OS 100 ANOS DE NASCIMENTO DE CLARICE LISPECTOR
Ricardo
Cravo Albin
Nesta
quinta feira a literatura está em festas. A celebração dos 100 anos de Clarice
Lispector representa mais, muito mais, para o fazer literário, o escrito na
língua portuguesa, do que pode avaliar nossa apelidada “vã consciência”.
Clarice,
que se intitulava mais uma jornalista do que escritora, errou em sua auto
avaliação. Porque tudo que fez manejando palavras e o estímulo do intelecto em
forma de arte ficou revestido de um grau superior e universal.
Por
essa razão, acode-me a memória das muitas conversas que mantínhamos dentro do
Conselho de Literatura do Museu da Imagem e do Som, de que ela participava a
meu convite tanto na busca dos nomes para os depoimentos destinados à
posteridade quanto para escolha dos prêmios Golfinho de Ouro e Estácio de Sá, os
melhores do ano em literatura. Ao final da tarde, o Conselho de Literatura já
encerrado, eu levava Clarice ao seu apartamento no Leme, na Gustavo Sampaio.
Evoco
essa memória de amizade e admiração porque já naquela época muitos críticos
intuíam dentro e fora do Conselho que caberia à Clarice uma consagração
internacional. Sua literatura absolutamente original para a época estimulava o
futuro, projetava audácia, arquitetava beleza e surpresa.
Seguem
abaixo, tanto como farei amanhã com seu vizinho de data de aniversário, Noel
Rosa, algumas frases que definem a essência do seu pensamento provocador.
1-
“Não entendo, apenas sinto. Tenho medo de um dia entender e deixar de sentir.”
2-
“Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o
defeito que sustenta nosso edifício inteiro.”
3-
“Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu
mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer
entendimento.”
4-
“Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.”
5-
“O amor já está, está sempre. Falta apenas o golpe da graça - que se chama
paixão.”
6-
“Mas há a vida que é para ser intensamente vivida. Há o amor. Que tem que ser
vivido até a última gota. Sem nenhum medo. Não mata.”
7-
“Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar.”
8-
“Que minha solidão me sirva de companhia. Que eu tenha a coragem de me
enfrentar. Que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se
estivesse plena de tudo.”
9-
“Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de
entrar em contato... Ou toca, ou não toca.”
10-
“E se me achar esquisita, respeite também. Até eu fui obrigada a me respeitar.”
11-
“Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de
fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada.”
12-
“Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam.”
Como
fiz questão de que o Pen Clube Internacional do Brasil a homenageasse, repito aqui
a frase que encimou toda a correspondência do nosso Organismo Internacional.
2020
– ANO DOS 100 ANOS DE CLARICE LISPECTOR
·
Ricardo Cravo
Albin é presidente do Pen Clube do Brasil.
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