Nosso Campeão Ayrton Senna
Nunca gostei de automobilismo. Um
esporte sem graça e perigoso. O piloto fica dando voltas e mais voltas na
pista, arriscando a vida num carro a não sei quantas por hora, e a corrida
parece que nunca acaba. Quem me chamou um pouco a atenção para esse esporte
primeiro foi Emerson Fitipaldi, depois Nélson Piquet, através de suas
conquistas de campeonatos mundiais na Fórmula 1.
O jejum de falta de titulo nos campeonatos mundiais de futebol pela
Seleção Brasileira já fazia um bocado de
anos. As derrotas para a Itália na Espanha, em 1982, e para a França por
pênaltis, no México, em 1986, como doíam.
O vazio urdido pelo drama da derrota perdurava no torcedor que sente a
seleção de futebol de sua pátria como uma das paixões da vida.
Ayrton Senna, pássaro veloz que passou
por aqui, surge para fazer brilhar no autódromo o sentimento de brasilidade.
Comecei a colar o olho na telinha da televisão aos domingos, vibrar com as
vitórias incríveis desse piloto que encantou o mundo. Vruuum, vruum, vruum, incansável, tenso, com um só
pensamento. Quando parecia que tudo estava perdido, a determinação, a garra e o
talento uniam-se nas forças que
conseguiam reunir e levavam nosso Ayrton
mais uma vez ao pódio. Tantantan, tantantan, tantantan, a música no áudio da
vitória. Chegava sempre mostrando a bandeira brasileira, soprada pelos ventos
da conquista, como se estivesse a dizer, gente brasileira viver vale a pena, é
uma festa, somos todos donos das estrelas porque somos os melhores, campeões
que cantam a glória no grito do eterno.
Vinte anos depois, sente-se o quanto ele
deixou de bom para milhares. A emoção de vitórias admiráveis e a
consciência de exemplos da seriedade e
cidadania. Em cada corrida era uma conquista aqui entre nós brasileiros e nos confins deste planeta terra, com uma
sensação difícil de explicar. Através do instituto que criou, eis o seu legado
de solidariedade, até hoje ajuda crianças carentes, excluídas da vida decente.
Fazia da Fórmula 1 uma arena especial da
vida. Em 1991 foi, pela primeira vez, campeão do circuito no Brasil. Uma loucura!
O narrador da corrida dizia que a arquibancada chegava a balançar. Terminou a
corrida só com a sexta marcha. Ele se deu de tudo para ganhar aquela corrida. Na
chuva impressionava vivamente, superando
retas e curvas. Tirava milésimo
de segundo de onde não existia. Era
imbatível o nosso Rei da Chuva.
No supermercado ouvi depoimentos dos que
lembram o piloto com saudades na jornada feita de emoções velozes e curtição
pura.
Na fila, sereno, o senhor ressaltou:
“Ele era um piloto sem igual. Crescia em
cada corrida. E a cada corrida era como
se eu tivesse uma conquista fora de série dentro de mim.”
O rapaz destacou:
“O prazer dele era correr, sempre
queria melhorar. Ele disse uma
coisa que nunca esqueço: tudo que você
for fazer, dê o melhor de si, nunca esteja satisfeito.”
O senhor falava até certo ponto
conformado, como se a batida na curva não tivesse interrompido os momentos de
felicidade que ele passava no autódromo:
“Ele não perdeu a corrida para a morte.
Permanece vivo no mundo para onde poucos vêm para ficar enquanto existir a
vida.”
Depois daquela curva, em Ímola, a batida
trouxe a tristeza, a perda como se fosse um pedaço tirado de cada um de nós.
Cada vez mais fica difícil assistir pela televisão corrida na Fórmula 1, sem a genialidade do nosso Ayrton Senna. Para
se ter uma ideia, ele passava numa curva com chuva que, se outro piloto no seco
passasse, viraria. Era um destemido, vivia no precipício, o qual era derrotado pelas
asas de um pássaro no voo perfeito. Um pássaro com a obstinação, o talento e a
coragem que só os gênios possuem. Muitos sentem também, no outro lado do mundo,
que ele tinha uma presença de espírito enorme. Como observou aquele senhor de cabelos brancos na fila do
supermercado, tudo dele vai permanecer vivo. Morre o homem fica o brilho do
herói.
Com aquela musiquinha feita só para ele,
ficava bem nele porque era só dele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário