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quinta-feira, 16 de abril de 2020


                         
                       
                       O NECESSÁRIO PESAR DO PEN CLUBE

O Pen Clube Internacional - Brasil chora a morte no dia de hoje de Rubem Fonseca .

As razões, muitíssimas e todas elas fundamentais, sequer carecem de explicitação, tal a altura e dimensão de sua obra. Não apenas por ter sido um dos mais relevantes e originais escritores do Brasil nestes séculos XX e XXI. Senão também por seu caráter pessoal e discrição de vida em todos as inúmeras décadas em que vicejou na literatura, subtraindo-se de entrevistas, da curiosidade pública e de vaidades vãs.  Monasticamente, eu diria. Rubem Fonseca, contudo, exercia inestimável fascínio pela gentileza de trato e delicadeza pessoal com seus interlocutores, quase sempre escritores e artistas.
Portanto, há que se registrar esse procedimento para, de pronto, eximi-lo da fama de turrão, de não receber ninguém, de useiro e vezeiro em grosserias. O que configuraria grave e insolente injustiça. Por certo que ele só recebia quem lhe aprazia, de quem ele gostava, quem pudesse compartilhar com ele os jogos da inteligência e da literatura. Não a toa sua obra seria galardoada por dezenas de premiações e honrarias, as principais das quais incluem o Prêmio Machado de Assis e o Prêmio Camões.
 Não me furto aqui de registrar uma memória saudosa, que nos uniria, embora por pouco tempo. Quando o conheci, apresentado por Otto Lara Resende na Procuradoria do Estado da Guanabara, lá pelos anos 60, Rubem ficou muito interessado [e curioso] pelos depoimentos para a posteridade que eu levava a cabo, com fúria e paixão, a cada semana, ou quase no Museu da Imagem e do Som. Ele assistiu a muitos, inclusive, ao que lembro, os de Jorge Amado, Marques Rebello e Pixinguinha, bem como o de Chico Buarque aos 20 anos. Um detalhe que agora me acode com clareza singular: já naquela altura, ainda jovem, Rubem mantinha afastamento e discrição frente aos jornalistas que acompanhavam os depoimentos.
Quando certa vez o convidei para integrar a mesa de entrevistadores, creio que no depoimento de Marques Rebelo, ele respondeu com um muxoxo – “Tá doido, sô. Quero distância dos repórteres”. Minutos antes de terminar a entrevista, Rubem Fonseca saiu de fininho. Sem sequer ser visto.

*Ricardo Cravo Albin
 Presidente do Pen Clube Internacional- Brasil

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