Euclides
Neto e Seu Romance Machombongo
Cyro de Mattos
Se com o romance Comercinho
do Poço Fundo ( 1979) e a novela Os
genros (1981) o ficcionista Euclides Neto passa a ocupar um lugar de destaque
na expressiva literatura da região cacaueira na Bahia, é com o livro Machombongo (1986) que o escritor de Ipiaú
consegue realizar a sua obra de ficção mais bem estruturada em termos de
novelística moderna.
Escritor que dá, em alguns de seus
romances, um testemunho significativo de acontecimentos e vivências nas terras
do cacau, outrora ricas, registrando emoções,
expressões e cenas típicas de uma realidade que tão bem conhece, Euclides Neto
não coloca no coração do camponês a alegria que ele não possui. Não caminha
também por certo regionalismo espiritual em que as impressões colhidas pelo
ficcionista vão formando o clima da história, a atmosfera que sustenta a
narrativa, deixando num plano secundário o ambiente onde os personagens vão
mover seu drama.
Euclides Neto não transfigura a
realidade da região cacaueira na Bahia e nesta não instaura um império de tragicidade
por onde as criaturas terão de inexoravelmente cavar as próprias sepulturas. O
seu compromisso é antes de tudo com a realidade social, de exploradores e
explorados em torno da lavoura cacaueira, da terra que brota o seu processo
econômico com novos aspectos nos tempos atuais.
Escritor experimentado, fiel à
problemática social de sua região, Euclides Neto evita a gratuidade de certo
esteticismo regionalista. Com um estilo vigoroso, impregnado de oralidade,
muitas vezes com a linguagem recriada de maneira feliz, o romancista em Machombongo mais uma vez mostra ser
conhecedor de sua arte, da psicologia de sua gente, da condição de miséria em
que populações abandonadas vivem em sua região. E com isso nos dá em Machombongo um romance que é o
resultado bem-acabado de ficção imbricada na realidade, envolvendo aspectos
sociais, econômicos e culturais do homem como animal político.
Machombongo trata
dos desmandos do deputado Rogaciano, homem prepotente e atrabiliário,
fazendeiro de cacau e pecuária, que antes do golpe militar de 64 já possuía
muitas terras, mas que foi ampliando seu império durante o tempo da ditadura,
quando passou a ter ampla influência na vida dos habitantes de sua região, no
sudoeste baiano. Romance poderoso, de tema atual, relato da escalada ao poder
do deputado Rogaciano em um teatro típico, com suas implicações psicológicas do
coronel da região cacaueira na Bahia.
Romance que, se fosse assinado por
Jorge Amado, teria certamente grande ressonância no Brasil e, como sempre, correria
o mundo.
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Cyro de Mattos é poeta e escritor. .
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