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sexta-feira, 16 de maio de 2014



Fátima

   
                                             Para Naumin Aizen

Fui a Portugal pela primeira vez em 1997 para participar como convidado  do Terceiro Encontro Internacional de Poetas organizado pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.  No saguão do aeroporto de Lisboa vi o meu nome na tabuleta erguida pelo homem. Era o motorista que ia me conduzir até Coimbra. Ele me disse que dois poetis tinham chegado meia hora antes de mim. Estavam na camionete, aguardando-me.
Soube depois com o meu inglês sofrível que o poeta americano era Próspero Saiz, aparentava uns 45 anos de idade, falava muito e ligeiro. A pele do rosto e os cabelos compridos  mostravam sinais de suas raízes indígenas. A mulher de cabelos grisalhos e com uma voz rouca era  Diana Belessi, poetisa da Argentina.
A certa altura da  viagem para Coimbra, o motorista da Kombi perguntou se não queríamos conhecer Fátima. Não  hesitamos em fazer aquela parada para conhecer o lugar onde a Virgem Maria apareceu aos três pastorinhos no dia 13 de maio. Surpreendi-me no Santuário com o tamanho grande do local para abrigar os peregrinos a céu aberto, no dia de louvor à Virgem santa.  E não foi difícil imaginar vozes que subiam ao céu naquele dia especial e entoavam o cântico que falava da aparição da Senhora santa. A procissão com velas acesas por centenas de fiéis, que vinham de países perto de Portugal e de outros pontos longínquos.
Houve uma história de luz ali na cova da Iria. Começava com o anjo que veio por virginal caminho de margaridas e anunciou aos três pastorinhos  a aparição da Virgem Maria breve. Ela vinha ensinar aos meninos Lúcia, Francisco e Jacinta orações e sacrifícios pelos pecadores. Vinha trazer o amor  de um sol sem crepúsculo para  iluminar a humanidade. Houve quem não acreditasse  na Virgem Maria Aparecida porque não acreditava em Deus, tudo aquilo não passava de maluquice dos meninos, dizia-se.
Depois de algumas aparições da Virgem Maria, os meninos Francisco, Lucia e Jacinta foram seqüestrados por um prefeito. Se não contassem o segredo confiado por Nossa Senhora, iam ser jogados num caldeirão de água quente, ele ameaçou. Não revelaram o segredo na prisão. Penduraram uma medalha de Nossa Senhora na parede e rezaram. Comoveram os presos, que também rezaram. Foram recebidos como heróis quando retornaram para suas casas.
Naquelas aparições de Nossa Senhora houve um grande dia. Uma multidão de setenta mil pessoas acompanhou os pastorinhos, rumo mais uma vez à Cova da Iria onde costumavam  brincar e rezar. A Vigem Maria apareceu e disse que era Nossa Senhora do Rosário, a  mãe de Deus. Os meninos pediram que ela fizesse um milagre. E de repente todos viram  o sol virar uma bola de fogo e dançar  no céu. Enquanto todos viam a bola de fogo, os três pastorinhos puderam ver a Sagrada Família: São José, Nossa Senhora e o Menino Jesus. E também viram aparecendo nas nuvens Nossa Senhora das Dores. E Jesus com a cruz. Abençoavam a multidão.
Certa vez achei uma imagem de Nossa Senhora de Fátima deixada na casa que eu tinha alugado a um médico. Pertencia à mulher dele, que por sinal era portuguesa. Ela estava se separando do marido, tinha poucos anos de casada com o  médico. Como ela não quis mais a imagem da santa, entreguei à minha esposa Mariza para que a colocasse no oratório.
De vez em quando rogo a  Nossa Senhora de Fátima que me ensine a escrever crônicas inspiradas no amor pela vida para que possa enriquecer os outros com uma prosa generosa. Talvez como esta que está terminando, mas sem deixar o cronista de revelar antes um fato que considera importante em sua trajetória dedicada à poesia. Poucos meses depois que levei a imagem de Nossa Senhora de Fátima para meu apartamento, chegou uma correspondência pelo correio, na qual a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra convidava-me para participar do Terceiro Encontro Internacional de Poetas. Tinha grande vontade de conhecer Portugal, mas nunca me passou pela cabeça que isso fosse acontecer um dia pelas mãos de Nossa Senhora de Fátima.

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