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terça-feira, 26 de março de 2024

 

Dois Poemas na Semana Santa

Cyro de Mattos

 

Via impiedosa  

 

Cuspido no caminho  

por onde passa respinga

sangue dos espinhos  

que a carne perfura.

Do ódio não desistem 

gargantas que apedrejam,

  uma coroa sabe a dor

 do vento nas manadas

sem rumo enfurecidas. 

 

Todos os rancores   

vergastam no rosto,     

abomináveis renegam

a união como verdade.  

Tudo é solidão, é dor,      

o mundo que se cala

com a surra desferida  

 no rei único do perdão.  

 

Pelas ofensas cometidas,

sei que não sou digno

de entrar em tua morada,

mas basta uma só palavra 

para que eu seja salvo.   

Em tuas mãos entregue,

 faz de mim tua criatura, 

recolhe-me da injusta onda

entre vilezas tantas vezes

tingindo de roxo o coração.  


Canto de Amor

 E todo este peso

terrestre fez-se abrigo

na flor da comunhão,

de braços abertos

clamas como cacto

em amanhecer áspero

de vento sem querer

teu gesto da fraternidade.

 

E dignos não somos

de olhar este rosto

que pende no amor

do sangue derramado.

Solitários caminhos

 sem ternura cruzamos

sem querer ouvir tua voz

onde tudo é amor e perdão.

 

De teu canto do bem

pelos que têm fome e sede

há o sentimento que vem,

pode ir-se no dilema do pacto.

Das tuas boas obras fica 

o impacto mais poderoso

do ofertar do que em receber.

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