Pequena
Antologia Poética
Cyro de Mattos
Hebel Ediciones, de Santiago, Chile,
oferecem ao público amante de boa poesia a antologia Según Voy de Camino, do poeta peruano-salmantino e Professor da
Universidade de Salamanca, Espanha,
Alfredo Pérez Alencar, contendo
dez poemas de fácil compreensão, motivados por
vários assuntos. A antologia assim
com dez faces contribui para o conhecimento de
uma poesia que tem como
fundamento a vida. São instantes imaginativos do verso, ora impregnados de encanto, ora entranhado de
sabedoria e verdade. A obra apresenta-se
com tradução para quatro idiomas:
bengalês por Mainak Adak; grego por María Koutentaki; chinês por Huaping Han, e para o inglés por José Ben Kotel (com revisão de
Gretchen Abernathy).
Emprestando
mais uma vez a palavra ao sonho para iluminar o ser, o poeta
peruano-espanhol tem em sua companhia, nesta oportunidade, o artista
plástico cubano-espanhol Luis Cabrera
Hernández (La Habana, 1956), professor
da Escola de Grabado e Desenho Gráfico
da Real Casa da Moeda de Madrid, dono de
um
currículo exemplar em que se registram inúmeras mostras individuais e
exposições em importantes eventos internacionais. Esta é a segunda vez que a parceria acontece
para o bem da poesia, quando então o poeta da palavra e o artista do discurso no
grafismo dão as mãos para que a vida se
torne viável.
Essa pequena antologia do poeta
peruano-salmantino, já traduzido em mais
de uma vintena de idiomas, reúne poemas simples em sua expressão, porém,
com uma riqueza de conteúdo que só os legítimos poetas possuem. Poesia é
qualidade, perfeição na palavra eficiente e certeira, na ideia harmoniosa e
dialética, que diz do mundo à
humanidade, sem banalizações e equívocos pueris. É forma de
conhecimento da vida, que se apresenta essencial no mundo como
o amanhecer. É fruto do talento e da vocação, da
sensibilidade e da crença, condições sem
as quais o poeta não sobrevive na matéria verbal executada como o solitário gesto do ver.
É o que sentimos quando lemos um poeta
de alto nível como Alfredo Pérez
Alencart, mesmo que isso aconteça em apenas dez poemas, como se dá agora. Lendo esses dez poemas, vemos como o conjunto ritmado de
significações importantes encaixa-se
naquilo que os gregos preconizam quando afirmam que quanto maior a extensão menor a
compreensão e quanto menor a extensão maior a compreensão.
Esses
dez poemas são suficientes para
transmitir com densidade o encanto mesclado com
assombro que o menino teve quando
na infância vê pela primeira vez os vaga-lumes, lanterninhas de Deus acendendo
e apagando seu mistério a quem vê. Em
similar visão, a capacidade de assombro e encantamento estará com o poeta ao se deparar com o voo
delicado do colibri, no qual ele
leu “ en el gran cielo un mensaje hecho
de miel y de ceniza”
“
Santo Ofício” é uma declaração de amor a Salamanca, onde o poeta foi acolhido,
constituiu uma família digna e se tornou, por entre atividades
importantes, um disseminador de
afetividades poéticas. Ressalte-se que ele organiza o Encontro de Poetas Iberoamericanos, com
êxito e repercussão internacional em sucessivas edições. O poeta
peruano-espanhol sempre guarda algum
tesouro para os que por lá chegam, para que não manchem a mesa que acolhe quando está a servir mãos
alheias.
A
poesia quer invenção da vida, não a opressão que anula, não a humilhação
dos desvalidos na vergonha. Quer transmitir o bem, sem que seja
panfletária e piegas, apesar da aparência enganosa da simplicidade.
Nos poemas “Humillación de la
pobreza”, “‘Cartel”, “Mientras se derrumba Wall Street” e “Honestidad”,
formula-se no verso apurado as
desigualdades muitas vezes engendradas
pelo sistema social organizado.
Esse protesto manso, de sabedoria
lendária, é uma das vertentes da
poesia de Alfredo Pérez Alencart. Vem de sua filiação confessa ao amor
ofertado pelo Cristo, o bem-amado salvador da humanidade.
Por
outro lado, três versos de um dos poemas referidos anotam: «Ser honesto/ es la debilidad/ que te
hace fuerte». Não hesito em afirmar que poucas vezes vi em tão enxuto
versejar o questionamento com tanta intensidade da condição precária e
contraditória na qual todos estamos inseridos. “Orfandad” é um poema capaz
de identificar o leitor com sua orfandade em qualquer país que esteja.
“Perder un padre es perder una luz que no tiene principio ni fin.” Já “Vuelta a casa” traduz o quadro que fere o
forasteiro como ser gregário em seu crítico ser-estar no mundo.
“Un perro olfateó mi ropa de forastero tras
largo viaje. No es visión pasada. Ayer llegué a la entrada del pueblo, pero el
perro no me deja pasar, aunque le muestre ternura o la foto del abuelo que era
de aquí. Hundo las manos en esta tierra y luego me embosco entre las ramas del
recuerdo.”
Da leitura dos dez poemas de Según Voy de Camino, vemos na sua
melhor e maior compreensão, em função da menor extensão do conjunto, que a
poesia estende-se com sentidos eternos
quando
elaborada com maestria para dizer da
beleza e da verdade.
Tanto quanto a planta quando se abre e brota a flor.
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