Conhecimento
de Candomblé
Cyro de
Mattos
Tinha
ouvido falar em corpo fechado pelo pai de santo, figa de guiné, em forma de mão
fechada, preservativo para afastar doença e malefício, em ebó de Exu na
encruzilhada, serve para fechar os caminhos de um desafeto. Sempre fica curioso
quando ouve falar nas crendices, saberes e sabores que dizem respeito à
religião que os negros trouxeram de África e implantaram em Salvador de Bahia
com seus orixás, cantos e danças.
Axé é uma força espiritual. Valor. O fundamento, pilar de
sustentação do candomblé. Abará e acarajé são iguarias que só de falar dão água
na boca, fazem parte da comida do santo. Não há baiano que não deguste com
prazer essas iguarias, sempre querendo mais. Em 2 de fevereiro acontece a festa
consagrada a Iemanjá, se oferta presentes à Dona do Mar pela graça alcançada.
Sempre está presente por lá.
No sincretismo religioso, Ogum é o Senhor do Tempo, não perde
uma demanda, corresponde a Santo Antônio. Oxóssi é o orixá da caça, dizem ser
mesmo que São Jorge dos cristãos. Ibejes, conhecidos como erês, referem-se a
Cosme e Damião, os santos meninos, mabaços. Oxalá, o santo da paz, pai de todos
os orixás, é associado a Nosso Senhor do Bonfim, o padroeiro de Salvador.
Oguniê, saudação a Ogum, se você disser Oia iê ô reverencia Oxum.
Gravado está no pensamento tudo que ouvira falar entre os
baianos sobre candomblé. Sua curiosidade quer saber mais, sentindo-se frustrado
porque não conhece de perto uma casa que cultive como crença o candomblé.
Justamente é quando aparece o moço Nigeriano, colega no jogo de capoeira na
escola de Mestre Bimba, comprometendo-se levá-lo para conhecer uma casa de
candomblé em dia de festa consagrada a um santo.
O candomblé de Mãe Pretinha fica no Garcia, Ogum é o dono do
terreiro, vai ser homenageado na festa marcada para esse domingo. O salão
enfeita-se de bandeirolas, atabaques chamam os orixás para descer nos cavalos,
os filhos e filhas do santo. Não demora, entre vozes e risos, fica sabendo que
o candomblé é constituído de preceitos como respeito e obediência à hierarquia.
Sob o enleio de vozes orantes, com música e sons de tambor trazidos de África,
o coração emerge no ritmo feito de contritos cantares.
E, quando termina a festa, permanecem dentro do peito os saberes
abençoados do povo do candomblé, como estes: se for de paz, pode
chegar, venha pra cá, vamos conversar com os orixás, que de longe
vêm, de lá, bem de lá, sem nunca cansar, vamos agradecer a paz de Oxalá, vamos
cantar, vamos dançar, vamos rodar, no transe vamos cair, nos ligar a cada santo
no seu galopar, com fervor promessa fazer, obrigação pagar, vamos comer, comida
boa, beber aluá, conhecer de África coisas, caminhos, fonte doce, flores, da
cachoeira perfumes, cachos de cores, quem é do axé, nesse batuque, nesse cachimbo,
nesse cafuné, da terra, água e ar, não nega que é, Ogum ê, nosso pai, santo
guerreiro, deus do candomblé, abre caminhos, vence demanda, quando pisa na
pedra, o mundo balança, pra lá, pra cá, fica torto, pra endireitar Jesus é
preciso chamar, com pai Ogum ninguém pode, só Deus, eterno criador de tudo que
há, saravá ê, saravá…
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