Três Sonetos da Mãe Ausente
Cyro de Mattos
I
- Menino, já
para dentro
Que vem o vento ventoso
Levado, levando cisco!
Menino, já para dentro!
- Boa romaria
faz
Quem em sua casa
está
Em paz. E essas
adivinhas:
O que é, o que é, o ano todo
No deserto
hóspede ele é?
-Responda certo,
menino
Esperto. Como
esquecer
Essa de pura
carícia:
A melhor sombra de dia.
Da noite o
beijo. Quem é?
II
A casa era
pequena, mas em tudo
Os dias
tinham tuas mãos zelosas.
Colocavas nos
vasos aquelas rosas.
Como sonho na
manhã perfumando,
Esbanjavam pelos
ares ternura.
Davam vida à
máquina de costura
Tuas pernas
ativas. Os bordados,
Beleza
tecida, sempre lembrados.
Como o mundo de
Deus era grandão.
Dizias que primeiro a obrigação,
Depois, filho, é que vem a diversão.
Só de
lembrar me dão água na boca
Teus doces.
Cativando com açúcar,
Das mãos divinas as amargas nunca.
III
A casa toda
alegre, a manhã sente
Tua voz
cativando desde cedo,
Os afazeres no
ar iluminado
Por teu jeito de
torná-la cantante.
No quintal do
vizinho passarinhos
Faziam o
coro com outros cantos.
Não sei qual dos
cantos era o mais lindo,
O teu com o
filho contente sorrindo
Ou o deles na
festa, entre tantos,
A manhã pura
bicavam, afoitos.
Como se fossem
hoje os teus gestos
Ainda estão
nítidos dentro de mim
Ligados num
sonho que não tinha fim.
Tua voz, mãe,
não ouço, teve um fim.
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