Contos
dos Mares da Bahia
Gerana
Damulakis
Histórias dos Mares da Bahia
é uma antologia específica e, como tal, seu organizador optou por planejá-la
segundo uma circunstância comum: o cenário, ou seja, os mares da Bahia. As
antologias literárias específicas não pretendem cobrir a produção literária
visando abarcar um todo, porém miram determinado aspecto que reflita um
interesse especial. É importante a organização de uma antologia de contos que
guarde um ponto comum e essencial, presente em todos os textos. Mais interesse
surge se pensarmos na extensão da costa baiana, pois o nosso é o estado
brasileiro com o maior litoral, haja vista seu impressionante número, cerca de
900 km, que indica 12, 4% do litoral brasileiro.
Diante dos números, fica óbvio que a arte
baiana tem o mar como presença praticamente obrigatória. Mas isto não é verdade
quando se trata da arte literária. O mar não está como cenário constante na
maioria dos textos, quer se pense nos romances, quer a leitura se fixe nos
contos. Talvez se faça mais cantado na poesia. É certo que na obra de Jorge
Amado encontramos tanto o mar, quanto as plantações de cacau, como cenários
recorrentes de seus romances, que são os romances da Bahia, como o próprio
escritor os denominou. E Adonias Filho lançou seu personagem rumo ao mar, para
se entregar à vida do mar, abandonando tudo o mais, em Luanda Beira Bahia. No gênero conto temos alguns exemplos, tais
como “O Arpoador” e “A Noiva do Golfinho”, de Xavier Marques, como marcos
importantes. De Vasconcelos Maia, com seu conhecimento sobre o mar, dono de
saveiro que era, temos os contos “Cação de Areia”, “Tempestade” e “Um Saveiro
Tem Mais Valia”. Mas, reparando bem, os escritores baianos preferem ver o mar
da praia, ou no cais, em terra firme olhando o mar, só que, nesta altura,
levantar tal questão não tem muita importância. De forma que o organizador Cyro
de Mattos traz contos pinçados das obras de cada autor presente em Histórias dos Mares da Bahia.
Sendo vários autores e, claro, vários
estilos, a versatilidade que o livro apresenta pode ser entendida como exemplos
da sabedoria que o mar deixou em cada autor, o que cada um arrebanhou ao longo
de suas vidas e de seus contatos com a vastidão do Atlântico. O mais relevante
nesta antologia são fatos reais: o fato primeiro de juntar os textos, depois o
de registrar tais textos mediante a publicação, a exposição dos autores e, por
fim, mostrar e chegar aos leitores mais uma produção que
enriquece a literatura baiana. A roda da engrenagem avança mais um dente.
(Salvador, olhando para o mar da
Baía de Todos os Santos.)
*Gerana Damulakis é ensaísta e crítica literária. Ocupa na Academia de Letras da Bahia a cadeira que teve como último ocupante o escritor Hélio Pólvora.
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