Outros Poemas da Cidade
Antiga
Por Cyro de Mattos
I
Soneto do Campo da Desportiva
De zinco era coberta a
arquibancada,
A cancha tinha um piso esburacado.
Nem um pouco essa chuva demorada
Conseguia deixar desanimado
O torcedor, que curtia a jogada
Do seu ídolo na bola passada.
Dos pés a mágica mostrava ser
Tudo um sonho para nunca esquecer.
O gol de placa do atacante quando
A partida já chegava ao final
E a marca da seleção que
venceu
Tantas vezes o intermunicipal
Seguiram-me na torcida de meu
Time pelos estádios do mundo.
II
Soneto de Itabuna
Encontro-me no verde de teus anos,
Como sonho menino nos outeiros,
Afoitas minhas mãos de cata-vento
Desfraldando estandartes nessas
ruas.
São meus todos esses frutos
maduros:
Jaca, cacau, mamão, sapoti, manga.
E esta canção que trago na capanga
É o vento soprando nos quintais.
Quem me fez estilingue tão certeiro
Nos verões das caçadas ideais?
Quem nesse chão me plantou com
raízes
Fundas até que me dispersem ventos
Da saudade e solidão? Ó poema!
Ó recantos! Ó águas do meu rio!
III
Soneto
de Carnaval
Pelo salão com a espada de pau,
O olho tapado na cara de mau
E
a cigana que finge ser real
O
seu primeiro amor no carnaval.
Agora estão na praça principal
Afoxés* e batucadas da
nau,
Teu tempo de confetes, serpentinas
E a lança que perfuma em cada esquina.
Era um grande
barulho que fazias
Na vida cheia de cores e alegrias,
Com o preto, branco, rico, pobre.
Ó meu
Marujo, de lá pra cá, sei dizer
Que noutra onda rolou o mundo teu
E, na orla, nunca soubeste o porquê.
Nenhum comentário:
Postar um comentário