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segunda-feira, 5 de maio de 2014



                    Nosso Campeão Ayrton Senna
                              


Nunca gostei de automobilismo. Um esporte sem graça e perigoso. O piloto fica dando voltas e mais voltas na pista, arriscando a vida num carro a não sei quantas por hora, e a corrida parece que nunca acaba. Quem me chamou um pouco a atenção para esse esporte primeiro foi Emerson Fitipaldi, depois Nélson Piquet, através de suas conquistas de campeonatos mundiais na Fórmula 1.
O jejum de falta de titulo  nos campeonatos mundiais de futebol pela Seleção Brasileira já fazia um  bocado de anos. As derrotas para a Itália na Espanha, em 1982, e para a França por pênaltis, no México, em 1986, como doíam.  O vazio urdido pelo drama da derrota perdurava no torcedor que sente a seleção de futebol de sua pátria como uma das paixões da vida.
Ayrton Senna, pássaro veloz que passou por aqui, surge para fazer brilhar no autódromo o sentimento de brasilidade. Comecei a colar o olho na telinha da televisão aos domingos, vibrar com as vitórias incríveis desse piloto que encantou o mundo. Vruuum, vruum,  vruum, incansável, tenso, com um só pensamento. Quando parecia que tudo estava perdido, a determinação, a garra e o talento uniam-se nas forças  que conseguiam  reunir e levavam nosso Ayrton mais uma vez ao pódio. Tantantan, tantantan, tantantan, a música no áudio da vitória. Chegava sempre mostrando a bandeira brasileira, soprada pelos ventos da conquista, como se estivesse a dizer, gente brasileira viver vale a pena, é uma festa, somos todos donos das estrelas porque somos os melhores, campeões que cantam a glória no grito do eterno. 
Vinte anos depois, sente-se o quanto ele deixou de bom para milhares. A emoção de vitórias admiráveis e a consciência  de exemplos da seriedade e cidadania. Em cada corrida era uma conquista aqui entre nós brasileiros e  nos confins deste planeta terra, com uma sensação difícil de explicar. Através do instituto que criou, eis o seu legado de solidariedade, até hoje ajuda crianças carentes, excluídas da vida decente.
Fazia da Fórmula 1 uma arena especial da vida. Em 1991 foi, pela primeira vez, campeão do circuito no Brasil. Uma loucura! O narrador da corrida dizia que a arquibancada chegava a balançar. Terminou a corrida só com a sexta marcha. Ele se deu de tudo para ganhar aquela corrida. Na chuva impressionava vivamente, superando   retas e curvas. Tirava milésimo de segundo  de onde não existia. Era imbatível o nosso  Rei da Chuva.
No supermercado ouvi depoimentos dos que lembram o piloto com saudades na jornada feita de emoções velozes e curtição pura.
Na fila, sereno, o senhor ressaltou:
“Ele era um piloto sem igual. Crescia em cada corrida. E a cada corrida  era como se eu tivesse uma conquista fora de série dentro de mim.”
O rapaz destacou:
“O prazer dele era correr, sempre queria  melhorar. Ele disse uma coisa  que nunca esqueço: tudo que você for fazer, dê o melhor de si, nunca esteja satisfeito.”
O senhor falava até certo ponto conformado, como se a batida na curva não tivesse interrompido os momentos de felicidade que ele passava no autódromo:
“Ele não perdeu a corrida para a morte. Permanece vivo no mundo para onde poucos vêm para ficar enquanto existir a vida.”
Depois daquela curva, em Ímola, a batida trouxe a tristeza, a perda como se fosse um pedaço tirado de cada um de nós. Cada vez mais fica difícil assistir pela televisão corrida na Fórmula 1,  sem a genialidade do nosso Ayrton Senna. Para se ter uma ideia, ele passava numa curva com chuva que, se outro piloto no seco passasse, viraria. Era um destemido, vivia no precipício, o qual era derrotado pelas asas de um pássaro no voo perfeito. Um pássaro com a obstinação, o talento e a coragem que só os gênios possuem. Muitos sentem também, no outro lado do mundo, que ele tinha uma presença de espírito enorme. Como observou  aquele senhor de cabelos brancos na fila do supermercado, tudo dele vai permanecer vivo. Morre o homem fica o brilho do herói.
Com aquela musiquinha feita só para ele, ficava bem nele porque era só dele.

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