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sábado, 2 de dezembro de 2023

 

Bilhete do Menino

Cyro de Mattos

 

Vou escrever

a Jesuscristinho

no pedaço  

deste papelão

que achei

lá na rua  

onde cato

só espinho,

pego cisco

no olho

e apanho

vento

na cara.

 

Quanta noite

sem sono,

quanta pedra

na capanga,

quanta poeira

e topada.

 

Nessa estrada

tão comprida

que eu não sei

onde começa

 nem tampouco

onde acaba,

vá desculpando

os garranchos,

a mão que treme,

a letra torta,

a lenga-lenga

por não ter

uma bola

de borracha

ou até mesmo

de gude

umas duas.

 

Não esqueça

 de lembrar

à minha madrinha

Nossa Senhora

que nunca

tive uma

caneta,

um caderno,

uma borracha

e nunca fui

a uma escola.

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