Bilhete do Menino
Cyro de Mattos
Vou escrever
a Jesuscristinho
no pedaço
deste papelão
que achei
lá na rua
onde cato
só espinho,
pego cisco
no olho
e apanho
vento
na cara.
Quanta noite
sem sono,
quanta pedra
na capanga,
quanta poeira
e topada.
Nessa estrada
tão comprida
que eu não sei
onde começa
nem tampouco
onde acaba,
vá desculpando
os garranchos,
a mão que treme,
a letra torta,
a lenga-lenga
por não ter
uma bola
de borracha
ou até mesmo
de gude
umas duas.
Não esqueça
de lembrar
à minha madrinha
Nossa Senhora
que nunca
tive uma
caneta,
um caderno,
uma borracha
e nunca fui
a uma escola.
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