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sábado, 9 de agosto de 2014

JOÃO UBALDO VIVO por Aramis Ribeiro Costa


A avaliação intelectual de João Ubaldo Ribeiro vem sendo feita de forma bastante expressiva desde seu primeiro êxito literário, a novela Sargento Getúlio, ampliando-se grandemente com o monumental  romance Viva o Povo Brasileiro, livro que o consagrou, colocando-o definitivamente no panteão da literatura brasileira, e alargando-se a cada obra lançada no mercado.
Isso deve continuar. A obra completa do autor d’O Albatroz Azul, seu último romance, uma obra-prima cheia de sutilezas e sugestões, integrará para sempre o catálogo daquelas permanentemente visitadas pelos ensaístas, críticos e professores de literatura.
O momento, porém, aqui na Bahia, pelo menos, não é de analisar ou estudar a sua obra, mas de juntar depoimentos de todos aqueles que o conheceram em vida, e que possam trazer aspectos novos, curiosos, mas principalmente esclarecedores dessa personalidade marcante e altamente querida das nossas letras. Em outras palavras: de reconstruir e preservar João Ubaldo, o homem, vivo.
Há muito que dizer e escrever a esse respeito. A prova disso foi a sessão que realizamos na Academia de Letras da Bahia no dia 24 de julho, a primeira sessão ordinária após sua morte, na qual acadêmicos falaram informalmente sobre ele, em depoimentos que deveriam ser escritos, tal a riqueza de informações.
Ouvimos Cyro de Mattos, João Eurico Matta, Ruy Espinheira Filho, Myriam Fraga, Florisvaldo Mattos, Carlos Ribeiro, Evelina Hoisel, Luís Antonio Cajazeira Ramos e Joaci Góes, numa sessão que foi iniciada  às 17 horas e estendeu-se por duas horas e meia porque de fato  precisávamos terminá-la, já que, pela necessidade de depor e pela emoção dos depoentes, continuaríamos ali, noite adentro, falando dele.
De minha parte, quero testemunhar a alegria e a emoção de João Ubaldo ao ser eleito para a cadeira número nove da Academia de Letras da Bahia. Seu discurso de posse não obedeceu ao protocolo habitual da Academia, que determina a homenagem a todos  os antecessores. Limitou-se a citá-los, detendo-se um pouco em Cláudio Veiga, seu antecessor imediato, que ele conheceu pessoalmente e admirava.
Entretanto, foi uma bela página de declaração de amor à Bahia, e confesso que a considero um dos mais belos discursos de posse que ouvi na ALB com afirmações que me tocaram profundamente, e não apenas a mim, mas a todos que ali estavam naquela noite histórica, e o ouviram dizer, com sua voz grave e cheia, os olhos iluminados pela emoção;
“Não somos brancos, negros ou índios; somos baianos. Não pertencemos, no maior rigor da palavra, a nenhuma religião, nem mesmo somos ateus; somos baianos. Não pretendemos ser melhores que ninguém. Mas somos baianos.”
Uma lição de baianidade, sem dúvida. Mas, sobretudo, uma página de larga compreensão da civilização brasileira, e particularmente do universo misterioso, encantador e singular do povo da Bahia, que escritores como Jorge Amado, Vasconcelos Maia e ele próprio recriam com talento nas suas obras imortais.


*Aramis Ribeiro Costa é ficcionista e poeta. Presidente da Academia de Letras da Bahia. Nessa condição deu posse ao Dr. Marcos Bandeira como presidente da Academia de Letras de Itabuna (ALITA) na sessão solene de instalação, em  5 de novembro de 2011. O discurso que pronunciou, na oportunidade, é histórico. É também membro correspondente da ALITA.   

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