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sexta-feira, 12 de julho de 2013




                             Natureza Viva 

Crônica de Cyro de Mattos



Perguntado ao primeiro homem que pisou na Lua qual foi a primeira impressão que teve, o astronauta norte-americano respondeu que  nada é mais triste do que o lugar onde não existem os sons, tudo ao redor é silêncio. Essa resposta do astronauta Neil Armstrong enseja outra pergunta.  Que seria de nós, os humanos, em nossa condição finita e contraditória, se não existissem os passarinhos soltos no embalo festivo  da natureza? Sem os seus cantos com notas coloridas  e pios apelativos do amor para o acasalamento?  Por extensão vem na mente mais esta questão: o que seria de tudo sem a presença dos bichos, os nossos parceiros?
Admiro o canto mavioso do sabiá. Na receita dada pela natureza quando se quer algo para sonhar é só ouvir o sabiá.  O curió não faz por menos, trata-se de outro músico divino. Quando alguém estiver só e não quiser morrer de solidão, é também aconselhável que procure ouvir o curió. É assim a vida do ar, a de sonhar e encantar.
Um passarinho que me deixa alegre quando ouço é o bem-te-vi. Pousado na antena de televisão sobre o telhado, todos os dias ele avisa que a manhã está chegando  luminosa em sua carruagem de ouro. É bonito mesmo de ver a manhã nessa hora cheia de luz. Se eu estou no quintal, o bem-te-vi diz que está me vendo no jardim, colhendo rosas para o meu bem-querer. Aprendo com ele que na natureza nem sempre vence o mais forte. O gavião é bicho temido, mas, quando passa perto de um ninho de bem-te-vi, arrepende-se do que fez.  O corajoso bem-te-vi afasta o terrível agressor dali de perto, sai bicando a cabeça dele e, no voo ziguezagueante, bota o maior para correr.
 O grilo retira de sua serrilha sons finíssimos. Está sempre a repetir que é um guardinha feliz no seu cri-cri constante, no campo ou cidade, verão ou inverno, em noite enluarada ou de escuridão. Já o gafanhoto tem um tambor que sob as asas esconde. Animado, bate nele com fervor e tira sons interessantes. Tenho certeza que no reino animal ninguém vai conseguir saber como é que o gafanhoto tira aqueles sons cada vez mais vibrantes de suas asas trepidantes.
Cada bicho tem suas artes e artimanhas. Apresenta-se no espetáculo da natureza com as suas anotações da vida.  Graça, cheiro, alegria, coragem, utilidade, amor, medo, sabedoria. A lontra, por exemplo, pelos caminhos d’água, no vaivém escorregadio, abocanha cada peixe.  Mas, se está em perigo, ela dribla o caçador e mergulha rápida no rio. Boba ela não é,  nunca quis  perder o pelo de luxo desde que no mundo surgiu.  Certa vez, minha  avó Ana  contou que ela não se separa  de seu casaco  desde o tempo em que os bichos falavam. A lontra, quando se vê salva da perseguição do caçador, lá adiante numa pedra,  vai tomar seu  banho de sol na ilha que descobriu.
               Gente no campo já viu a chuva grossa tocar piano na mata com o chão coberto de folhas. Quando molha o pasto seco, a chuva deixa no ar aquele cheiro cheiroso de terra molhada. Daí a poucas semanas,  o capim ressurge alegre e viçoso. E as formigas, sob o sol brilhante, seguem na trilha como trabalhadoras incansáveis, mostrando como a vida é querida por todas elas, de folhinha em folhinha.
         Agora uma cena que não gosto de ver é quando encontro sem querer o homem sem dó, que gosta de prender o passarinho na gaiola. Lá dentro era ele, o dono, que deveria permanecer para saber como passa a vida feita sem graça. Os bichos são necessários ao convívio dos seres humanos em nosso planeta, ontem como hoje. Cada  um no seu canto, em perfeito entendimento, não preciso mais dizer.

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