Poemas
da Cidade Antiga
Por
Cyro de Mattos
Soneto da Infância
Perdida
I
Céus conquistavam
minhas mãos afoitas,
Pegavam no barranco
borboletas,
Pés andavam nos ventos
das disputas
Esparramados nas manhãs
perfeitas.
A vida: esse afã da
bola traquina,
Giramundo de gestos
aguerridos,
Ventos assinalavam na
retina
O que é próprio de versos coloridos.
O tempo rindo...
Ventos, outros ventos.
Afastaram-me assim
daquele intenso
Pelejar sobre verdes
sentimentos,
Que de repente, nesse tom inverso,
Trouxeram um ritmo,
sempre adiante,
Transformado na voz de um homem triste.
II
De amadas borboletas na
retina,
Virginal caminho de
margaridas,
Velhas vozes vêm de
longe, em surdina,
Avivando manhãs adormecidas.
Minha cidade nas cenas ladinas
O mundo tece de sonhos,
minas.
Janeiros urdem
aventuras, dadas
De graça nas conquistas
preferidas.
O tempo passa. Ventos,
outros ventos.
No lugar que festejavam
momentos
Lindos puseram tristes
sentimentos.
Nessa gaita sem o
pelejar tenso,
Nessa gaita sem verdes
pensamentos,
Apenas cantos no
sepulcro imenso.
Soneto da Rua
do Quartel Velho
O tempo
acostumado com as paixões
Nunca pôde
evitar as discussões
Um só dia, nem
desviar a bola
Que
estilhaçava o vidro da janela.
O coração
rodava no pião,
Despontava no
estilingue, o verão
Era gasto na
ruma que rendia
Horas
melhores. Naturalmente via
Como o vento empurrava-me
lá, doido,
Mas sem
quaisquer desenganos, tornando
A vida
curtição pura, gravando
No dorso da
manhã meu nome certo.
Razões de
sobra pulsavam o jeito
Insaciável de
meu tempo solto.
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