Penso que um futebol de jogadores com
boa técnica, que se exibiam no velho e
saudoso Campo da Desportiva, não deveria ficar esquecido. Merece um museu para que um dos aspectos de nossa memória
seja valorizada. Estudos para que as
novas gerações tomem conhecimento de que
é o homem que faz o lugar e não o lugar
que faz o homem. É preciso que seja
explicado melhor. Como nasceu e se desenvolveu com tão boas qualidades, em seu
longo curso de amadorismo. Avaliado nas razões de como jogadores que não eram
profissionais, numa época distante do interior baiano, longe de centros
esportivos desenvolvidos, como Rio e São Paulo, ou até Recife, Belo Horizonte e Porto Alegre, deram
espetáculos com um potencial técnico surpreendente, movido com arte e emoção.
Jogadores amadores que podiam vestir a camisa de grandes clubes brasileiros, se tivessem
atuando hoje. Não será exagero afirmar que com sorte alguns desses jogadores
poderiam chegar até mesmo à Seleção
Brasileira. Como aconteceu com Perivaldo, que surgiu no declínio do Campo da
Desportiva, ou com outros de época mais recente, quando então os meios de
comunicação fazem ficar conhecidos os atletas que jogam em lugares distantes desse imenso
Brasil.
Sem ufanismo, sabem
como eu os mais antigos desportistas de Itabuna, alguns deles hoje passando dos
setenta anos, que aqueles jogadores amadores escreveram, no piso esburacado de
um estádio acanhado, páginas belas de uma das nossas maiores paixões populares.
Basta dizer que meio século depois nenhuma cidade do interior da Bahia
conseguiu igualar o feito da seleção amadora de Itabuna, campeã seis vezes
seguidas pelo Intermunicipal. Antes de alcançar essa marca, venceu o Torneio Antonio Balbino, em Salvador, no
qual participaram as boas seleções de Feira de Santana, Ilhéus, Santo Amaro,
São Félix e Alagoinhas.
Publiquei o livro “O Velho Campo
da Desportiva” para contribuir um pouco com a preservação dessa memória. E,
quando fui presidente da Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania, promovi o documentário “Saudosa Desportiva,
Gloriosa Seleção”, dirigido pelas talentosas cineastas Adrian Greyce e Paula
Martins. A exibição desse documentário
foi um sucesso. Juntamente com a distribuição do DVD e de exemplares do
meu livro, encheu as dependências do
Centro de Cultura Adonias Filho. O documentário “Saudosa Desportiva, Gloriosa
Seleção” tocou os corações dos que compareceram ao evento, familiares de
jogadores, torcedores daquela época do futebol amador, curiosos de ontem e
hoje. Naquela oportunidade, uma seleção amadora de futebol ressurgiu do fumo do
tempo para mostrar na tela uma das faces da alma do povo brasileiro: o futebol.
Jogado com emoção e garra, classe e algum feitiço no campinho do interior.
Sempre estou agradecendo àqueles
artistas da bola na época de ouro de nosso futebol amador, pelas alegrias que me deram no velho e saudoso
Campo da Desportiva. Deles e do velho campo, que tinha a arquibancada coberta
de zinco, não posso, não devo
esquecer. Como neste poema que acabo de
escrever e divulgo a seguir:
Soneto do Campo da Desportiva
De zinco era coberta
a arquibancada,
A cancha tinha um
piso esburacado.
Nem um pouco essa
chuva demorada
Conseguia deixar
desanimado
O torcedor, que
curtia a jogada
Do seu ídolo na bola
passada.
Dos pés a mágica
mostrava ser
Tudo um sonho para
nunca esquecer.
O gol de placa do
atacante quando
A partida já chegava
ao final
E a marca da seleção
que venceu
Tantas vezes o
intermunicipal
Seguiram-me na
torcida de meu
Grito feliz com o
futebol no mundo.
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