O NECESSÁRIO PESAR DO PEN CLUBE
O Pen Clube Internacional - Brasil chora a morte no
dia de hoje de Rubem Fonseca .
As razões, muitíssimas
e todas elas fundamentais, sequer carecem de explicitação, tal a altura e
dimensão de sua obra. Não apenas por ter sido um dos mais relevantes e
originais escritores do Brasil nestes séculos XX e XXI. Senão também por seu
caráter pessoal e discrição de vida em todos as inúmeras décadas em que vicejou
na literatura, subtraindo-se de entrevistas, da curiosidade pública e de
vaidades vãs. Monasticamente, eu diria.
Rubem Fonseca, contudo, exercia inestimável fascínio pela gentileza de trato e
delicadeza pessoal com seus interlocutores, quase sempre escritores e artistas.
Portanto, há que se
registrar esse procedimento para, de pronto, eximi-lo da fama de turrão, de não
receber ninguém, de useiro e vezeiro em grosserias. O que configuraria grave e
insolente injustiça. Por certo que ele só recebia quem lhe aprazia, de quem ele
gostava, quem pudesse compartilhar com ele os jogos da inteligência e da
literatura. Não a toa sua obra seria galardoada por dezenas de premiações e
honrarias, as principais das quais incluem o Prêmio Machado de Assis e o Prêmio
Camões.
Não me furto aqui de registrar uma memória
saudosa, que nos uniria, embora por pouco tempo. Quando o conheci, apresentado
por Otto Lara Resende na Procuradoria do Estado da Guanabara, lá pelos anos 60,
Rubem ficou muito interessado [e curioso] pelos depoimentos para a posteridade
que eu levava a cabo, com fúria e paixão, a cada semana, ou quase no Museu da
Imagem e do Som. Ele assistiu a muitos, inclusive, ao que lembro, os de Jorge
Amado, Marques Rebello e Pixinguinha, bem como o de Chico Buarque aos 20 anos.
Um detalhe que agora me acode com clareza singular: já naquela altura, ainda
jovem, Rubem mantinha afastamento e discrição frente aos jornalistas que
acompanhavam os depoimentos.
Quando certa vez o
convidei para integrar a mesa de entrevistadores, creio que no depoimento de
Marques Rebelo, ele respondeu com um muxoxo – “Tá doido, sô. Quero distância
dos repórteres”. Minutos antes de terminar a entrevista, Rubem Fonseca saiu de
fininho. Sem sequer ser visto.
*Ricardo Cravo Albin
Presidente do Pen Clube Internacional- Brasil
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