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sexta-feira, 7 de março de 2025

 

                 O Caminhante das Letras

                         Cyro de Mattos

                                                  

A arte literária organiza conflitos, possibilita sonhos, equilibra-nos na loucura do mundo. Há quem diga que não serve para nada porque não se preocupa com as necessidades materiais no cotidiano da vida. Mas sem ela, não pensamos nem temos emoção. Sou, como diz o poeta Pessoa, cadáver ambulante que procria. Ela põe o tempo dos humanos com opções para aprofundar a vida, dos dias retirar personagens que se queimam com suas dúvidas, choram às escondidas com a sua incandescente ternura.  

      Costumo dizer que o escritor é a única criatura neste planeta que gesta e pare duas vezes o mesmo filho. Gesta com suas idealizações e pare assim que acaba de concluir o livro.  Gesta pela segunda vez na fase de produção editorial até que o livro seja publicado. Às vezes nada, nada, morre na praia. O editor comunica que vendeu a empresa a outro grupo. E agora José? Procurar ser indenizado através de uma ação judicial? Impossível quando o autor reside numa cidade do interior da Bahia, quilômetros de distância de São Paulo, a comarca eleita pelas partes para dirimir a questão dessa natureza, como determina o contrato de edição.  Só resta ao autor procurar outra editora, seguir seu suplício, pois tudo ficou como antes no quartel de Abrantes. Mesmo que se trate de autor com uma obra consolidada.

 Jorge Luís Borges declara que escreve para viver.  Gabriel García Márquez afirma que morre se não escrever, mas também morre se escrever. Drummond declara que escreve porque é escritor. O sapo pula, o pássaro voa, o autor desta crônica escreve, bem ou mal, porque assim devia ser. É  a sua maneira de ser útil ao outro no mundo. Se tudo é ilusão, sonhar é sabê-lo, de novo escuto dizer isso Fernando Pessoa. Bom não esquecer, nós somos iguais, entre nascer, viver e morrer. Cada um no seu canto conta o seu tanto, como o vento não ficamos, para isso fomos feitos, o tempo não muda, perdura, nós passamos, passamos. E irremediavelmente sonhamos.

Viver de literatura só nos casos raros. Escrever prosa ou verso, para o adulto ou criança, é isso      que gosto de fazer. Amo a literatura, ela tem demonstrado que gosta de mim, vem me dando reconhecimento, boas surpresas, sustos esplêndidos, nem pensava chegar até aqui, ganhar com a literatura esses momentos que não têm preço. Aliás dizem que o homem se completa quando tem um filho, escreve um livro, planta uma árvore. Tenho três filhos, já plantei várias árvores e publiquei muitos livros de diversos gêneros, que mais posso querer?  

A estrada das letras, a essa altura comprida, me faz lembrar nesse momento os versos de Fernando Pessoa: “Deus quere, o homem sonha, a obra nasce.”

 

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