Coisas da Ponte Velha
Cyro de Mattos
O tráfego de automóvel e carroça nem
sempre fluía com desembaraço quando a travessia para um dos lados da cidade era
feita através da Ponte Velha. Só podia passar um carro de cada vez, não havia
espaço para transitar sobre o piso dois carros ao mesmo tempo, em direções
opostas. O motorista em uma das entradas tinha que esperar que o outro saísse
com o seu carro para que na sua vez pudesse adentrar na ponte. Até que
acontecia o que sempre transtornava. Dois carros entravam na ponte ao mesmo
tempo, um de cada lado, em posições contrárias. Quando se encontravam, paravam
e ficavam impedindo o trânsito livre dos pedestres na bicicleta, que reclamavam
impacientes com o impasse criado. Gente
nervosa queria seguir em frente, mas não tinha como fazê-lo por falta de espaço. Pequeno ajuntamento de pessoas ia se formando
por detrás de cada carro, do meio do aglomerado humano alguns soltavam
gaiatice.
Um gritava, exasperado:
“Quero passar, antes que perca a paciência
e jogue esse calhambeque no rio!”
Cada motorista não recuava de sua posição no
volante. Nenhum deles queria dar marcha a ré para desobstruir a passagem para o
outro automóvel seguir em frente.
O motorista da caçamba sugeriu que fosse
tirado a sorte nos dados para ver quem iria recuar primeiro o seu carro para o
outro ter passagem. O mulato com a voz
rouca ganhou no jogo de dados para o motorista que tinha a barriga estufada,
parecendo de mulher grávida. A solução encontrada nos lances com os dados
desfazia o impasse entre o caminhão de carroceria de madeira e a caçamba
carregada de areia, parados no meio da ponte.
Um projeto municipal foi decretado no dia
seguinte proibindo que carro, carroça e animal de alto porte transitassem pela
Ponte Velha.
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