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terça-feira, 15 de abril de 2014

Um Fotógrafo Exemplar





Emerson Trindade Carregosa, o nome de batismo, mas é conhecido como seu Emerson, o fotógrafo mais antigo da cidade.  Aquele que vem há muito tempo gravando a vida de gente e paisagem urbana  na foto, mas que bem sabe ser a melhor imagem a que a mente grava. O coração recolhe para sempre,  dado que essa imagem de tão sensitiva detém o tempo e com suas cores próprias pulsa dentro de nós enquanto dure a vida.
Nascido em 30 de junho de 1918, na cidade de Paripiranga, Bahia. Perdeu o pai aos quatro anos de idade. Começou a trabalhar com o seu tio quando tinha apenas doze anos de idade. O tio era dono de uma fábrica de calçados. Antes de se dedicar à arte de fotografar, foi modelador de calçados, vendedor de apólices de seguro da previdência e capitalização, escrivão do júri e execuções  criminais.
Veio para o Sul da Bahia em maio de 1948 quando então passou a vender ampliações fotográficas. Foi residir em Itajuípe e, na antiga Pirangi,  casou com Estelita. Dessa união teve sete filhos. Montou uma fábrica de calçados em Itajuípe. Desquitou-se mais tarde e retornou com os filhos para a sua terra natal, pensando em criá-los junto à sua família. Tempos depois resolveu voltar para o Sul da   Bahia, onde passou a residir em Itabuna e aqui encontrou sua segunda mulher, Bernadete, que o auxilia até hoje em sua atividade cotidiana de fotógrafo.
De primeiro abriu uma loja de calçados  na avenida Cinquentenário, no prédio onde está instalado o Lord Hotel. Anos mais tarde passou a exercer a profissão de repórter fotográfico. Nenhum dos filhos seguiu essa última e definitiva profissão do pai. Inclinação vocacional que o levou a fazer um projeto de vida. Fez como fotógrafo importantes coberturas de eventos. Eleição da itabunense Maria Olívia Rebouças como Miss Brasil., de Telma Brandão como Miss Bahia e a enchente do rio Cachoeira em 1967, que derrubou casas ribeirinhas e invadiu a avenida do comércio, alcançando a marquise dos prédios.  
  Para um homem de oitenta anos de idade, seu Emerson mostra-se lúcido, encontra-se bem de corpo e alma. Sua lucidez, que emerge de um homem simples,  sem qualquer vestígio de truculência com os ressentimentos da vida,  une-se  sem esforço à ausência da intriga  e ambições pessoais desmedidas, que se direcionam na trama do caráter negativo para anular os outros. Sem rancores e pesares, não procura destruir quem tem valor no exercício da arte de fotografar.  É bom aprender com ele que qualquer um pode viver e alcançar metas sem atropelar os demais. Reconhecer o que o outro traz de positivo  à vida deve ser  um das posturas éticas  de cada um,  comprovando-se por isso mesmo que somos de fato humanos, seres dotados da razão e  emoção,  diferentes dos bichos. Amar o outro gera a flor sonora da solidariedade, verdade e honestidade, nesses tempos tão banidas do convívio humano.  Os gestos de seu Emerson, assim desprovidos de ventos malignos,  causam admiração a quem vê.  Sabe-se que as mais antigas fotos que ele logrou tirar da cidade  formam um acervo muito rico. São bonitas e  naturais,  nelas são vistos fatos marcantes que aconteceram na cidade ao longo dos anos.  
 Com tantos anos dedicados à arte da fotografia, mais de cinqüenta, é justo reconhecer que o fotógrafo Emerson tornou-se  uma personalidade cultural importante na cidade. Ele vem prestando serviços relevantes à comunidade e por isso recebe o apreço dos concidadãos, que o consideram um mestre na arte de fotografar os itabunenses,  sob os instantes da vida que passa, debaixo de sol ou chuva.  
Seu Emerson manteve funcionando durante quarenta e sete anos  seu estúdio, localizado na Avenida Cinquentenário, 437. Fechou o estabelecimento há três anos. Funciona hoje na própria residência, situada na Rua Francisco Ferreira da Silva, 517, bairro de Fátima. Lá continua  fotografando a vida para iluminar seres e coisas ao redor de nós mesmos. Sua arte tem o privilégio de apresentar  um momento  de nossa existência nos ritos do cotidiano ou de flagrar a paisagem exterior  como reprodução agradável  do que vemos.
De tal sorte ela consiste em preservar  nossa humanidade salva   durante muito tempo,  isenta do esquecimento pelos ossos do tempo.   






                            

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