Um Fotógrafo Exemplar
Emerson Trindade Carregosa, o nome de batismo, mas é conhecido como seu Emerson, o fotógrafo mais antigo da cidade. Aquele que vem há muito tempo gravando a vida de gente e paisagem urbana na foto, mas que bem sabe ser a melhor imagem a que a mente grava. O coração recolhe para sempre, dado que essa imagem de tão sensitiva detém o tempo e com suas cores próprias pulsa dentro de nós enquanto dure a vida.
Nascido em 30 de junho de 1918, na cidade de Paripiranga, Bahia. Perdeu o pai aos quatro anos de idade. Começou a trabalhar com o seu tio quando tinha apenas doze anos de idade. O tio era dono de uma fábrica de calçados. Antes de se dedicar à arte de fotografar, foi modelador de calçados, vendedor de apólices de seguro da previdência e capitalização, escrivão do júri e execuções criminais.
Veio para o Sul da Bahia em maio de 1948 quando então passou a vender ampliações fotográficas. Foi residir em Itajuípe e, na antiga Pirangi, casou com Estelita. Dessa união teve sete filhos. Montou uma fábrica de calçados em Itajuípe. Desquitou-se mais tarde e retornou com os filhos para a sua terra natal, pensando em criá-los junto à sua família. Tempos depois resolveu voltar para o Sul da Bahia, onde passou a residir em Itabuna e aqui encontrou sua segunda mulher, Bernadete, que o auxilia até hoje em sua atividade cotidiana de fotógrafo.
De primeiro abriu uma loja de calçados na avenida Cinquentenário, no prédio onde está instalado o Lord Hotel. Anos mais tarde passou a exercer a profissão de repórter fotográfico. Nenhum dos filhos seguiu essa última e definitiva profissão do pai. Inclinação vocacional que o levou a fazer um projeto de vida. Fez como fotógrafo importantes coberturas de eventos. Eleição da itabunense Maria Olívia Rebouças como Miss Brasil., de Telma Brandão como Miss Bahia e a enchente do rio Cachoeira em 1967, que derrubou casas ribeirinhas e invadiu a avenida do comércio, alcançando a marquise dos prédios.
Para um homem de oitenta anos de idade, seu Emerson mostra-se lúcido, encontra-se bem de corpo e alma. Sua lucidez, que emerge de um homem simples, sem qualquer vestígio de truculência com os ressentimentos da vida, une-se sem esforço à ausência da intriga e ambições pessoais desmedidas, que se direcionam na trama do caráter negativo para anular os outros. Sem rancores e pesares, não procura destruir quem tem valor no exercício da arte de fotografar. É bom aprender com ele que qualquer um pode viver e alcançar metas sem atropelar os demais. Reconhecer o que o outro traz de positivo à vida deve ser um das posturas éticas de cada um, comprovando-se por isso mesmo que somos de fato humanos, seres dotados da razão e emoção, diferentes dos bichos. Amar o outro gera a flor sonora da solidariedade, verdade e honestidade, nesses tempos tão banidas do convívio humano. Os gestos de seu Emerson, assim desprovidos de ventos malignos, causam admiração a quem vê. Sabe-se que as mais antigas fotos que ele logrou tirar da cidade formam um acervo muito rico. São bonitas e naturais, nelas são vistos fatos marcantes que aconteceram na cidade ao longo dos anos.
Com tantos anos dedicados à arte da fotografia, mais de cinqüenta, é justo reconhecer que o fotógrafo Emerson tornou-se uma personalidade cultural importante na cidade. Ele vem prestando serviços relevantes à comunidade e por isso recebe o apreço dos concidadãos, que o consideram um mestre na arte de fotografar os itabunenses, sob os instantes da vida que passa, debaixo de sol ou chuva.
Seu Emerson manteve funcionando durante quarenta e sete anos seu estúdio, localizado na Avenida Cinquentenário, 437. Fechou o estabelecimento há três anos. Funciona hoje na própria residência, situada na Rua Francisco Ferreira da Silva, 517, bairro de Fátima. Lá continua fotografando a vida para iluminar seres e coisas ao redor de nós mesmos. Sua arte tem o privilégio de apresentar um momento de nossa existência nos ritos do cotidiano ou de flagrar a paisagem exterior como reprodução agradável do que vemos.
De tal sorte ela consiste em preservar nossa humanidade salva durante muito tempo, isenta do esquecimento pelos ossos do tempo.
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