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terça-feira, 14 de julho de 2015



Poemas da Cidade Antiga

Por Cyro de Mattos

Soneto da Infância Perdida
I
Céus conquistavam minhas mãos afoitas,
Pegavam no barranco borboletas,
Pés andavam nos ventos das disputas
Esparramados nas manhãs perfeitas.

A vida: esse afã  da  bola traquina,
Giramundo de gestos aguerridos,
Ventos assinalavam na retina
O que é próprio  de versos coloridos.

O tempo rindo... Ventos, outros ventos.
Afastaram-me assim daquele intenso
Pelejar sobre verdes sentimentos,

Que  de repente, nesse tom inverso,
Trouxeram um ritmo, sempre adiante,
Transformado  na voz de um homem triste.



II

De amadas borboletas na retina,
Virginal caminho de margaridas,
Velhas vozes vêm de longe, em surdina,
Avivando  manhãs adormecidas.

Minha cidade nas cenas ladinas
O mundo tece de sonhos, minas.
Janeiros urdem aventuras, dadas
De graça nas conquistas preferidas.

O tempo passa. Ventos, outros ventos.
No lugar que festejavam momentos
Lindos puseram tristes sentimentos.

Nessa gaita sem o pelejar tenso,
Nessa gaita sem verdes pensamentos,
Apenas cantos no sepulcro imenso.





                                 Soneto da Rua do Quartel Velho

                                 O tempo acostumado com as paixões
                                 Nunca pôde evitar as discussões
                                 Um só dia, nem desviar a bola
                                 Que estilhaçava o vidro da janela.

                                 O coração rodava no pião,
                                 Despontava no estilingue, o verão
                                 Era gasto na ruma que rendia
                                 Horas melhores. Naturalmente via

                                 Como o vento empurrava-me lá,  doido,
                                 Mas sem quaisquer desenganos, tornando
                                 A vida curtição pura, gravando

                                 No dorso da manhã  meu nome certo.
                                 Razões de sobra pulsavam o jeito
                                 Insaciável de meu tempo solto.


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