátima. Era de propriedade dos portugueses. Suas instalações eram precárias, a platéia se acomodava em bancos, cadeiras e latas de biscoito, que existia em abundância, como um dos produtos comercializados pelos portugueses. Apesar da falta de comodidade, eram exibidos filmes de sucesso.
De todos os cinemas de Itabuna, o que funcionou por mais tempo foi o Cine-Teatro Itabuna, vendido para a Igreja Universal do Reino de Deus. Era um dos mais modernos e possuía dois pavimentos, com capacidade para 840 lugares. Como foi adaptado para teatro, possuía palco, cortinas e camarim, e nele se apresentaram artistas famosos como  Ângela Maria, Nelson Gonçalves, Emilinha Borba, Francisco Carlos, Mayza, Orlando Silva, Rodolfo Maia, Procópio Ferreira, Pedro Bloch, dentre outros.
Nas décadas de 60 e 70, as portas dos cinemas serviam como  ponto de encontro de namorados e amigos. A garotada ali comparecia  para trocar   no passeio gibi e guri. Nem sempre os filmes trazidos para Itabuna rendiam o lucro esperado, principalmente os considerados com um enredo culto. Os  filmes de mocinho e de aventura eram os que mais agradavam o público e os donos de cinema.
Insatisfeitos com grande parte dos filmes apresentados como de baixo nível artístico,  um grupo de jovens integrado por Adelino Kfoury, Roberto Midlej e José Penedo Cavalcante, entre outros, fundaram o “Clube de Cinema de Itabuna”. Tinha como finalidade o estudo, a defesa e a divulgação da arte cinematográfica. Os sócios se reuniam no Cine Itabuna, em sessões fechadas, para assistir e discutir filmes franceses,  italianos,  americanos como “Casablanca”, “Farrapo Humano” e “ Marcados pela Sarjeta”.
Apesar de não ter vida longa, devido a motivos de ordem econômica, pois as despesas eram rateadas entre os sócios, o  Clube do Cinema tentou  realizar uma produção de longa-metragem sobre a região, denominada “Os Jagunços”. A produção, que homenagearia o cinqüentenário da cidade, tinha argumento de Pedro Baracat e  refletiria a sociedade cacaueira no início do século.
De acordo com a monografia elaborada pela professora Iolanda Costa, o cinema era tão importante em Itabuna por ser a distração de todos,  que, em 1956, estudantes revoltados com a empresa Cavalcante depredaram o Cine Itabuna, tentando fazer o mesmo com o Cine Plaza, o  que foi evitado graças à intervenção da polícia. Reivindicavam melhores acomodações e filmes de boa qualidade. .
Havia insatisfação também com relação ao Cine Glória, depois transformado em Cine Plaza. Em 1959,  uma notícia   publicada no  Diário de Itabuna informava que os alunos da Escola Técnica de Comércio deixavam de freqüentar as aulas para ir ao cinema namorar. Revoltados,   um grupo de estudantes depredou o cinema e ainda levaram todo o dinheiro do caixa.
Naquela época já havia  interesse e preocupação em fazer com que o cinema tivesse uma função educativa. Colunistas como Roberto Midlej, Pedro Baracat, Milton Rosário, Nicolau Midlej, Hermes Magalhães e Carlos Henrique reivindicavam melhores filmes, assentos condignos e fitas  sem cortes. Acusavam a entrada de menores em sessões impróprias e  ainda a insensibilidade com algazarra da platéia diante de um bom filme.
Em 1959, o empresário Teodoro Ribeiro Guimarães anunciou a construção de um luxuoso cinema com capacidade para mais de mil lugares; Era o Cine Marabá. Nesse mesmo ano, no Bairro do Cajueiro, hoje Fátima, foi inaugurado o Cine Oásis, com o filme “Demetrius, o Gladiador”. Como ficava próximo à zona do meretrício, tinha como costume a projeção de filmes de sexo não explícito, embora às quartas-feiras fossem  exibidos filmes de qualidade.
Na década de 60 surgiu o Cine Catalunha,  inaugurado com o filme “Bem-Hur”, uma superprodução épico-religiosa. Pertenceu ao empresário e político Paulo Nunes, também proprietário da Radio Difusora. Aos domingos o seu palco era ocupado com programas de auditório, animados por Titio Brandão e Germano da Silva. Esses programas revelaram  cantores regionais e trouxeram para Itabuna artistas de expressão nacional.
Durante boa parte da década de 60, a cidade possuiu cinco cinemas: Cine-Teatro Itabuna, Plaza, Oásis, Catalunha e Marabá. Nessa época, os empresários Paulo Nunes e Washington Setenta  eram os donos dos melhores cinemas da cidade. Cada um deles queria que o seu cinema apresentasse o melhor filme. Eram trazidos para Itabuna os filmes de sucesso mundial, que formavam filas quilométricas para a compra de ingresso na estréia.
Com a enchente de 1967, os cinemas  Marabá e o Catalunha foram danificados pelas águas. Apenas o Marabá foi reformado, mas não teve  vida longa,  foi transformado em prédio comercial. Restaram apenas o Cine Itabuna e o Oásis,  que começaram a passar filmes de bangue-bangue, Kung-Fu e pornô. A ausência de bons filmes, a crescente sedução  das televisões e do vídeo cassete afastaram as famílias dos cinemas, que, aos poucos,  foram fechando suas portas.
Nos anos 80 restava aos amantes do cinema uma última opção: o Teatro Estudantil Itabunense (TEI), que funcionou como um cine clube. Atualmente o prédio do Cine Itabuna abriga a Igreja Universal do Reino de Deus, e o do Cine Catalunha, o Colégio Galileu. No prédio onde funcionou o Cine Oásis  há uma revenda de automóveis usados. No do  Marabá funciona  uma galeria de lojas e onde foi o Plaza uma academia de ginástica.
Duas modernas salas de cinema foram montadas  em  2001,  no Jequitibá Plaza Shopping, pela empresa Starplex. A iniciativa chegava para desmistificar a concorrência sofrida pelos cinemas  através da televisão e o vídeo cassete. Esses cinemas vêm exibindo filmes de qualidade, com lançamento recente em todo o Brasil. Os que gostam da sétima arte têm  lotando suas salas.  
  

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