Páginas

sexta-feira, 12 de maio de 2017

          

         Devoção da Virgem Maria
          
                         Cyro de Mattos

          A imagem da Virgem Maria era guardada no nicho de cedro. Permanecia no altar, embaixo de Jesus crucificado. A mãe forrava o pequeno  altar  com um pano de linho branco. Havia no oratório  jarros com flores, velas nos castiçais, eram acesas quando a mãe ia fazer suas orações.
       A mãe organizava a  pequena procissão, ela conduzia à frente a imagem da Virgem Maria, as outras mães seguiam  formando duas filas nas laterais da rua,  uma de cada lado, no meio as crianças levavam flores nos braços. As velas acesas, os cânticos e as rezas pela rua. A procissão saía da casa  onde a mãe morava e terminava em outra, que podia estar localizada na rua de cima. Ali, a imagem da Virgem Maria era entregue à dona da casa, que estava pagando uma promessa. O filho havia sido lembrado pela santa, fora salvo de uma doença que atacou o fígado da criança, já estava desenganada pelos médicos. A mãe em desespero não sabia mais o que fazer. Rogou à Virgem Maria pela salvação do filho e fez a promessa. Obteve a graça.
       Os rostos contritos, as rezas e os cânticos  na rua por onde  passava a pequena procissão, atraindo pessoas, que apareciam no batente das portas ou vinham até  as janelas.

                 Ave, ave, ave, Maria!
                 Ave, ave, ave, Maria!
               
                Aos treze de maio
                Na Cova da Iria
                Aos três pastorinhos 
               Apareceu a Virgem Maria.

               Ave, ave, ave,  Maria!
                Ave, ave, ave,  Maria!

      Soltavam fogos coloridos, adrianinos e foguetes  quando  a  imagem da Virgem Maria era entregue pela mãe à dona da casa, que havia  alcançado a graça  e estava pagando a promessa.  A imagem da Virgem Santa permanecia nove dias na casa da dona casa, quando então era rezado à noite o terço  com as filhas de Maria. Quando a imagem da santa regressava  para a sua casa de origem, a mãe vinha recebê-la na porta. Rezava-se o terço. No final da reza soltavam-se de novo fogos coloridos.
       Com os corações contritos, terminada a reza, os que participavam da devoção à Virgem Maria regressavam  às suas casas. No outro dia a imagem da Santa era guardada no nicho. Era assim que, na cidade de vinte mil habitantes, a mãe e outras mães demonstravam o seu amor e a sua fé por Nossa Senhora. Todos os anos.  


*Cyro de Mattos é escritor e poeta. Membro Titular do Pen Clube do Brasil. Primeiro Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz. Pertence às Academias de Letras da Bahia, de Ilhéus e de Itabuna. Publicado em inglês, francês, italiano, espanhol, alemão, dinamarquês e russo. Premiado no Brasil, Portugal, Itália e México.

Nenhum comentário:

Postar um comentário