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quarta-feira, 23 de maio de 2018





           O Pior Time do Mundo
         
                   Cyro de Mattos 
             

Cafuringa Futebol Clube. Da cidade de Pilão Danado. Só interessava perder. Perder, perder, perder. Ganhar nem pensar. O pior time do mundo. Encontrasse um time pior, estivesse ganhando o jogo por um a zero, os defensores dessem um jeito, antes que o juiz trilasse o apito final. Fizesse logo dois pênaltis, um atrás do outro, a derrota não escapasse ao apagar das luzes. Torcedores iam ao delírio. Foguetes pipocavam. Gritos e gritos e gritos. Ê-Ô, Ê-Ô,  Cafuringa  é Perdedor! Ê-Ô, Cafuringa é perdedor.
O grito de guerra ecoava no estádio.
Costumava perder de goleada. Dez a zero a última, o auge da emoção, torcedores choravam, abraçavam-se.  Noticiário com manchete empolgante na mídia. Plantão de notícia.  A TV estampava. Mais Uma Derrota do Pior Time do Mundo.  De goleada: treze  a zero. O Cafuringa Futebol Clube não deu trégua ao Arempepe Esporte Clube, um que gostava também de perder, mas nem tanto como o rival. 
O pior em campo: Gol-Contra.  Zagueiro especializado em fazer gol contra. Na goleada última fez três.  Um de cabeça, outro de bicicleta, o terceiro de bicuda, furou a rede.
Era a glória. Não cansava das derrotas. Não tinha jeito.  Nasceu para perder, até a última gota de  sangue.
 Pergunta do repórter ao atacante Zé Velho: 
- Vai acabar hoje  a série centenária de derrotas contra o Pedrada Futebol Clube?
Sem hesitar,  resposta contundente:
- Perder,  perder, perder, uma vez perder, perder até morrer.
Bandeiras desfraldadas.  Retrato dos ídolos tremulando. De arrepiar. Furão, Perna de Pau, Pereba, Azavesso, Frangueiro, Bola Murcha, Chulé. Os mais ovacionados. Ídolos sem igual.  A foto na camisa do torcedor,  rosto sorridente do craque Azavesso, desdentado, cabeludo. No álbum de figurinhas, disputado a peso de ouro pelos colecionadores.
Novos jogadores. O time rejuvenescido. Ganhou de repente por um a zero, a zebra aconteceu contra o Bagunça Futebol e Regatas. Ganhou outra, a terceira seguida. Não era possível! Meu Deus, tem pena da gente,  o presidente suplicou, as  mãos rogando  para o céu.  Demitido o técnico. 
Os torcedores inflamados, sonoro protesto,  passeata aos gritos.  Desaprovação  geral no estádio. De-Canela, ex-astro do time, hoje chefe da torcida organizada, chegou a queimar a camisa do time.
O time entrando no gramado, apupos, xingamentos, ameaças. UM HORROR! Segundo turno, ocupava o primeiro lugar. Podia ser campeão. Aberração, Calamidade. Tragédia.
Até que retomou o rumo certo. Melhor dizendo, o errado, o costumeiro.  Voltou a perder,  uma partida atrás da outra, engordando o famoso vicio. E o refrão voltou a ecoar no estádio: “Eê! Ê! Ê! Perder Pra valer!  Quem quiser venha ver!” Abraços, choro incontido. Fogos de artifício, foguetes, berros, histerismo.
O pior time do mundo na manchete. Com o seu trio de atacantes inesquecível: Mudo,  Zoinho e Surdo.  Ovação geral do torcedor empolgado. Convicto.  Eternamente.

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