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domingo, 18 de dezembro de 2022

 

                            Emmo Duarte e Seu Porto de Esperança

                                       

                                        Cyro de Mattos

 

Nas antologias Itabuna, Chão de Minhas Raízes, Editora Oficina do Livro, Salvador, 1966, e Ilhéus de Poetas e Prosadores, Edição da Fundação Cultural da Bahia, Coleção Letras da Bahia, Salvador, 1998, incluí os trechos Uma Progressista Cidade e Doutor Corumbá, extraídos do romance Porto de Esperança, de Emmo Duarte. Ambas as antologias têm meu prefácio, notas e seleção de texto. Como o poeta Sosígenes Costa, Emmo Duarte nasceu na cidade de Belmonte, Sul da Bahia, vindo ao mundo em 30 de outubro de 1920. 

Passou sua infância em Ilhéus, foi homem de imprensa com trânsito por Salvador, Maceió, Recife e Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro onde também exerceu a advocacia.  Traduziu ensaios sobre Graham Greene, William Faulkner e o romance Os Donos do Orvalho, do haitiano Jacques Romain, um belo livro de ficção engajada, de fundo telúrico, sem distorções entre o estético e o realismo da vida como ela é, com suas verdades reveladas através de notas pungentes, cruas pinceladas da realidade exterior, tocada pelos quadros formados entre opressores e oprimidos, estes como personagens relegados ao sabor da sorte enquanto seres excluídos pela dura lei da vida.

Em Porto de Esperança, o belmontino Emmo Duarte mostra em passagens irreverentes a alma lírica da cidade de Ilhéus, conta as histórias inspiradas pelo seu antigo porto exportador de cacau para o mundo.  Em cenário bem construído, faz desfilar personagens que vivem o cotidiano da cidade, movimentada com seus navios chegando e partindo, as longas conversas nos bares, cafés, casas de mulheres e jornais. 

         O romance Porto de Esperança sugere a ambiência realista retratada nos livros A Comédia Humana, de Willian Saroyan, e Winesburg, Ohio, de Sherwood Anderson, a verdade de cada um expressa por tipos grotescos produzidos nas relações advindas do cotidiano. Focado na realidade exterior, o eixo romanesco do livro desdobra-se sem forçar as cenas marcadas de amargura, fixadas nas frustrações flagradas de uma pequena cidade com suas esperanças que se propagam como sonhos nunca alcançados.

Emmo Duarte deixou inédito o romance O Rei do Cacau e, em andamento, O País de Belmonte.

Adendo: quanto ao poeta Jacinta Passos, recomendo consultar o Portal de Poetas Ibero-Americanos editado por Antônio Miranda, que traz uma síntese biográfica da poeta baiana de Cruz das Almas, acompanhada de um conjunto de poesias, que dão uma imagem suficiente de um poeta com o estro apurado, estilo configurado nos moldes modernistas quando então o conteúdo de seus veros reveste-se de assunto do nosso folclore e do cancioneiro popular.  

                

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