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quinta-feira, 12 de junho de 2014

Passeio pela Espanha


           
            A estrada bem sinalizada nas curvas, encostas e cruzamentos. O ônibus desliza no asfalto, tem a maciez de um colchão. Dá sono esta viagem que atravessa planícies, uma paz que suaviza a alma. Campos de trigo como imensos lençóis até a curva do horizonte.   Uma família portuguesa, com certeza de classe média, rostos de cada um até certo ponto afável, ocupa poltronas  perto  da minha.  Um casal de velhos puxa conversa para saber o que aconteceu com o avião seqüestrado depois de decolar no aeroporto de Nova Iorque, levando cento e cinqüenta passageiros. O velho ouviu a notícia no quarto, estava arrumando a mala para a excursão a Madri. Plantão da TV Planeta.  A velha, com veias grossas nas mãos magras, cabelos alvos e sedosos, disse que o avião explodiu sobre o oceano. A mãe do menino põe  a mão na boca horrorizada. Santo Deus, que barbaridade! (o pai do menino).
            O ônibus faz a segunda parada nas imediações de Toledo. Trinta minutos para apreciarmos a cidade ali do alto. Da balaustrada podemos tirar fotos e filmar. No retorno de Madri, vamos conhecer Toledo por dentro. Puerta Bisagra, Castillo Visigodo, Calle de Santa Isabel, Casa del Greco, a Catedral famosa e outros locais importantes. O guia anuncia com sua voz ligeira. Alguns não escutaram direito o que a voz nervosa dele  acabou de dizer. Pedem para ele repetir, devagar, por favor. Toledo é um museu a céu aberto, você vai ver isso, o passado chegando da Idade Média em silêncio, a mulher de olhos azuis diz para o homem de cabelos cor de ouro, nariz comprido no rosto com o queixo saliente. A cidade foi construída sobre uma grande rocha, lá embaixo o rio contornando-a e seguindo com a sua enorme cobra grossa. Estratégia perfeita montada com a ajuda da natureza para impedir a invasão das hordas inimigas. A entrada da cidade fica lá em cima, no topo da rocha. Chega-se à grande porta atravessando por uma ponte sobre o fosso de garganta escura.
            Distante dos outros, numa das extremidades da balaustrada. Calado, arredio.   Espio as casinhas lá embaixo, próximas ao rio, num dos lados em que circunda a rocha. O guia informa que só podem ser construídas com a mesma arquitetura dos tempos medievais. De longe observo Toledo. Visão que se mistura com a sensação de uma fortaleza impenetrável, muralhas altas, circulando a cidade, construídas sobre o topo da rocha.  Torres dentadas onde outrora ficaram sentinelas, na ronda com espada e lança.  Noites expectantes sob a dura vigília à espreita da morte.
            O  ônibus cruza a Puerta d´Alcalar, em Madri. Ao desembarcar sigo atrás  dos outros turistas, que em grupos estão entrando no Hotel Washington, na Gran Via de Madri. O guia recomenda que só vamos ter  cinqüenta  minutos para descermos até o salão de refeição, fica  no primeiro andar do hotel. Entrega a cada um de nós  o cartão magnético, ensina como deve ser enfiado na fenda da porta do apartamento para abri-la. Ao ser enfiado na porta, o lado da tarjeta para baixo. Cuidado para não esquecer o cartão magnético enfiado na porta quando sair. Convite para o ladrão entrar no apartamento e ganhar o dia fácil (risos).
            Ficaria sem fazer a refeição do jantar, se não chamasse  o chefe dos garçons para saber o que estava acontecendo. Ali sozinho na mesa do canto, vendo os outros deglutir a sopa: são servidos com atenção especial por dois garçons que parecem irmãos  gêmeos. “Levo o caso para a Embaixada do Brasil para as providências legais”. Impaciente, voz um pouco alterada, absurdo o tratamento que estão me  dando. “Por favor, senhor, está havendo um mal entendido”, calmo o chefe dos garçons, “num instante o senhor será servido.” Um português de fala fina, o chefe dos garçons,  impecavelmente vestido no uniforme do hotel, cor de vinho.  O nome do hotel com letras douradas no bolso superior do paletó. Incumbe um dos garçons para me servir imediatamente.
O guia reúne todos no salão de recepção do restaurante, ao lado do salão de refeições. Vamos dar um breve passeio pelo centro da cidade agora à noite. Fontes de Cibelis e Netuno, Porta do Sol, Praça da Espanha, passaremos em frente ao Palácio Real. Após a refeição matinal, amanhã, às 8,30 horas, todos na recepção do hotel. Pela manhã, passeio no Parque do Retiro e, à tarde, Praça Maior. À noite, como opção conhecer o flamenco, a dança e a música que apresentam chamas. Despesas no teatro por conta de cada  um de vocês, diz o guia.        
       Depois de três dias visitando outros locais importantes em Madri, o ônibus retorna a Lisboa de manhã cedo. Começa a subir a Grande Via, durante o dia com muito movimento de carros. O ônibus deixa para trás ruas com os vultos de pessoas andando pelos passeios. O roteiro no retorno da Excursão Eldorado indica parada no Vale dos Caídos, visita à monumental Salamanca e à admirável Toledo. No retorno,  como aconteceu na ida, continuo na excursão como um desconhecido, que viaja em silêncio. 

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