O
Profeta
Cyro
de Mattos
Os pássaros cantavam nas árvores frondosas,
macacos faziam acrobacias costumeiras nos galhos, soltavam gritos de alegria
quando achavam as árvores carregadas de frutas maduras.
Com a voz pausada, cabelos sedosos enrolados
pelos ombros, barba até o peito, apoiado no cajado velho, disse sem hesitar:
- Vamos transformar daqui pra frente em uma
realidade justa o que até agora existiu fora da rota certa entre vocês nas
glebas de terra das quais vocês são os posseiros. Haveremos de ter por aqui
nestas vastas léguas um lugar em que a preocupação de uns com os outros é de
fazer o bem de todos, produzir a felicidade coletiva. Liberdade, ordem,
trabalho. Organização na produção, sem propriedade privada, nem dinheiro,
ambição pelo ouro e a prata. Um lugar onde cultivemos nossas crenças religiosas
sem imposições de que uma é melhor e mais verdadeira do que outra. Um lugar de
paz, sem males e ambições.
Com essas palavras, que saíram sob a inspiração
daquele que em vida foi o seu pai, uma criatura de voz mansa, que pregava a
liberdade como o sentimento mais valoroso
e o amor como o mais forte, estava nascendo um lugar com bases no
bem-estar de todos cuja magia ninguém sabia. A ideia foi aceita por um grupo
que ouviu atento aquela decisão surpreendente para mudar o que existia entre
eles nas relações cotidianas. Os velhos concordaram com ele. Os que ficaram
indecisos, os mais jovens, quiseram mais explicação, não desejavam trocar o
certo da vida onde trabalhavam a terra com o intuito de ficarem ricos, pisavam
caminhos conhecidos onde pretendiam criar a família, por uma realidade da qual
não faziam ideia, não sabiam se seriam beneficiados com esse lugar fundado em
bases da união coletiva inspirada no amor, entre os que iriam conviver sem
ambições e desejos egoísticos. Podia dar errado a mudança para novos movimentos
e rumos. Ele intercedeu, afirmando que, entre poder e não poder executar um\a
tarefa, que pode parecer impossível, tudo se realiza quando há a razão e a boa
vontade.
Acrescentou o que ouviu do pai certa vez: “Deus
quando quer e o homem sonha, a obra nasce’’.
O lugarejo tinha muita ave canora e assim ficou
sendo chamado de Cantapássaro. Como as terras eram férteis e se estendiam por
um vale extenso coberto de grama seria o lugar ideal escolhido para que vivessem
na paz, onde as gentes de qualquer origem iriam habitar sem os males das
disputas pessoais, que geram as guerras e as perdas irrecuperáveis na memória
dolorida.
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