Posse na Cadeira 22 da
Academia de Letras da Bahia
Em noite memorável, a Academia de Letras da
Bahia realizou, no dia 10 de novembro de
2016, no auditório do salão nobre, em Salvador, a sessão solene de minha posse na cadeira 22,
que tem como patrono o Visconde do Rio Branco, como fundador Rui Barbosa e foi seu último ocupante
o cronista e poeta Clóvis Lima. Fui recebido, na oportunidade, pelo acadêmico e escritor Aramis Ribeiro
Costa, que, ao terminar seu discurso primoroso,
foi aplaudido de pé.
Presidiu a sessão solene da posse a professora doutora Evelina
Hoisel, e a mesa oficial esteve constituída
de Zulu Araújo, presidente da Fundação Pedro Calmon, representante do
governador Rui Costa, o ex-governador
Roberto Santos e a presidente da Academia de Letras de Itabuna, Juíza de
Direito Sonia Maron. Compareceram ao evento, com o auditório lotado, os
acadêmicos Florisvaldo Mattos, Gerana Damulakis, João Eurico Matta, Susana
Cardozo, Aleilton Fonseca, Abade Emanuel, Urânia Tourinho e Carlos Ribeiro.
Comecei meu discurso lendo um poema dedicado à esposa Mariza, transmitindo a seguir informações básicas sobre os ocupantes da
cadeira 22, como determina o estatuto da instituição. Discorri sobre a condição
do que é ser escritor, destaquei a importância da região cacaueira baiana com
uma civilização que vem contribuindo para o fortalecimento da identidade
literária e cultural do Brasil, através de seus escritores e artistas, ratifiquei a crença na literatura como forma de
conhecimento de vida e empreendi uma incursão poética desde às minhas origens, na infância e adolescência, em minha terra
natal, até me tornar um homem idoso, lembrando
minha passagem como estudante na capital. Terminei
minha fala com o poema Academia de Letras da Bahia, escrito em especial para a noite festiva, revestida de alegria e reconhecimento.
Abaixo transcrevemos trechos
do discurso de recepção pronunciado pelo acadêmico e ficcionista Aramis Ribeiro Costa:
“Além da crônica e do ensaio, a primeira
posta em volumes, como naqueles ótimos O
Mar na Rua Chile e Um Grapiúna em
Frankfurt, e o segundo quase sempre em periódicos, como a Revista desta Academia, vossa prosa
desdobra-se nos três pilares da criação ficcional: o romance, a novela e o
conto.
O
romance, Os Ventos Gemedores, na
linha dos conflitos por posse de terra e liberdade, na tradição violenta e
dramática do romance baiano do cacau, chega trazido pelo hábito de criar
personagens intensos e pela experiência de narrar, capaz de provocar tempestade
no território ficcional de Vulcano Brás, mas também na emoção do leitor. A
tragédia dos inocentes em confronto com os poderosos, o abuso de poder, a
valentia, o amor e a morte.
As
novelas concentram-se particularmente no premiado volume Os Brabos, que nos traz quatro ficções de raízes fundas no cenário
grapiúna, tão bem definido na paisagem, nos costumes e na linguagem. E os
contos, finalmente, agrupam-se em vários volumes.
Embora Os Recuados
e Os Brabos tenham a sua importância
histórica, e guardem a exclusividade de certas narrativas, o livro síntese de
vossa ficção curta, porque relembra os anteriores, a levar o vosso nome pelos
tempos adiante como um dos maiores desse gênero nas letras baianas, é, até o
presente momento, a coletânea Berro de
Fogo e outras histórias, 2ª. edição. Concordo com a crítica e acadêmica
Gerana Damulakis, quando afirmou, no prefácio de Os Brabos, que aquele “volume de quatro narrativas simboliza a arte
da ficção escrita no século XX, no Sul da Bahia”. E concordo com meu prezado
amigo e crítico Cid Seixas, quando, em sua coluna de crítica no jornal A Tarde, afirmou, por ocasião do
lançamento da coletânea aqui referida: “Esta coletânea, Berro de Fogo e outras histórias, traz mais de uma narrativa que
pode ser incluída em qualquer antologia do conto brasileiro”.
Na
verdade isso já vinha acontecendo e continuou a acontecer, e não apenas nas
antologias do conto baiano e brasileiro. Vosso conto “Ladainha nas Pedras”
participa de uma famosa antologia dinamarquesa ao lado de Mario Vargas Llosa,
Jorge Luís Borges, Miguel Angel Astúrias, Júlio Cortázar, Juan Rulfo, Clarice
Lispector, Aníbal Machado e vários outros notáveis da literatura universal e
brasileira, mestres também na ficção curta. Participais de outra antologia de
contos, na Rússia, que também coloca a vossa narrativa ao lado da de mestres de
reconhecimento universal. A vossa participação em antologias nacionais é
extensa, sendo praticamente obrigatória nas antologias baianas. Embora a
inclusão em antologias já represente um reconhecimento e um destaque de mérito,
vossos contos e novelas também arrebataram prêmios e distinções: o conto “Inocentes
e Selvagens”, título que poderia abarcar toda a vossa obra de ficção, toda ela
pontuada pelo confronto da inocência com a selvageria, conquistou o Prêmio
Miguel de Cervantes, patrocinado pela Casa dos Quixotes, do Rio de Janeiro,
para autores de Língua Portuguesa, em 1968; as quatro narrativas de Os Brabos conquistaram, dez anos depois,
o Prêmio Nacional de Ficção Afonso Arinos da Academia Brasileira de Letras; e o
conto “Coronel, Cacaueiro e Travessia” recebeu Menção Especial no Prêmio
Internacional de Literatura da Revista Plural, do México, concorrendo com
oitocentos e dezessete textos de ficção curta de seiscentos e doze autores da
América, Europa e Ásia, em 1981.
Nada disso surpreende os que conhecem vosso conto e vossa
novela, narrativas fortes e bem urdidas, alicerçadas em linguagem correta,
variada e rica, trespassadas do que a condição humana tem mais profundo, odioso
ou comovente, movimentadas por personagens rudes ou sofridos, mas sempre
convincentes. “Berro de Fogo”, onde a mágoa, o rancor, a opressão e o remorso
se misturam para tecer situações impactantes e violentas; “Inocentes e
Selvagens”, onde o amor de um menino por um porco é castigado com a morte, na
duríssima contraposição da pureza da criança com a brutalidade dos homens; “O
Velho e o Velho Rio”, “Ladainha nas Pedras”, “Coronel, Cacaueiro e Travessia”,
“Velhinhos em Suas Notações de Amor”; qualquer dessas narrativas banhadas de
sangue, ternura ou lágrima faria a nomeada de um contista, ainda que esse
contista tenha nascido na cidade onde nasceu o grande Hélio Pólvora, e tão
próximo de onde nasceu Adonias Filho...”
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