POEMAS DO NEGRO
Cyro de Mattos
Canga
Não
se logra extrair
Os
ossos dessa massa,
Os
músculos mutilados
No
esforço dos anos.
Tuas
mãos, escravas,
Alimentadas
na turva
Ferida,
dor sem cura.
A
atrocidade no ferro
Que
furou o coração,
A enchente na vala
Que
transbordou de mágoa,
Nuvens
não tocadas.
Nunca
será paga a conta
Na
mancha que envergonha.
Como
herança os rastros
Dessa
noite escura na pele
Que
te lança nos muros,
Agarra-te nas
manhãs
Com
sua claridade vista
Apenas
pelos não pretos.
Até
quando barreiras
De
tua cor opaca farão
Da
vida uma coisa qualquer,
Desigual,
desvão sem canto?
Pelourinho
Como
suportar?
Treze...
trinta... cinqüenta...
Até
o último gemido.
Os
outros olhando
Cada
chibatada. Tristes,
Sem
nada fazer.
Ladeiras
gastas.
E
esse vento que recusa
Ao
largo a desgraça.
Escravo
Uma mão
Feito casca
Não lava
A outra
Feito lixa.
Ásperas
As duas
Feito bucha
Limpam
As duas
No esmero
Do senhor.
Limpam
As sobras
Ou largura
Depois de lá
De dó em dó.
Perto
De o dia
Clarear
Até o sol
Se pôr.
Ferro de Passar Roupa
Passa
minha roupa
Lembrando
outros tempos.
Vai
fazendo estragos
Na
pele dos meus bisavôs.
Ferro
nos pés, mãos
Na
carne viva chiando,
O
coração sangrando.
Do
ventre e de velhice
Um
dia foi banido.
Afinal
teve as asas
Pra
voar sem marcas?
Nas
fendas acumuladas
Impregnado
de aversão.
No
caco, no estômago
Mal
surge cada manhã,
No
prato lavado na pia.
Empoeirado
na lata,
Nas
unhas corroídas,
Com
urubus pelo lixão.
Pra
findar eternidades
Desses
gestos caóticos
A
natureza inventou
Uma
escultura jovem,
No caldo uma mistura
Doutra
ginga infiltrada.
Sem
fissura, amargura,
Pisando
no chão, solta,
Com
a pulseira do amor.
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