A Zanga e o Sorriso de
Papai Noel
Cyro de Mattos
Barba branca, cabelos
compridos, brilhantes, sedosos. Botas pretas, folgadas, cetim vistoso encarnado
no vermelho.
Sorriso, abraço, ritual
de arminho inocente, peito venturoso em carícia do velhinho bondoso.
Saco enorme de
brinquedos. Véspera de Natal, o shopping com suas ondas de gente, vindo pra cá,
indo pra lá. Escadas rolantes, subindo, descendo.
A cidade inteira em
festa.
Guardador de ternas
surpresas, a criançada em volta.
Foto, sorriso gordo,
magia branca de velho pacífico.
Sorria, meu bom velhinho,
sorria.
O que está acontecendo?
Nada de sorrir. Cansado
do mesmo gesto, todos os anos.
Alegria para os outros,
para ele não, nada de prometerem um presente para fazê-lo sorrir.
Aprisionado o célebre
sorriso, rô, rô, rô...
Sem dar o abraço fraterno,
aquecer o pequeno coração.
Rosto abraçado ao rancor.
Uma criança teve medo.
Outra chorou. Teve uma que fugiu estabanada.
Até que uma chegou junto.
Deu-lhe um abraço, fervoroso. Um beijo.
Disse:
- Feliz Natal, Papai
Noel!
Comovido. Olhos azuis
aguados.
Como num berço quente.
Abraçou uma a uma.
Tirou fotos, sorriso
sereno.
Rô, rô, rô...
O Natal com cheiro de
estábulo.
Retomado nos ares
cativantes.
Sorridentes.
Festivos.
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