Dois
Craques Grapiúnas na Elite do Futebol
Brasileiro
Cyro de Mattos
Refiro-me a Nandinho e
Tuta, dois jogadores grapiúnas que brilharam
na elite do futebol brasileiro,
na época do pré-estádio do
Maracanã. Os jogos mais importantes no Rio eram realizados até então em São Januário, o maior estádio de
futebol carioca. O futebol nacional vivia a transição do amadorismo para o profissional.
O jogador Nandinho
atuou no Flamengo, formando com Zizinho
e Pirilo o célebre trio do primeiro tricampeonato do rubro-negro carioca. No
entanto, deu seus primeiros passos no
caminho do futebol jogando pelada no campo das pastagens de Berilo Guimarães,
em Itabuna. Foi para Salvador e
ingressou no time juvenil do Bahia onde mais tarde faria parte da equipe
profissional. Sagrou-se campeão no time profissional do tricolor baiano em
1940. Quando retornava a Itabuna, treinava para manter a forma no Campo da
Desportiva. Do Bahia transferiu-se para
o Flamengo. Depois de passagem destacada no rubro-negro carioca foi jogar no
América mineiro onde se sagrou campeão e
se tornou ídolo em várias
temporadas.
O jogador Tuta veio de
Uruçuca, antiga Água Preta. Atuou no futebol de Ilhéus e de Itabuna, onde vestiu a camisa da
Associação, poderoso time que dominou o futebol amador do Sul da Bahia na década de 40.
Foi jogar em Salvador no Bahia e, no tricolor baiano, sagrou-se
também campeão. De lá chegou ao Vasco da Gama, na época em que o esquadrão de
São Januário formou um dos times mais importante de sua história,
conhecido como Expresso da Vitória. Nessa equipe lendária, jogavam
Barbosa, Augusto, Ely, Danilo, Friaça,
Ademir Menezes e Chico, que foram servir à Seleção Brasileira de 1950,
vice-campeã mundial.
Importa lembrar que
o grande derby do futebol mineiro era
América e Atlético até meados de 1960. O
Cruzeiro ainda não havia surgido como uma potência do futebol brasileiro, com
aquele famoso time integrado pelo goleiro
Raul, os craques Tostão e Dirceu Lopes, Natal, Zé Carlos e Euvaldo. O América chegou a se sagrar dez vezes campeão na época que o seu grande
rival era o Atlético.
Para comemorar a reinauguração do
Estádio da Alameda, modernizado e ampliado em março de 1948, de cinco mil
para 15 mil espectadores, o América
promoveu um torneio quadrangular, que ficou conhecido como o Torneio dos Campeões. A disputa reuniu
os campeões estaduais de Rio de Janeiro (Vasco), de São Paulo, representado
pelo São Paulo, Minas Gerais pelo Atlético, campeão dois anos antes, além do
anfitrião América, que se sagrou campeão do torneio e de Minas Gerais, no final daquele ano.
Nandinho fez parte do esquadrão
do América, campeão mineiro em 1948, que
tinha como técnico o polêmico Yustrich. Já
Tuta jogou no Vasco da Gama, que
tinha como técnico Flávio Costa, no
Torneio dos Campeões , realizado naquele
mesmo ano em Belo Horizonte.
Enquanto isso, em 1949 o time do Arsenal, o mais popular da
Inglaterra, fez uma excursão ao Brasil
onde em São Paulo enfrentou o
Corinthians, derrotando-o, e o
Palmeira, que conseguiu um empate a duras penas. Restava enfrentar o Vasco e o
Flamengo no São Januário, o gigante da colina.
Na noite de 25 de maio de 1949, uma quarta-feira, São Januário recebeu o
maior público de sua história, no amistoso entre o Vasco e o Arsenal.
A excursão do time britânico era
cercada de grande expectativa. Havia uma
mística, que corria no tempo,
alardeando que o time britânico
era o melhor do mundo, e os próprios ingleses julgavam-se os donos do futebol, pois foram eles os
inventores desse esporte. Por tudo isso,
a partida entre Vasco e Arsenal foi cercada de um interesse enorme, adquirindo até um sabor de decisão de
mundial de clubes, uma vez que, no ano anterior, o Vasco havia conquistado o
título de campeão sul-americano invicto, no torneio realizado no Chile.
Para enfrentar o time da Inglaterra, o Vasco (foto abaixo) entrou em campo
com uma das formações mais fortes da sua história, saindo vencedor da
partida por um a zero, gol de Nestor aos
33 minutos do segundo tempo.
E o baiano grapiúna
Tuta participou desse time lendário do gigante da colina.
*Grapiúna é aquele que
nasceu no Sul da Bahia, na época da
conquista da terra e do povoamento. E o que se identifica com uma civilização
singular forjada pela lavoura do cacau, ao longo dos anos.
**
Cyro de Mattos é ficcionista e poeta. Membro efetivo do Pen Clube do Brasil e Academia de Letras
da Bahia. Premiado no Brasil, Portugal,
Itália e México. Tem livro publicado em Portugal, Itália, França, Alemanha e Espanha. Doutor Honoris
Causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz (Bahia)
Nenhum comentário:
Postar um comentário