Poemas
do Negro
Por
Cyro de Mattos
Abolição
Na zoeira do terreiro
Batucam que batucam
Tambores sem cambão.
Trepidam nesses punhos
O suor, a lágrima, o sangue
Nos rastros do negro fujão.
Todos batem nesse tambor,
Pode até não ser de fato
A tão esperada abolição.
Mas é o começo duma hora
Que se faz tão grandiosa
Como o verde na amplidão.
África agora é uma só voz
Na esperança das manhãs
Sem o ferro do vilão.
Canga
Não
se logra extrair
Os
ossos dessa massa,
Os
músculos mutilados
No
esforço dos anos.
Tuas
mãos, escravas,
Alimentadas
na turva
Ferida,
dor sem cura.
A
atrocidade no ferro
Que
furou o coração,
A enchente na vala
Que
transbordou de mágoa,
Nuvens
não tocadas.
Nunca
será paga a conta
Na
mancha que envergonha.
Como
herança os rastros
Dessa
noite escura na pele
Que
te lança nos muros,
Agarra-te nas
manhãs
Com
sua claridade vista
Apenas
pelos não pretos.
Até
quando barreiras
De
tua cor opaca farão
Da
vida uma coisa qualquer,
Desigual,
desvão sem canto?
Pelourinho
Como
suportar?
Treze...
trinta... cinqüenta...
Até
o último gemido.
Os
outros olhando
Cada
chibatada. Tristes,
Sem
nada fazer.
Ladeiras
gastas.
E esse vento que recusa
Ao largo a desgraça.
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