Peripécia de Jorge Amado
Cyro de Mattos
Eu te louvo pelos oprimidos
nos subterrâneos da liberdade,
teu pulso erguido com amor
fale da seiva de servos,
calo sem orvalho na trama
do ouro vegetal com rifle na
curva.
Teu verde galope sem sono,
na seara vermelha tua face
carregando sede e fome,
o olho do sol crepitando
céu de fogo na aurora,
fósforo aceso no crepúsculo.
Teu riso leonino fendido
com os capitães da areia,
esse trauma de ladeiras
e ruas do mundo sem teto
manchado na hora da ciranda.
Numa tenda dos milagres
toda a Bahia mestiça cabendo,
no sumiço de uma santa
a arte incrível de um
feiticeiro.
Eu te louvo no peito lírico,
a garra de Teresa Batista,
fome de Dona Flor, agreste
Tieta,
rosa de Gabriela, cravo de
Nacib.
Quem te fez pastor da noite,
Vasco Moscoso, flor do povo,
Pedro Bala, amado guerreiro,
boêmio, malandro, meretriz,
violeiro,
guardador de chaves africanas,
verdade absoluta em Pedro
Arcanjo,
duas mortes de Quincas Berro
Dágua,
gargalhada da Bahia ao
infinito?
Ó meu capitão de longo curso,
para te louvar com aplausos,
risos grandes e muitos
vivas,
tua cidade de mares e santos
amanhece repetida de foguetes,
de estrelas e atabaques
anoitece,
nos terreiros orixás estão
descendo.
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