Abaixo, transcrevo o texto de Luiz Cajazeira
Ramos, publicado em fins de dezembro
passado, na página Opinião (página 2), que faz críticas ao novo secretário de
Cultura da Bahia, Jorge Portugal, por ter afirmado ser a Academia de letras das
Bahia uma instituição carcomida.
Memória,
Convivência e Produção Cultural
Luiz Cajazeira Ramos*
A coluna Tempo Presente, no dia 21 de dezembro, informou que eu enviara
uma nota aos demais membros da Academia de Letras da Bahia (ALB) para
lembrá-los de uma carta de Jorge Portugal, publicada em A TARDE, na qual ele
chamava a ALB de “instituição carcomida”. O editor da coluna, Levi Vasconcelos,
foi feliz com as palavras, situando no relacionamento institucional minha
reação à escolha de Portugal para secretário de cultura do estado.
Nada tenho contra Portugal. Sei que se firmou como professor de português em cursos pré-vestibulares; que se interessa pela música popular do Recôncavo e outras riquezas da baianidade; e que comandou o programa Aprovado da TV Bahia, indo além das dicas aos estudantes e dando espaço a artistas e intelectuais.
Nossa relação é esparsa. Quando nos vimos, fomos alegres e cordiais. No Aprovado, colocou frente à câmera um livro meu, abriu-o e leu um poema com nítido entusiasmo. Para além de nosso ínfimo convívio, tenho-o como um boa-praça.
Não posso adivinhar sua gestão. O governador eleito viu nele perfil para o cargo, e nós esperamos os melhores resultados. Mas ele encontrará dificuldades: o orçamento da cultura é pequeno; o apoio dentro e fora do governo costuma ser pífio; e a legislação do setor, a meu ver, é cheia de amarras equivocadas.
Minha mensagem aos confrades não tratava disso, mas de um fato lamentável. Ao dizer ao leitor de A TARDE que a ALB é carcomida, Portugal demonstrou preconceito e ignorância. Ele não conhece a Academia. Ela não é carcomida, nunca foi. Desde a fundação em 1917, ela participa ativamente da vida cultural, social e política.
Ao longo dos anos, suas 40 cadeiras são ocupadas por pessoas que deixam um rico legado cultural. Desconheço outra agremiação local que se lhe iguale na produção literária de seus membros. Algum grande escritor pode não ter tido a honra de ser eleito acadêmico, mas o plantel da ALB é ímpar: poetas, ficcionistas, ensaístas, jornalistas, filósofos, cientistas sociais, educadores, ilustres pensadores baianos.
As atividades da ALB são muitas. Seu apertado calendário dialoga com instituições culturais e a sociedade, incluindo palestras, seminários, cursos, concursos, lançamentos de livros e revistas, oficinas literárias, visitas guiadas de estudantes, além da agenda própria de sua natureza e continuidade: reuniões ordinárias, eleições, cerimônias de posse, sessões de saudade, encontros de confraternização.
Aquela minha nota era intramuros, para os acadêmicos. Eu lhes perguntava como lidar com um secretário de cultura que, num ato talvez impensado, detratara a ALB de forma tão injusta. Mas a nota vazou e foi publicada neste jornal. Seria a oportunidade para eu mudar de tom e convidar o futuro secretário a conhecer nossa Casa?
Em recente encontro na ALB, reunimos os candidatos a governador para debater a política cultural. Fizemos um documento com sugestões e entregamos cópia a cada um. Faço questão de dar uma cópia a Jorge Portugal. Há um novo governador, um novo secretário, mas a Academia é a mesma: um refúgio de memória, convivência e produção cultural.
Nada tenho contra Portugal. Sei que se firmou como professor de português em cursos pré-vestibulares; que se interessa pela música popular do Recôncavo e outras riquezas da baianidade; e que comandou o programa Aprovado da TV Bahia, indo além das dicas aos estudantes e dando espaço a artistas e intelectuais.
Nossa relação é esparsa. Quando nos vimos, fomos alegres e cordiais. No Aprovado, colocou frente à câmera um livro meu, abriu-o e leu um poema com nítido entusiasmo. Para além de nosso ínfimo convívio, tenho-o como um boa-praça.
Não posso adivinhar sua gestão. O governador eleito viu nele perfil para o cargo, e nós esperamos os melhores resultados. Mas ele encontrará dificuldades: o orçamento da cultura é pequeno; o apoio dentro e fora do governo costuma ser pífio; e a legislação do setor, a meu ver, é cheia de amarras equivocadas.
Minha mensagem aos confrades não tratava disso, mas de um fato lamentável. Ao dizer ao leitor de A TARDE que a ALB é carcomida, Portugal demonstrou preconceito e ignorância. Ele não conhece a Academia. Ela não é carcomida, nunca foi. Desde a fundação em 1917, ela participa ativamente da vida cultural, social e política.
Ao longo dos anos, suas 40 cadeiras são ocupadas por pessoas que deixam um rico legado cultural. Desconheço outra agremiação local que se lhe iguale na produção literária de seus membros. Algum grande escritor pode não ter tido a honra de ser eleito acadêmico, mas o plantel da ALB é ímpar: poetas, ficcionistas, ensaístas, jornalistas, filósofos, cientistas sociais, educadores, ilustres pensadores baianos.
As atividades da ALB são muitas. Seu apertado calendário dialoga com instituições culturais e a sociedade, incluindo palestras, seminários, cursos, concursos, lançamentos de livros e revistas, oficinas literárias, visitas guiadas de estudantes, além da agenda própria de sua natureza e continuidade: reuniões ordinárias, eleições, cerimônias de posse, sessões de saudade, encontros de confraternização.
Aquela minha nota era intramuros, para os acadêmicos. Eu lhes perguntava como lidar com um secretário de cultura que, num ato talvez impensado, detratara a ALB de forma tão injusta. Mas a nota vazou e foi publicada neste jornal. Seria a oportunidade para eu mudar de tom e convidar o futuro secretário a conhecer nossa Casa?
Em recente encontro na ALB, reunimos os candidatos a governador para debater a política cultural. Fizemos um documento com sugestões e entregamos cópia a cada um. Faço questão de dar uma cópia a Jorge Portugal. Há um novo governador, um novo secretário, mas a Academia é a mesma: um refúgio de memória, convivência e produção cultural.
Bem o problema de uma gestão cultural seja de ordem acadêmica (ou não) reflete diretamente no bom exemplo a arte e, arte nada mais é do que expressão do sentido.
ResponderExcluirVale dizer: antes passageiro de letras à vende-lá.