Entrevista com o ficcionista e poeta Cyro de Mattos
Autor de diversas títulos pela Editus, editora
da Universidade Estadual de Santa Cruz, Cyro
fala sobre uma de suas última antologias que organizou, premiações literárias e a projeção global que
elas oferecem para o conteúdo de suas obras
Cadastrado em 07/11/2018 10:10
Atualizado em10/09/2017
Atualizado em10/09/2017
Cyro de Mattos é contista, romancista, poeta,
cronista, ensaísta, organizador de antologia e coletânea, e também autor de livros infantis. Já publicou
mais de 44 livros no Brasil e 13 no
exterior, sendo 9 deles com o selo editorial da Editus - Editora da UESC. Em setembro de 2017, o escritor foi agraciado com o título de Doutor
Honoris Causa pela UESC. Em sua trajetória, ele já recebeu mais de 40 prêmios
literários, entre eles o Prêmio Vânia Souto Carvalho, concedido pela Academia
Pernambucana de Letras, com o livro “Berro de Fogo e outras histórias”, que em
2013 ganhou nova edição pela Editora da UESC, o Prêmio Afonso Arinos da
Academia Brasileira de Letras, o Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de
Artes, o Prêmio Pen Clube do Brasil, o Segundo Prêmio Internacional de
literatura Marengo d’Oro, em Genova, Itália, duas vezes, e, recentemente, o Prêmio Literário Nacional
Cidade de Manaus. . Seu livro “Vinte Poemas do Rio”, português-inglês, foi
indicado para o vestibular da Universidade Estadual de Santa Cruz, durante três
anos, como também “O Conto em Vinte e Cinco Baianos”, antologia que ele
organizou.
Recebeu ainda Menção Honrosa no Prêmio
Jabuti e Menção entre os quatro finalistas no Concurso Internacional da Revista
Plural, México, concorrendo com mais de 600 autores. Algumas de suas obras
destacam a civilização cacaueira baiana como um dos espaços do seu imaginário
fecundo, no qual retrata a paisagem, personagens, lugares, hábitos e histórias.
Dois outros grandes acontecimentos marcaram a vida do escritor. Foi
eleito para a cadeira nº 22 da Academia de Letras da Bahia, que tem como
fundador Rui Barbosa, e o seu livro, “Histórias dos Mares da Bahia”, foi
lançado na 24ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, no estande da
Associação Brasileira de Editoras do Nordeste - ABEU. A obra faz parte da
Coleção Nordestina, projeto editorial que reúne livros produzidos pelas
editoras da ABEU Nordeste. Essa coletânea reúne dezesseis escritores
baianos, e, entre eles, João Ubaldo Ribeiro, Hélio Pólvora, Ruy Espinheira
Filho, Guido Guerra, Gláucia Lemos e Aramis Ribeiro Costa. Alguns anos atrás, seu
livro "Cancioneiro do Cacau", Prêmio Nacional Ribeiro Couto da União
Brasileira de Escritores (Rio) e Segundo Prêmio Internacional Maestrale Marengo
d’Oro, Gênova, Itália, foi lançado na Bienal Internacional do Livro do Rio, em
segunda edição, pela Editus..
1. As
suas obras expressam muito da cultura do sul da Bahia, com destaque especial
para a civilização nascida ao longo do tempo pela implantação da lavra
cacaueira. Essas representações ganharam projeções internacionais e também
importantes premiações no cenário nacional. Como é ver o local de suas criações
ganhar uma projeção global? Como o senhor avalia pessoal e profissionalmente
essas importantes premiações?
Canta a tua aldeia e serás universal,
disse o russo Tolstoi. Para Fernando Pessoa, o genial poeta português, o melhor
rio não era o Tejo, mas o rio que passava ao pé de sua aldeia, porque era o rio
de sua aldeia. Houve quem observasse que o homem faz o lugar e não o contrário.
E o lugar é onde se registra a memória. O lugar tem sido motivação e símbolo
para algumas de minhas criações. Minhas origens e vivências locais têm sido uma
das vertentes de minhas produções em prosa e verso. Isso acontece quando às
vezes, das germinações à execução da ideia, tomo como ponto de partida minhas
vivências na infância, em outras vou buscar ou imaginar o assunto no cerne da
história, aproveitando o que vi, colhi nos mais velhos ou até pesquisei.
Pode até mesmo acontecer que imagine um espaço sem localização
geográfica, identificável com alguma parte do sul da Bahia, como no romance “Os
Ventos Gemedores”, no qual criei o condado de Japará para desenvolver a trama,
auscultar os personagens através de conflitos no drama. Assim, desde que
meu texto leve aos outros uma nova forma de conhecimento da vida, através da
linguagem que poetiza a vida, situações e gente com nervos e sentimentos, tendo
como resultado um alcance universal e reconhecimento, aqui na região e fora de
nossas fronteiras, fico contente, torno-me menos incompleto na existência, que
para nós humanos é falha, limitada, precária, vulnerável, não basta. É
gratificante, um verdadeiro prêmio que é dado ao autor esse tipo de
reconhecimento. Acho sensato ser reconhecido em vida pelo meu trabalho, depois
de morto só serve para o orador, que passa como herói, ao ressaltar no
sepultamento as qualidade de quem se foi para sempre, não está mais neste
mundo, ficou submetido ao inexorável.
2. O
senhor foi eleito para ocupar a cadeira 22 da Academia de Letras da Bahia e
recebeu o primeiro título de Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de
Santa Cruz pela sua contribuição à literatura e à cultura. O que
significam esses novos reconhecimentos na sua carreira literária?
São qualificações de meu trabalho no
mais alto nível. Sinto-me honrado, fortalecido, incentivado para continuar a
jornada nessa estrada solitária, a essa altura comprida. Nela, paro às
vezes, olho para trás, vejo à direita e à esquerda, sigo em frente com tantas
vozes no peito, dos outros, mas que no fundo são também minhas. Vou formando
com elas e a minha voz o diálogo necessário, o disfarce múltiplo que desfaz o
real e projeta outra realidade com novos sentidos, externa outra linguagem
através dos sinais visíveis da escrita, com seu poder metafórico intenso e de
proliferação, que me ajuda a sobreviver e a conhecer um tanto mais do que sou,
entre o alegre e o triste, o transitório e o permanente, o belo e o feio. Vou
cumprindo uma missão, usando as palavras para explicar o inexplicável, mas que
é belo, com suas verdades retiradas da vida, a ela devolvidas com razão e
emoção, porque assim deve ser.
3. O seu
último livro, “História dos Mares da Bahia”, foi lançado na 24ª Bienal
Internacional do Livro de São Paulo, no estande coletivo da ABEU pela Editus. A
publicação traz 16 contos de importantes escritores baianos, que revelam um
cenário de muitas histórias. Por que o mar como fonte de inspiração e
ambientação? Como foi a escolha dos autores?
Como se vê sem esforço, trata-se de
antologia temática. As histórias têm como foco o mar da Bahia, que entra como o
cenário, ora interferindo no destino dos personagens, ora como elemento de
composição da paisagem humana. O mar é assim a fonte de inspiração e
ambientação de cada história. O mar sempre exerceu uma sedução e atração aos
seres humanos. E, como temos ficcionistas na Bahia da melhor qualidade, que
souberam focar o mar como fonte de suas criações, resolvi fazer uma antologia
com o tema e com esses autores expressivos. O critério da escolha dos contistas
se deu em função da qualidade do texto. Convenhamos que, como em toda a
antologia, ocorre a omissão, mas os autores selecionados para a coletânea
“Histórias dos Mares da Bahia” são os mais representativos do gênero na Bahia.
Eu diria sem hesitar que são contistas brasileiros da Bahia, fortes no discurso
coeso. Com seus projetos estéticos e resultados positivos, todos eles vêm
contribuindo para que as letras brasileiras operem como meio eficaz de
comunicação humana em sua função social.
Fonte: ABEU
Nenhum comentário:
Postar um comentário