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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

 

 

Meu Bahia na mocidade  

 Cyro de Mattos 

Depois que vi o Bahia jogar em minha cidade natal, no velho Campo da Desportiva, passei a ter duas paixões como fiel torcedor de um time grande de futebol. Agora era torcedor do Vasco da Gama do Rio e do Bahia de Salvador.

Já crescido, esse mesmo menino dentro do rapaz, que fora estudar em Salvador, saberia das gloriosas conquistas de seu novo time de futebol com as cores azul, vermelho e branco.  Procediam do querido Bahia, famoso tricolor de aço, um time sem igual, o que nasceu para vencer na boca do torcedor. O moço do interior apegara-se tanto ao famoso esquadrão tricolor que não parava de torcer na arquibancada de cimento do estádio da Fonte Nova durante o desenrolar da partida.

Tinha certeza da batalha vencida quando a partida jogada era válida pelo campeonato estadual. Vibrava inquieto com as jogadas magistrais dos craques de seu time do coração, ídolos para ver e não esquecer. No meio da torcida desfraldava a bandeira de seu amado tricolor baiano, não perdia um jogo, soltava da garganta o grito de gol com todas as forças que pudesse retirar do coração de adolescente.    

         As vitórias desse Bahia vitorioso empolgavam, atravessam agora a memória do torcedor idoso e se aninham no fundo do gol como se o ontem fosse o hoje. Emerge do fumo do tempo com a sua maneira afetiva e festiva de se manifestar no teatro da bola. Tem o hábito de fazer com que o torcedor seja capaz de se reinventar diante do sol partindo-se na gargalhada da vitória. É o autor de proezas como poucos times conseguem realizar quando então a torcida entra em delírio, justamente no momento em que a bola foi morrer no fundo do gol quando a derrota parecia ser inevitável. Bahia! Bahia! Bahia! O grito sonoro de mais um Bahia, repetido seguidas vezes, de repente inventa um coral diferente com o qual o pobre fica rico, o gago aprende a falar, qualquer um se torna herói ante os maiores desafios da vida.

           O grito do torcedor entusiasmado propaga-se com os sons da alegria derramados ao toque do hino eletrizante do time, a invadir as ruas e os becos da cidade de santos e orixás.  Em pouco instante a maior felicidade cabe em vários cantos da cidade com a sua beleza antiga, vibra por onde o trio elétrico segue tocando o hino do esquadrão de aço. A festa da vitória irrompe e não cessa com as vozes do amor impregnadas de fé pelo time mais popular da Bahia.  

           Há muito tempo soube que a vida tem algo diferente para o torcedor do Bahia. Principalmente quando a bola balança a rede do gol adversário com o chute desferido pelo craque Léo Briglia. Num pacto da emoção com a paixão, selado com a conquista de outro campeonato, há então um torcedor veemente que proclama:

            - Deus me livre não ser torcedor do Bahia!  

           Ah, meu Bahia, de uns anos para cá, vejo-te tropeçando nas pernas, sem aquela garra e técnica admiráveis, que o faziam brilhar com as vitórias nos gramados baianos e de fora. Ando meio sem graça com sua performance, rolando nos últimos lugares do campeonato brasileiro de futebol, lutando para não ser rebaixado para a segunda divisão. Como dói. Tenho saudades de mim, daquele moço vindo interior para cantar teu hino brioso no estádio cheio da fonte Nova.

 

Somos a turma tricolor

Somos a voz do campeão

Somos do povo um clamor

 

Ninguém nos vence em vibração!

Vamos, avante, esquadrão!

Vamos, serás o vencedor!...

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